Em Portugal, os movimentos nacionalistas, à exceção do Chega — mais associado ao populismo —, apoiam a causa palestiniana. Um exemplo é o grupo Força Nova, também conhecido no Telegram como Nativos.pt. Este movimento, liderado por ex-membros da Nova Ordem Social de Mário Machado, apoia tanto as ações do Hamas, como do Hezbollah, uma organização política e paramilitar libanesa.
No dia 12 de maio de 2021, o partido italiano que deu origem à filial portuguesa reafirmou a sua “proximidade histórica com aqueles que lutam pela liberdade e contra a ocupação na embaixada da Autoridade Palestiniana em Roma”. “Com o povo palestiniano até à vitória! Para o Inferno com os antifascistas e a esquerda, e todos aqueles que reconhecem a legitimidade do Estado sionista imposto pelas potências internacionais e globalistas”, escreveram na rede social russa VK. No que diz respeito à causa palestiniana, as posições dos nacionalistas coincidem com as dos seus adversários políticos.
“Nem Islão, nem Sião”, ouve-se nos corredores do quartel-general do movimento. Segundo foi possível apurar, a Força Nova acredita que há muita “desinformação” sobre o conflito e questiona a culpabilidade das Brigadas Al-Qassam no ataque de 7 de outubro. No entanto, uma fonte próxima da Força Nova garantiu à TejoMag que a opinião no seio nacionalista está longe de ser consensual. Persiste o antissemitismo de um lado, enquanto do outro vinga a islamofobia. Segundo o Força Nova, Israel trabalha “para inundar a Europa com migrantes árabes e africanos”.
A perspetiva do Partido Ergue-te alinha-se com a de outros movimentos nacionalistas. Segundo uma publicação do dia 19 de Julho de 2014, o partido, liderado por José Pinto Coelho, defende que a “política de Israel e dos EUA no Médio Oriente é responsável pelo crescimento da violência naquela região do globo, bem como pelos efeitos colaterais que se manifestam através dos atentados na nossa Europa”. “Longe do maniqueísmo básico, procuraremos estar sempre do lado da justiça, criticando os excessos de ambas as partes e combatendo todas as formas de imperialismo ou limpezas étnicas’, escreveram. Esta posição une todas as facções, pois ambos os lados do conflito são vistos como duas faces da mesma moeda.
“Não é uma coisa de esquerda”
O Movimento Armilar Lusitano, conhecido pela divulgação de documentos secretos da Marinha em 2020 e repleto de conspiracionistas, acredita que Israel planeou o ataque do Hamas com o objetivo de unir os diversos setores descontentes da sociedade. Esta hipótese ecoa as teorias da conspiração sobre o 11 de setembro e é difundida como um facto. Segundo foi possível apurar, o M.A.L defende que as autoridades israelitas “permitiram o ataque para terem um pretexto e justificação para uma guerra santa”. Em contrapartida, defendem que os “países árabes devem assumir as suas responsabilidades e intervir imediatamente para deter a arrogância da ocupação sionista e do seu exército fascista”. Segundo a antiga liderança do M.A.L, ouvida pela TejoMag, “o problema é deles”. “A Europa não tem de se intrometer em tudo”, rematou.
De acordo com o canal de Telegram Sentinela, a questão palestiniana não é uma “coisa da esquerda”. O grupo, liderado por Ricardo Marques, ex-membro do Partido Nacional Renovador (agora Ergue-te), afirma que “os sionistas são a origem de todos os problemas mundiais”. No dia 27 de julho deste ano, o canal publicou uma mensagem que dizia: “no dia em que nos livrarmos de todos os sionistas, será o dia em que o mundo poderá viver em paz e harmonia”.
Inimigo do meu inimigo, meu amigo é
Apesar destas posições de apoio vincadas, a esquerda progressista obrigou os nacionalistas a repensar a sua estratégia, optando por uma análise caso a caso e sondando as suas bases. A aliança entre nacional-socialistas e o mundo árabe não é recente. A análise do registo oficial do encontro entre Hitler e o Grande Mufti de Jerusalém, Haj Amin al-Husseini, em 1941, revela uma simpatia e admiração mútuas. De acordo com um artigo do jornal The Times of Israel, ambos eram “aliados naturais”, partilhando os mesmos inimigos: os ingleses, os judeus e os comunistas.
Husseini defendeu a formação de uma frente unida para assegurar a vitória alemã e a independência da Palestina, Síria e Iraque. Tal como em 1941, o conflito surge num momento de instabilidade no Leste da Europa. Se antes a Alemanha lutava pela conquista da Rússia, agora é a Rússia que luta pela Ucrânia e pela consolidação do seu poder regional.
Embora a maioria dos nacionalistas portugueses se alinhem com a Ucrânia, a sua posição em relação ao conflito no Médio Oriente assemelha-se mais à da Federação Russa. Em vários grupos russos de Telegram, como o IntelSlava, o RussianHead ou The Right People Z, a narrativa predominante é pró-Hamas ou, no mínimo, anti-Israel.