Em 1963, Randy Gardner, um jovem de 17 anos, permaneceu acordado durante 11 dias e 25 minutos por ‘culpa’ de um projeto escolar, estabelecendo assim um novo recorde mundial. Embora outras pessoas tenham tentado superar esse feito desde então, ninguém conseguiu. Num dado momento, o Guinness World Records deixou de aceitar novas candidaturas relacionadas à privação de sono devido aos perigos associados.
Mas quais são esses perigos? O que acontece com as pessoas que enfrentam uma privação de sono prolongada? A falta de sono pode aumentar o risco de diversos problemas de saúde, como diabetes, doenças cardíacas, obesidade e depressão, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Em geral, os seres humanos necessitam de seis a oito horas de sono consistente a cada 24 horas. No entanto, muitas pessoas, especialmente estudantes, ocasionalmente passam a noite em branco.
Doença rara do sono mata em 18 meses
Nesta fase de privação de sono, pode ser difícil distinguir entre o sono e a vigília, alerta o Dr. Oren Cohen, especialista em medicina do sono no Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque. Quando alguém fica acordado durante 24 horas, a atividade cerebral já indica sinais de estar na fronteira entre o sono e a vigília, mesmo que pareça acordado, uma condição chamada de “intrusão do sono” ou “micro-sono.”
Pessoas que passam muitas horas acordadas podem parecer acordadas, mas o cérebro entra involuntariamente em períodos anormais de sono, que podem incluir breves lapsos de atenção ou alucinações. A privação de sono prolongada é difícil de estudar, pois é considerada eticamente inaceitável em seres humanos e já foi usada como forma de tortura psicológica.
No entanto, existem dados sobre pessoas com uma doença rara hereditária chamada insónia familiar fatal (FFI). Estes doentes têm uma mutação genética que causa a acumulação de uma proteína anormal no cérebro e que deteriora a qualidade do sono. Como tal, os corpos começam a deteriorar-se e acabam mesmo por morrer à medida que a proteína anormal danifica as células cerebrais. Essa doença mata a maioria dos afetados no prazo médio de 18 meses.
O que dizem os estudos?
Um estudo com ratos, em 1989, chegou à conclusão que só podiam ficar sem dormir entre 11 e 32 dias. Mais do que isso foi fatal.Um estudo de 2000 concluiu que ficar acordado por 24 horas tinha efeitos semelhantes ao de um teor de álcool no sangue de 0,1%. Os efeitos da privação de sono por 24 horas incluíam redução do tempo de reação, fala arrastada, dificuldades na tomada de decisões, diminuição da memória e atenção, irritabilidade, problemas de visão, audição, coordenação mão-olho e tremores.
Em 2019, um estudo com humanos publicado na Nature and Science of Sleep, descobriu que o estado de alerta e a vigilância dos participantes eram relativamente normais até 16 horas após a privação de sono. Porém, após isso, as falhas de concentração aumentaram significativamente.