“Devemos lembrar-nos de que estamos do lado certo da História”: a primeira vigília pela Palestina

Sob o olhar vigilante das autoridades, dezenas reuniram-se em frente à Assembleia da República, com velas e bandeiras da Palestina. Entre muitos portugueses encontravam-se também membros da comunidade palestiniana e estrangeiros de várias partes do mundo. Na escadaria fez-se um palco improvisado com um microfone aberto a quem quisesse proferir o seu testemunho ou demonstrar solidariedade. 

As palavras declamadas em angústia pelos presentes transformaram a pequena vigília pelas vítimas palestinianas numa manifestação contra o Estado de Israel e os seus aliados. “Abaixo os sionistas”, gritou Mizé, uma mulher magrinha de meia-idade e cabelo grisalho, cujo protagonismo foi subitamente desvalorizado após criticar também o Hamas e a Autoridade Palestiniana. Segundo ela, o “Hamas trata muito mal os seus cidadãos” e Mahmoud Abbas é negligente para com o seu povo. “Talvez não tenham gostado do que estava a dizer”, ouviu-se alguém sussurrar entre a multidão. Durante o discurso, Mizé frisou que o Hamas foi criado por Israel para assassinar Yasser Arafat e eliminar a Fatah.

Músicas e poemas intercalaram a participação dos oradores. Na sua intervenção, Amro Fatayer, membro da comunidade palestiniana, criticou a União Europeia por apoiar um “genocídio”. “Não estamos nos anos 80; isto está a acontecer agora, na era das câmaras e do HD”, lembrou. Segundo Amro, rezar não é suficiente. “É muito importante que continuemos a realizar estas atividades. Não se habituem a ver pessoas mortas; não se habituem a ver crianças a chorar”, concluiu.

Uma estudante alemã subiu ao palco para lembrar que em países como o seu, algumas autoridades locais impediram manifestações de apoio aos palestinianos por receio de incidentes. No seu discurso, e nos que se seguiram, ficou patente a desconfiança dos manifestantes em relação à comunicação social e ao mundo ocidental em geral. “Israel é um Estado terrorista. A comunicação social ocidental não quer que nós vejamos isso”, insinuou. Segundo a jovem, precisamos, enquanto povo, de “levantar a nossa voz”. “Isto começou no dia 7 de Outubro?”, perguntou. “Não!”, respondeu a multidão em uníssono. “Devemos lembrar-nos de que estamos do lado certo da História”, rematou.

A vigília ocorreu um dia após António Guterres ter exigido um cessar-fogo humanitário e ter afirmado que os ataques do Hamas “não aconteceram do nada”. A ideia foi contestada por Israel, que pediu a demissão do Secretário-Geral da ONU.

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