Obrigada. “Amo-te Jesus!” são estas as últimas palavras do Papa Emérito Bento XVI, que partiu para a Casa do Pai no dia 31 de Dezembro de 2022.
Li um comentário que gostaria de repetir sobre este Papa, sobre um dos maiores pensadores da Igreja de todos os tempos: “É irremediável aquilo que perdemos hoje. Não vale a pena dizer mais nada: para quem sabe, nenhuma palavra é necessária; para quem não sabe, nunca nenhuma palavra será bastante. Obrigado Benedictus.”
Este desabafo de alma foi escrito por um antigo aluno. Um daqueles miúdos que corriam para todo o lado sempre felizes, rebeldes à procura de mais qualquer coisa. Julgo que este miúdo encontrou aquela qualquer coisa, que o fazia correr desenfreadamente, no dia em que o Papa Bento XVI esteve em Fátima, em 2010. Entre o desassossego das tendas, das câmaras de TV, dos jogos, do pic-nic e dos cânticos, o Miguel correu mais que todos para ver o Papa Bento e voltou fascinado pela delicadeza que emanava, rendido ao olhar doce do Sumo-pontífice.
“Para quem sabe nenhuma palavra é necessária”, basta o olhar, a ternura que perpassa pelo “espelho da alma”. A verdade sente-se, é sedutora, cativa e transforma quem a procura.
Poderia dizer que Bento XVI foi, sem dúvida nenhuma, o grande teólogo, o extraordinário mestre de catequese, o intelectual de renome, considerado e respeitado por muitos, mesmo pelos que não têm Fé, mas que sabem os jovens de Encíclicas ou Tratados Teológicos?
Os jovens reconhecem a pureza do coração, por mais duras que possam parecer as diretrizes, por mais estreitas que possam parecer as balizas. Sabem que o caminho mais fácil nem sempre é o melhor sabem que não é o que os leva mais longe, intuem que não é um caminho com horizonte de Eternidade.
No olhar do Papa Bento o Miguel descobriu a pureza do verdadeiro Amor a Jesus e deixou-se seduzir pela Beleza que é viver em Igreja. Fico feliz pela gratidão que manifesta pela vida do Papa Bento e pelo espelho de beleza que a sua vida passou a refletir.
Quantos, como Miguel, se deixaram seduzir pela gentileza exigente de Joseph Aloisius Ratzinger? … Mais do que supúnhamos! O próprio Vaticano apontava números de afluência muito baixos para as suas exéquias, que foram rapidamente ultrapassados o que mostra a influência deste Papa nos corações.
Pela primeira vez em muitos séculos um Papa abdicou do pontificado, mas não fugiu à missão que lhe foi confiada. Bento XVI passou a ser o Papa do silêncio, o Papa da oração, um pouco como São José, de quem não se conhece nenhuma palavra mas que todos reconhecem como o garante da segurança de Jesus.
No silêncio, na oração, na discrição, este Papa cuidou da alma deste mundo tão necessitado de pessoas de paz… foi o nosso garante em oração. Por isso tantos acorrem ao seu leito de morte para lhe prestar uma última homenagem, para, num relance de olhar, lhe agradecerem por não ter tido medo de humildemente reconhecer a sua incapacidade de conduzir, em plena dignidade, os caminhos da Igreja.
Como professor foi feliz, como Papa foi obediente ao que acreditava. Os seus estudos e escritos estão cheios de novidade, embora seja apelidado de conservador. Foi o primeiro Papa a dizer que os papas também se enganam, se isto não é ser-se progressista?!
Ler qualquer texto do Papa Bento XVI é reconhecer uma mente brilhante e simples, capaz de chegar ao entendimento de todos, como só raros conseguem fazer. Criticá-lo sem passar os olhos pelos seus tratados, é apanágio de quem nunca mergulhou num único texto seu, porque quem o lê fica rendido à sabedoria de vida que nos quer comunicar. Vale a pena ler as suas encíclicas… vale a pena!
No seu Testamento Espiritual, com a data de 29 de Agosto de 2006, podemos reconhecer a grandeza da sua forma de pensar e agir: “Agradeço antes de tudo ao próprio Deus, o dispensador de todo o bom dom, que me doou a vida e me guiou através de vários momentos de confusão…”. No seu testamento encontramos, sobretudo, gratidão, um pedido de perdão por erros que tenha cometido e o desejo insistente a sermos firmes na fé. “Por fim, peço humildemente: rezem por mim”.
Gratidão, perdão, oração… Que complexa simplicidade de vida!
Obrigada Benedictus.