Com o mote da sustentabilidade ambiental, 12 participantes entre os 18 e os 60 anos partiram a 18 de setembro, de Cascais, numa viagem de dez dias pelos municípios de Famalicão, Faro, Gouveia, Odemira, Portimão e Viana do Castelo. A “Viagem pelo Clima” teve como objetivo levar as três equipas Água, Ar e Terra a fazer o percurso – que terminou a 27 de setembro no ponto de partida – de forma mais sustentável possível.
Compostas por quatro elementos cada, as equipas iniciaram a viagem com um orçamento em “climas”, uma moeda virtual. O grupo que conseguir preservar o maior número de “climas” será o vencedor da competição e terá a oportunidade de integrar a comitiva portuguesa na Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, a COP 28, com início a 30 de novembro deste ano.
A moeda fictícia tem o propósito de controlar a gestão de recursos e avaliar os resultados. Os gastos com emissões de CO2, o tempo, o consumo de água e o dinheiro são contabilizados na aplicação de telemóvel que cada equipa possuí. Para a contagem final de “climas”, contam também os vários desafios de mobilidade, energia, água, economia circular, florestas, uso do solo e turismo sustentável, realizados ao longo do percurso.
“Não temos uma rede de comboio que chegue a todo o território”
Com itinerários diferentes, os participantes passaram por Famalicão, Faro, Gouveia, Portimão, Odemira e Viana do Castelo. Cada equipa ficou com a total liberdade para escolher o meio de transporte utilizado e o tipo de alimentação. Na equipa Ar, Francisco Paupério, de 28 anos, diz que a estratégia inicial foi optar pela alimentação vegan “porque tem menos custo para o planeta”. Mas ao longo da viagem a equipa apercebeu-se que é possível poupar mais “climas” com a ajuda dos comerciantes, donos de restaurantes e cafés, recorrendo a sobras ao invés de comprar comida vegan, mesmo que esta tenha menor impacto ambiental.
Ao contrário do que pensavam, “há mais desperdício alimentar nas cidades do que nas vilas”, refere Francisco. As localidades mais pequenas “têm um aproveitamento quase de 100% da alimentação”. “Têm poucos restos, fazem a comida de forma mais contada e regrada e usam muito os restos para alimentar os animais ou nos campos”, diz.
Relativamente aos transportes, as três equipas começaram por dar primazia ao comboio por ser o meio de transporte menos poluente. Mas ao longo do percurso, viajar de comboio nem sempre foi uma tarefa fácil: “É cansativo andar de transportes, por termos de trocar muito de uns para outros. Ainda não temos uma rede de comboio que chegue a todo o território. Temos de fazer transbordo do comboio para o autocarro”. “Saímos de Faro às 7 da manhã e chegámos à meia-noite a Gouveia. Num território pequeno como Portugal isto leva-nos a questionar como estão a ser feitas as políticas de transporte público”, sublinha o jovem biólogo.
Diogo Mendes, da equipa Terra, confessa também ter começado por utilizar o comboio por ter “menos emissões que o autocarro”, mas chegaram à conclusão de que a “diferença é pequena” e os custos da deslocação de autocarro são muito menores que de comboio.
Erosão das margens do rio Lima
A equipa recorreu também a boleias, como foi o caso de Odemira para Portimão, aproveitando as viagens de quem foi ver jogo do Benfica. Diogo e os colegas aproveitaram essa oportunidade para se aproximarem das pessoas e para ouvirem os problemas sobre as alterações climáticas nas suas terras. “Em Viana do Castelo, os agricultores contaram-nos que por causa da erosão das margens do rio Lima, os seus terrenos estão a perder ainda mais área”. Para tentar colmatar a situação têm tentado manter uma diversidade de espécies que permitam manter as margens. “O choque serve para ajudar a mobilizar as pessoas. É triste que tenha de acontecer alguma coisa assim para as mobilizar”, conclui Diogo Mendes, engenheiro de formação.
Na equipa Água, a preparação para a viagem envolveu estudo por parte dos seus integrantes. Luís, de 61 anos, o participante mais velho em competição, dedicou muito tempo na preparação do percurso. Ligado à formação dos controladores aéreos e à Marinha, sempre demonstrou interesse e preocupação relativamente ao meio ambiente. Rafaela Melo, de 27 anos, realça os benefícios do contacto com a população dos vários municípios. “As pessoas não pensam em qualquer escolha que tomam, como nós, mas mantêm alguns hábitos. Às vezes só falta lá por a semente e conseguem encontrar soluções”.
A iniciativa é do Cooler World, um movimento rumo à neutralidade carbónica criado pela Get2C, uma consultora especializada em alterações climáticas, em parceria com a Câmara Municipal de Cascais e o apoio do Fundo Ambiental, para mobilizar a sociedade portuguesa para a urgente transição climática.