As zonas urbanas de Lisboa de Alcântara e Algés foram bastante afetadas pela precipitação intensa que decorreu durante o mês de dezembro.
São áreas extremamente impermeabilizadas e, por isso, apresentam uma maior tendência para acumulação de água durante fenómenos de precipitação intensa.
“Mais do que implementar novas propostas de engenharia para uma situação de catástrofe, é importante atuar a montante do problema ” diz, à TejoMag, Joana Almeida, investigadora assistente em Engenharia do Ambiente, na NOVA School of Science and Technology.
É “crucial repensar nas construções de infraestruturas futuras, uma vez que há um aumento da impermeabilização dos terrenos, dificultando a infiltração da água nos solos”. Além disso, realizar práticas de manutenção com mais regularidade, em termos de desobstrução de sarjetas e leitos, para facilitar o escoamento das águas, e reflorestar áreas mais propícias a deslizamento de terras, podem ser fatores chave para atenuar os efeitos das catástrofes na cidade.
O plano de drenagem previsto ser construído pela Câmara Municipal de Lisboa a partir de Março pretende auxiliar na minimização dos impactes da acumulação de água na cidade, de forma a diminuir os prejuízos sociais, económicos e ambientais associados, comenta a investigadora.
Os dois túneis de drenagem previstos no plano terão um papel fundamental na atenuação dos efeitos negativos deste tipo de catástrofes naturais, uma vez que “permitirá armazenar água em maiores quantidades, evitando assim que se acumule na cidade”. Contudo, explica “é necessário repensar os projetos de construção, nomeadamente localizados na zona ribeirinha, e na impermeabilização excessiva da cidade nestas zonas derivada da construção de novas infra-estruturas”.
Estes episódios apresentaram impactes severos, não só nas habitações e estabelecimentos comerciais, como também transportes e outros serviços públicos. O maior impacte revela-se na componente económica, em termos de danos materiais, uma vez que muitos estabelecimentos ficaram com os seus equipamentos danificados, assim como os espaços.
Além disso, os transportes públicos e as estradas foram afetados, apresentando uma elevada acumulação de água, e impedindo as pessoas de realizar as suas deslocações. Uma drenagem eficiente das inundações é importante na requalificação dos locais mais afetados, permitindo aos cidadãos retomar a normalidade.
Em termos de habitação, a investigadora diz que “em primeiro lugar é importante alertar a população para a probabilidade de ocorrência deste tipo de fenómenos”. É crucial que as pessoas tomem conhecimento que estes episódios podem acontecer, como também saber como agir em situações mais urgentes. É por isso “imperativo avisar a população atempadamente, quando há maior probabilidade de ocorrer cheias na cidade derivadas de precipitação intensa através de meios como o telemóvel, televisão e internet. Por exemplo, via sms como foi feito na segunda onda das cheias. A divulgação de medidas básicas de como atuar em caso de inundações pode ajudar a minimizar os danos: dirigir-se para sítios mais altos, evitar caves e túneis, desligar a água, o gás e a electricidade, entre outras.”
Na zona ribeirinha de Lisboa encontra-se o maior perigo para ocorrência de cheias. A construção intensa de que esta zona tem sido alvo recentemente pode ter contribuído para o aumento da probabilidade de episódios de cheias e inundações nestas localidades área “baixa”. Neste sentido, “a realização de estudos mais profundos antes de avançar com novas construções em zonas mais sensíveis pode ajudar a perceber e a orientar a edificação destes locais de forma a não comprometer um desenvolvimento equilibrado da cidade, reduzindo os impactes negativos relacionados com este tipo de catástrofes naturais”, refere.