“A ansiedade antecipa um mal futuro que é tido, muitas vezes, como incontrolável”. Diogo Rendeiro Santos fala sobre ansiedade à TejoMag

Começo por lhe fazer a pergunta: o que é ansiedade?

Podemos definir a ansiedade como um sentimento, por vezes vago, de inquietação que se refere à antecipação de uma ameaça que vem do futuro. Enquanto o medo se refere a uma ameaça do presente, percebida no momento, como por exemplo, um tigre à nossa frente, a ansiedade antecipa um mal futuro que é tido, muitas vezes, como incontrolável e que, a acontecer, teria consequências desastrosas para o sujeito. Associadas a ela, podemos apontar características fisiológicas – aumento do batimento cardíaco, da sudação, dilatação das pupilas – e psicológicas – falta de concentração, dificuldade em manter a atenção, desregulação do sistema digestivo.

Como podemos prevenir a ansiedade?

Para compreendermos melhor como prevenir a ansiedade temos de ver as suas diferentes dimensões. Uma dimensão da ansiedade é biológica, porque hoje vivemos de uma forma muito pouco natural. Vivemos muito estimulados, muito acelerados, não temos tempo para nada, estamos malnutridos.  Por exemplo, pode faltar-nos algum nutriente que seja importante nos mecanismos cerebrais que regulam a ansiedade – a vitamina B6 ou o Magnésio). Para prevenir a ansiedade cuidemos da parte biológica primeiro: ter uma alimentação equilibrada, fazer exercício físico, cuidar do descanso, desacelerar o ritmo do dia-a-dia.

Outra dimensão muito importante é o lado psicológico, onde concorrem ideias filosóficas que permeiam os nossos dias, das quais destacaria o relativismo e o hedonismo.

Com o relativismo tendemos a pensar que “cada cabeça, sua sentença” e que aquilo que pensamos é a verdade sobre as nossas vidas. Isto torna-nos reféns dos nossos próprios pensamentos, alimentando a ansiedade. Em relação ao hedonismo sabemos como hoje somos convidados a pensar muito no nosso bem-estar e lidamos mal com tudo o que provoca sofrimento, ou seja, o que é desagradável. Por isso, caímos na armadilha do conforto, que vai alimentar a ansiedade.

Não levemos tão seriamente os nossos pensamentos, que são meros acontecimentos mentais. Há um mundo lá fora, para além do que está na nossa cabeça.

Como podemos prevenir e como podemos ajudar alguém que sofre de ansiedade, seja na nossa família, no nosso círculo de amigos ou na nossa comunidade?

Já se tornou senso comum afirmar que depois da pandemia estes problemas aumentaram bastante e isso tem que ver com a nossa perceção de solidão, da ausência de uma rede de apoio. Cuidemos daqueles que estão próximos de nós, dos nossos amigos. E, se percebermos que estão a demonstrar algum sintoma de ansiedade, não desvalorizemos isso, porque a ansiedade causa sofrimento, pode ser disfuncional, ainda que aparentemente não nos pareça.

Não desvalorizar os estados ansiosos é crucial. Incentivemos a pessoa a procurar ajuda de um profissional de saúde mental e, desta forma, procuramos também deitar por terra aquele estigma de que “quem procura ajuda dos serviços de saúde mental são os malucos”.

Portugal é o 5.º país da União Europeia onde mais pessoas sofrem de ansiedade, segundo estudo da OCDE. Quais as razões que podem explicar este fenómeno?

Não posso corroborar cientificamente esta minha visão, mas diria que Portugal, como país ocidental, “bebe” do clima filosófico de que falei há pouco e, além disso, neste momento da História, não somos um povo que encare os desafios futuros com otimismo. Somos pessimistas e temos poucas perspetivas de futuro quando, noutros momentos do passado, fomos totalmente o oposto. Por outro lado, também contribui o difícil acesso a cuidados de saúde mental.

Que políticas públicas propõe para prevenir a ansiedade?

É um tema complexo e que ultrapassa o âmbito de atuação do decisor político. Ainda assim, sugiro melhorar o acesso aos cuidados de saúde mental, aumentar o número de psicólogos disponíveis nos centros de saúde e nas escolas; alargar a comparticipação dos seguradores aos serviços de psicologia e psiquiatria. Estas medidas já seriam uma importante ajuda para reduzir a incidência da ansiedade em Portugal.

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