A capital portuguesa já teve retratos melhores. O mais recente, traçado por uma reportagem do jornal El País, mostra que a última década trouxe mudanças significativas para Lisboa. Talvez nem todas tenham sido para melhor. Segundo a imprensa espanhola, o sucesso turístico da cidade está a matá-la.
A começar pelos símbolos. A peça enaltece um dos maiores: os elétricos. Mas, ultimamente, são os Tuk Tuk que dominam as atenções dos turistas. Aliás, são ambos descritos quase ao pormenor.
“Os eléctricos são transportes rígidos, incapazes de se desviarem um milímetro do seu percurso, enquanto que os Tuk Tuk andam a toda velocidade, desrespeitando muitas vezes as regras de trânsito para facilitar uma boa fotografia”. E remata: “Sem perceber, Lisboa entrou no clube das cidades carismáticas que só fazem felizes os visitantes.”
Segundo um testemunho recolhido pelo El País, até os turistas já estão mais desanimados, porque notam diferenças a cada regresso à capital portuguesa. Os bairros históricos estão transformados em lugares onde, hoje, chegam a conviver mais de 50 nacionalidades. Além disso, os lugares mais típicos (de comércio ou cultura) estão a desaparecer.
Lisboa: Bom vs Mau. Mais vs. Menos
A freguesia de Santa Maria Maior tem alguns dos lugares favoritos dos investidores imobiliários e empreendedores turísticos. O jornal descreve a Lisboa cool das roupas penduradas, azulejos e fachadas coloridas. Mas a mesma que, em primeiro lugar, perdeu 30% da população na última década e depois a mesma onde mais de metade das casas são apartamentos turísticos.
E nunca houve tantos turistas: 30 milhões em 2023, com receitas estimadas em mais de 25 mil milhões de euros.
“Se o ritmo de expulsão dos locais não parar, dentro de alguns anos os turistas só se verão uns aos outros quando subirem Alfama”, escreve Tereixa Constenla, a autora da reportagem.
Ao El País, o Presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior relata que as populações que residiam foram obrigadas a sair por causa da crise económica, em parte durante o mandato do Governo liderado por Passos Coelho. A lei Cristas, que permitiu despejos de inquilinos mais antigos, também vem à tona como uma das causas do atual problema da cidade. No entanto, as normas travão que limitaram os negócios de alojamento local também são mencionadas, embora estejam a ser revertidas pelo atual executivo.
Por fim, com o tempo, perderam-se espaços, negócios históricos e várias referências da Lisboa antiga que só alguns conheceram. Assim, muitos foram obrigados a deslocar-se para a periferia. “O vintage está em alta como decoração para turistas. O tradicional está deslocado”, refere o jornal.