A sede da JMJ, o Comité Organizador Local (COL), fica em Lisboa e conta com cerca de 700 voluntários ao todo, sendo que 48 deles não são portugueses.
Existem voluntários de curta e de longa duração, de mais de 15 nacionalidades, que deixaram o seu país por tempo limitado para ajudar na organização do evento criado pelo Papa São João Paulo II e que acontece desde 1986.
É a primeira vez que Portugal recebe uma JMJ e o evento já está a ser preparado intensivamente há, pelo menos, um ano.
Os voluntários que estão em Lisboa escolheram viver durante alguns meses num país novo e desconhecido e, para perceber o que os motiva a participar neste evento em específico, interessa começar a falar do passado.
Mateus Lino é um jovem brasileiro de 23 anos que é voluntário na secção de acreditação de jornalistas e de relações com os media.
Conta que a motivação para se tornar voluntário da JMJ e vir para Portugal foi o facto de ter vivido a Jornada no seu país, no Rio de Janeiro. “Eu tinha 12 anos quando aconteceu a JMJ do Rio, em 2013, e não pude participar. Mas vivi a pré-jornada na minha diocese e foi incrível, porque tivemos a celebração da passagem dos Símbolos da JMJ. Acendeu-se no meu coração uma vontade de participar na JMJ e, quando alcancei a maioridade, em 2019, fui à JMJ do Panamá que acabou por ser uma das melhores viagens da minha vida”.
Mateus fala sobre a oportunidade que teve ao fazer uma leitura na missa de envio e como aquele momento mudou o curso da sua vida.
Mateus Lino à direita com os seus colegas. / Direitos reservados.
“Li para mais de um milhão de pessoas e para o Papa. Foi um momento muito especial. Naquela altura, havia muita gente de vários países e vi lá um português. Naquele local, às cinco da manhã, descobri que a próxima Jornada seria em Portugal. Ao conversar com ele vi a expectativa que tinham em relação à JMJ de Lisboa e foi nessa altura que pensei que precisava mesmo de viver a próxima Jornada. O idioma não seria uma barreira e ficou logo decidido que viria. Arranjei uma desculpa para vir para Portugal, vim fazer uma pós-graduação e, logo de seguida, comecei a trabalhar no COL como voluntário na secção de relação com os Media e com a Imprensa”.
Para Mateus Lino, a adaptação não foi assim tão difícil pela semelhança das duas culturas, a brasileira e a portuguesa. No entanto, diz que onde sentiu mais diferença foi na gastronomia.
Marisol Garcia tem 27 anos e é mexicana. Tornou-se voluntária do Contact Center há cerca de quatro meses e embarcou no desafio de ser voluntária da JMJ Lisboa 2023 pela experiência positiva que teve na única Jornada a que já foi, a de Cracóvia, em 2016.
“O que me marcou mais foi a experiência de ir sozinha. Não fui com nenhum grupo mas acabei por ser acolhida por pessoas que vinham de Porto Rico. Foi bom experimentar a misericórdia quando me sentia sozinha, um pouco perdida e muito vulnerável e chegar a um grupo daqueles com quem pude compartilhar tanto”.
“Depois da JMJ de 2016, voltei para o México com um compromisso maior para com a igreja e, nisso, descobri como quero ser chamada a participar nela, na vida pessoal e profissional. E a JMJ é o espaço perfeito para abrir horizontes, conhecer outras realidades eclesiais, sentir que faço parte da igreja e que o Senhor me colocou ao serviço. Sinto que todas as peças se encaixaram para que estivesse aqui” e foi com este sentimento que Marisol arrancou em direção a Lisboa, naquilo que disse ser “uma montanha-russa de emoções”.
Esmeralda Sosa tem 25 anos e a sua primeira viagem a Portugal foi em 2021, quando veio estudar para Lisboa. Ficou até janeiro de 2022 e, depois, regressou a casa, ao Panamá. Mas a vida surpreendeu-a e, nove meses depois, em outubro de 2022, voltou para Lisboa para dar início a uma grande missão: ser voluntária da JMJ, na área da Comunicação.
Esmeralda Sosa à direita. / Direitos reservados.
Esta jovem já vivenciou os dois lados de uma JMJ, a de peregrino e a de voluntário. Em 2013 foi peregrina na JMJ do Rio de Janeiro e, em 2019, foi voluntária paroquial durante a JMJ no Panamá em 2019. Esmeralda foi Coordenadora do Comité Organizador Paroquial (COP) da igreja a que pertence. E abraça, agora, o desafio de ser voluntária central, na sede da JMJ de Lisboa.
“Esta frase é muito cliché, mas posso dizer que, se me dissessem que isto ia acontecer, eu não acreditaria. Como já tinha feito tanta coisa, não imaginava que pudesse acontecer mais. Eu sabia que queria fazer voluntariado algures, ao longo da vida… Queria oferecer um tempo da minha vida por uma causa! Foi assim que, a 31 de outubro de 2022, regressei a Portugal para viver a JMJ”.
Duas viagens distintas… o mesmo destino, mas duas experiências diferentes. É como Esmeralda compara as duas situações. “Quando vim estudar tinha tudo muito organizado. Desta vez, sabia que ia ficar com uma família de acolhimento mas não sabia com quem. Foi um processo longo, onde fiz entrevistas, trocas de e-mails e perguntas para saber como tudo funcionaria. Tive o apoio dos meus pais! O meu pai apenas teve receio em relação ao local onde ficaria a dormir… é o normal dos pais. Tive também o apoio dos padres da minha Diocese e dos meus amigos. Lembro-me de todos questionarem o facto de ficar tanto tempo, mas tinha de ser!”
“Portugal precisa de um avivamento”
Três jovens, cada um com a sua experiência, mas todos com desejos semelhantes: o de que a JMJ transforme o coração dos portugueses.
“Acho que Portugal precisa de um avivamento… Deus já chamou os portugueses de diversas formas, mas sabemos que muitas igrejas estão vazias e que os jovens não a frequentam tanto e a veem como algo antigo e velho… Acho que esta JMJ vai mudar isto! Não só em Portugal, como na Europa”, afirma Mateus convictamente e com um certo brilho no olhar.
Acrescenta, ainda, que “os jovens portugueses vão ficar muito felizes. E, por mais que muita gente critique e fale mal, no final vão todos ver o que é a JMJ. No Brasil foi assim! Muitos criticaram, mas, quando o evento acabou, as pessoas foram surpreendidas pela positiva.”
Marisol Garcia. / Direitos reservados.
Estamos a menos de um mês da Jornada Mundial da Juventude e estes jovens começam a perceber que o regresso a casa está mais perto do que achavam. Mas uma coisa é certa, sabem que vão recordar esta JMJ com carinho e com o sentimento de missão cumprida.
“Na semana passada pus-me a escrever o que tenho vivido aqui, o que aconteceu, o que tem corrido bem ou mal e percebi que não podia ser uma experiência mais completa. E acredito que estarei pronta para voltar para casa com a missão cumprida”, conta Marisol com saudade no coração.
Mateus comenta que, quando a JMJ chegar ao fim, vai sentir “um vazio muito grande”. “Desde que cheguei que estou à espera que a Jornada aconteça e construí muitas amizades aqui. Então, acho que a partir do dia 7 de agosto de 2023, vou ficar um pouco triste porque acabou, mas vou estar muito feliz por Portugal ter vivido esta experiência.”
Já Esmeralda Sosa relembra o sentido de missão e entrega, que fez com que decidisse vir para Lisboa: “Definitivamente vou sentir que cumpri a minha missão. Falei com uma amiga no outro dia e disse-lhe que quando chegar e aterrar no Panamá vou sentir que cumpri um objetivo e um propósito de vida.”
“Vai haver sempre um antes e um depois da JMJ”
Após a JMJ ficam recordações de tempos bons. Mas estes jovens avisam que ser voluntário não é um trabalho fácil mas é, sem dúvida, gratificante.
“O maior desafio de ser voluntário é colocar o ego de lado”, confirma Mateus Lino. “Voluntário não tem salário. Tem alimentação, sim… mas acaba por ser um desafio para quem vem do mercado de trabalho entregar-se de coração ao voluntariado. Sabemos que não conseguimos adquirir bens materiais, mas sabemos que o bem que fazemos é muito maior que tudo o resto.”
Marisol Garcia considera que “não faz sentido ter oportunidades tão maravilhosas se depois não as duplicamos e passamos aos outros”. “O evento é tão grande e conforta saber que, os tempos difíceis, não és só tu que os passas… há mais pessoas na mesma situação que tu. E, por um lado, é bonito, porque há empatia.”
“Acredito que vai ser uma experiência marcante, principalmente para a juventude, sejam eles crentes ou não crentes. Vai haver sempre um antes e um depois da JMJ…”.