Miguel Álvaro tem 34 anos, é português e vive no Brasil. No final de junho foi de férias para a Turquia e acabou por ficar preso durante 19 dias por “aparentar ser gay“.
O pesadelo, relatado ao P3, começa no dia 25 de junho, dois dias depois de ter aterrado na capital turca. A parada gay em Istambul, considerada ilegal pelas autoridades turcas, foi palco de vários confrontos entre polícia e manifestantes e Miguel, que apesar de ser homossexual nem tinha conhecimento desta manifestação, foi apanhado na curva e detido quando apenas estava a pedir indicações para visitar um ponto turístico.
“Sítio errado à hora errada”
Acabou cercado e agarrado por vários polícias. Sem perceber o que estava a acontecer, tentou libertar-se e acabou agredido e empurrado contra uma carrinha da polícia, tendo ficado detido durante cinco horas. Um dos agentes explicou-lhe que a detenção aconteceu por causa da aparência. “Pensaram que participaria numa marcha LGBTQIAP+ não autorizada que ia acontecer ali perto, por parecer gay. Estava no sítio errado à hora errada”.
Miguel Álvaro foi mantido dentro de uma carrinha da polícia durante 13 horas antes de ser levado para uma esquadra da cidade, onde não teve autorização para fazer qualquer chamada. Depois, foi transferido para o centro de detenção de imigrantes de Tuzla, também em Istambul, conhecido por problemas de sobrelotação, violência e condições sanitárias precárias. Mas o pesadelo não termina aqui.
O horror da prisão na Turquia
Horas depois, foi levado para a prisão de Sanliurfa, localizada a poucos quilómetros da fronteira com a Síria, onde permaneceu até 12 de julho. “Chegámos a Sanliurfa ao final do dia de terça-feira [dia 27 de junho]. Ainda não tinha dormido, feito uma refeição ou tido acesso ao meu telemóvel desde a detenção. Ninguém sabia onde eu estava”, destaca.
“Ficámos nessa prisão com outros reclusos a ameaçar-nos de morte. Todas as noites um de nós ficava acordado para garantir que ninguém entrava na nossa cela para nos magoar”, acrescenta. Só na semana seguinte conseguiu fazer uma chamada. Foi ao pai quem ligou e explanou a situação em que se tinha visto envolvido. “Só me lembro de decorar o nome do sítio onde estava: ‘Fui detido, estou aqui, preciso de ajuda'”.
Embaixada portuguesa nada fez
Apesar dos contatos da família com a Embaixada de Portugal na Turquia, nenhum representante português o visitou ou ofereceu qualquer tipo de ajuda. A 12 de julho, após 19 dias de detenção, Miguel Álvaro saiu finalmente em liberdade. Foi escoltado pela polícia até à porta de embarque e regressou a Portugal no dia seguinte. “Neste momento, estou num estado psicológico horrível, tenho muito medo das sequelas no futuro. Não consigo acreditar que isto me aconteceu. Rezo para que se faça justiça. Não vou descansar. Espero levar o meu caso ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos”, conclui.