O papel da alimentação e do exercício físico na saúde mental

A Organização Mundial da Saúde define “saúde” como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. A definição é clara e demonstrativa de que a saúde mental – negligenciada durante muito tempo – desempenha um papel fundamental neste bem-estar geral. De acordo com esta organização, uma em cada quatro pessoas sofre ou irá sofrer de ansiedade, depressão ou outro transtorno mental durante a vida.

Os três pilares 

Paulo Dias, neuropsicólogo da Clínica Dr. Alberto Lopes, sublinha que “procurar ajuda não é demonstrar fragilidades ou fraquezas, mas sim um sinal de coragem”. Começa por explicar que vivemos numa sociedade que “nos gera stress emocional, seja a nível escolar, académico ou profissional. Atrevo-me a dizer que há crianças que já nascem para este mundo com um nível de ansiedade superior àquilo que seria o desejável”.

São vários os aspetos que podem debilitar a saúde mental. Seja a nível de personalidade, “aquilo que chamamos de um ego mais frágil, que pode ter dificuldades de resiliência perante os conflitos”, seja também pela falta de autocuidado, que descreve como “o empurrar as coisas com a barriga”.

O especialista destaca três pilares que considera fundamentais para a estabilidade corpo-mente. O exercício físico, o sono e a alimentação. Alerta que “a ausência ou o descuido destes fazem com que estejamos sempre com uma menor capacidade de resiliência para os conflitos que vamos enfrentando ao longo da vida”.

Vários estudos concluem que, de facto, a prática de atividade física regular não só contribui para uma sensação de bem-estar, como também influencia positivamente a qualidade do sono. Uma simples caminhada de 10 minutos tem a capacidade de melhorar o humor, aumentar a energia e o estado de alerta mental. A importância de dormir bem também não deve ser menosprezada. Isto porque é precisamente durante o sono que o organismo se regenera. 

Magda Roma, nutricionista da Clínica Lisbon Plastic Surgery, explica que “a nutrição desempenha um papel fundamental na saúde mental como em qualquer patologia quando entendemos que é através do que ingerimos que as células do nosso corpo recebem nutrientes essenciais ao seu desenvolvimento e função. Uma alimentação equilibrada e saudável fornece os nutrientes essenciais para o funcionamento adequado do cérebro e do sistema nervoso.”

Nesse sentido, são vários os nutrientes que beneficiam a saúde mental, tais como:

  • Triptofano (aves, peixe, ovos, frutos secos, sementes e leguminosas);
  • Complexo de vitaminas B (aves, peixe, ovos, frutos secos, cereais, folha verde-escura, sementes e leguminosas);
  • Omega 3 (peixes gordos, sementes, frutos secos);
  • Antioxidantes e fitonutrientes (todo o reino vegetal, legumes e frutas);
  • Magnésio (folha verde-escura, frutos secos, sementes, grãos integrais, abacate e bananas);
  • Vitamina D (sol ou alimentos enriquecidos por ela).

Porém, adverte que há outros comportamentos/alimentos que “nos deixam num estado inflamatório” e que “podem ser gatilhos da doença mental”. São eles os “alimentos processados, açucarados, gorduras saturadas e o consumo excessivo de álcool”, elenca.

A Dieta Mediterrânica e os probióticos

A Dieta Mediterrânica é frequentemente apontada como a mais indicada para lidar com sintomas depressivos. Magda Roma explica que “tem sido amplamente estudada e é reconhecida pelos seus potenciais benefícios na saúde, incluindo a saúde mental e a redução do risco de doenças crónicas”.

Baseia-se na ingestão adequada e diária “de alimentos de base vegetal, como legumes, cereais, tubérculos, frutos secos, frutas ricas em propriedades anti-inflamatórias e em todas as vitaminas e minerais que necessitamos”. Além disso, exige “um consumo controlado de carnes, laticínios e dá preferência aos frutos do mar e peixes”.

Há ainda quem defenda os benefícios dos probióticos para a saúde mental. Estes microrganismos vivos, conhecidos como bactérias “boas”, ajudam a manter o intestino saudável ao impedir a multiplicação de bactérias prejudiciais. “Uma alimentação rica em probióticos pode auxiliar o funcionamento do intestino, bem como melhorar a digestão e absorção de nutrientes ao mesmo tempo que auxilia na manutenção da saúde mental”, destaca a nutricionista.

Mente sã em corpo são

Paulo Dias deixa ainda várias dicas para a prática da saúde mental positiva. Sublinha a necessidade de cultivar uma “mentalidade positiva, praticar o autocuidado, desenvolver atividades que promovam bem-estar”. Quando estes passos não estão a ser suficientes e sente que há certos obstáculos ou desafios que não está a ser capaz de ultrapassar sozinho, deve “procurar ajuda terapêutica”. 

A célebre expressão “Mens sana in corpore sano” ou “Mente sã em corpo são”, da autoria do poeta romano Juvenal, ilustra bem a importância do equilíbrio entre o corpo e a mente. “Sem saúde mental não conseguimos ter qualidade de vida”, alerta o neuropsicólogo.

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