Descobrir o bairro da Mouraria através de várias culturas

Run Jiang, de origem chinesa, uma das guias do projeto, encontra-se no Largo de São Domingos, o ponto de encontro,  para mais uma visita guiada. Num pequeno dossiê traz pedaços da sua história e do seu país. Como os participantes a quem vai dar visita, – os alunos de português da Fundação Cidade de Lisboa – Run, de 36 anos, também se mudou para Portugal. Apesar do seu português ser exemplar, o passeio pela Mouraria foi em inglês. A sua ligação com o país começou mais cedo, quando partiu da China para a Europa para estudar e conheceu o seu marido, de nacionalidade portuguesa.

Há oito anos a viver em Portugal, faz por manter as tradições da sua cultura no seio da família. Ensina a filha a falar e escrever mandarim e, sempre que pode, cozinha pratos tradicionais chineses. É já habitual em todas as visitas que faz, começar por explicar a bandeira do seu país e recordar a sua terra natal. 

Pelo percurso já traçado e perante uma plateia de diversas idades, desta vez com migrantes vindos das Filipinas, do México, da Tailândia, do Panamá, da Argentina, do Peru, do Irão, da Rússia, do Egipto, da Austrália, da Argélia, do Nepal, da Índia, do Bangladesh e dos Estados Unidos da América, vai recordando o país de origem e fazendo pontes com o património histórico e cultural do bairro da Mouraria.

A igreja de São Domingos foi o primeiro local visitado. Ali começou a purga dos judeus massacrados pela Inquisição, relembrou Run. Daí foram para a Praça do Martim Moniz. No seu dossiê tem uma foto guardada para a ocasião: em posição de meditação, Run, ainda criança, celebra o budismo com um ar sorridente e despreocupado. Mais uma vez, a guia fala de religião, discutindo com os alunos da Fundação Cidade de Lisboa algumas práticas religiosas pertencentes à cultura muçulmana, ligada àquele espaço.

Em frente à Capela de Nossa Senhora da Saúde, Run chama a atenção para os vários dialetos presentes no toldo da Farmácia Mouraria, representativos da variedade cultural do bairro. O Centro Comercial, com grande variedade de lojas, produtos típicos de inúmeros países é um local no qual se integram todas as culturas dos guias ativos do projeto. Pelo menos três guias são do Bangladesh, o que para Carla Costa, coordenadora do Migrantour, é significativo da “dinâmica do território com as suas comunidades asiáticas”. A Mouraria é representativa dessa variedade cultural. “Um dos objetivos da Associação Renovar a Mouraria, criada há 15 anos por um grupo de moradores, é revitalizar o desenvolvimento local. Apesar de ser no centro da cidade, sempre foi um bairro com estigma. Um gueto”, explica. O projeto Migrantour criado em Turim em 2011 e implementado em 2015 em Lisboa, pretende “abrir o bairro, convidar a um lado B do turismo, numa cidade cada vez mais turistificada. É uma tentativa de desterritorializar e, ao mesmo tempo, educar. Criar uma narrativa paralela ao turismo de massa”, prossegue Carla Costa.

O Migrantour “não pretende ser full time, mas sim conciliável com outras atividades profissionais que os guias têm”, conclui. Em Portugal, Run continua com a sua carreira artística, promovendo várias exposições dos seus trabalhos, sendo sempre que possível guia no projeto. 

Como na Mouraria a música não pode faltar, o percurso acabou junto à casa de Severa, numa última celebração da cultura chinesa, com uma canção tradicional.

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