Em Lisboa, um calor insuportável. O termómetro, fora de estação, marcava uns sofridos 30 e poucos graus. Este sábado os autocarros registavam um acréscimo no seu habitual atraso de fim de semana. Quem esperava, procurava refúgio do sol, mas nem as sombras aliviavam as altas temperaturas de uma Lisboa em aviso amarelo.
Muitos passageiros das carruagens do metro saíram na Alameda. Uma hora depois das 15h já a marcha seguia pela Avenida Almirante Reis rumo ao Rossio. Uma multidão de milhares seguia misturando nas suas fileiras novos e velhos, de diferentes classes sociais. Uns traziam camisas, não abdicando da formalidade a que os ensinaram as suas épocas. Outros conjugavam o seu estilo livremente com vestuário em segunda mão e cabelos soltos.
Em Lisboa transpira-se como nos arrabaldes. De lá vinham muitos. Lá, outrora o último reduto, para onde se remetiam os que não tinham condições para pagar uma casa na cidade. Agora não há solução, não há tetos acessíveis, nem na cidade nem nos arrabaldes. Entre cartazes, cores, música e dança gritavam-se palavras de ordem. Pais com as crianças às cavalitas ou repousadas nos carrinhos paravam nos passeios para cumprimentar amigos.
Raro foi não encontrar uma cara conhecida. A manifestação foi de todos: dos que não têm casa, dos que estão em risco de a perder, dos que têm medo e dos que mesmo tendo o seu cantinho garantido, não suportam a angústia da maioria. Este sábado na Almirante Reis, os manifestantes abrandaram a marcha e cantaram Grândola Vila Morena, erguendo os punhos ao alto.
Lisboa está em aviso amarelo, no centro e nos arrabaldes.