Um estudo realizado em parceria pelas Universidades de São Francisco e Berkeley, nos Estados Unidos, juntamente com o software de jogos Speech Graphics, revelou uma tecnologia inovadora destinada a auxiliar pessoas com paralisia a recuperar a capacidade de fala.
Este dispositivo utiliza eletrodos ligados ao cérebro do paciente para descodificar sinais por meio de inteligência artificial e, posteriormente, reproduzir palavras através de um avatar.
A tecnologia desenvolvida pela Speech Graphics, baseada naquela usada em jogos populares como Fortnite, The Last of Us e The Callisto Protocol, é capaz de expressar algumas emoções. Por enquanto, este estudo representa uma experiência, mas os investigadores acreditam que, em breve, poderá ser utilizado para melhorar a comunicação de pacientes.
O poder da Inteligência Artifical
A pesquisa, publicada na revista científica Nature em 23 de agosto, apresenta o caso de uma paciente de 47 anos chamada Ann, que perdeu a capacidade de fala após um acidente vascular cerebral (AVC) ocorrido há 18 anos.
Assim, foi implantada uma malha fina com 253 eletrodos próxima à região cerebral responsável pela fala de Ann. O dispositivo captava os sinais cerebrais e transmitia-os para um computador. Este dispositivo incluía um algoritmo de inteligência artificial treinado com um vocabulário de até 1.024 palavras. Quando Ann pensava nas frases, o avatar digital reproduzia as palavras com uma voz criada a partir de gravações feitas antes do AVC.
O software alcançou uma taxa de produção de 78 palavras por minuto, com uma média de erro de 25,5%, superando outros softwares usados anteriormente. Por comparação, uma conversa típica geralmente envolve cerca de 160 palavras por minuto. Ann comentou com os responsáveis que o simples ato de ouvir uma voz semelhante à sua era emocionante. Além disso, o avatar digital da Speech Graphics conseguiu reproduzir alguns músculos faciais de Ann para expressar emoções enquanto proferia as palavras.
Tecnologia usada em paciente com ELA
No mesmo dia, outra pesquisa semelhante foi publicada pela Universidade de Stanford, também nos Estados Unidos. Este estudo apresenta uma paciente chamada Pat Bennett, de 67 anos, que sofre de esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma condição que resulta na perda de controlo muscular e dificuldades de movimentação e fala.
Nessa investigação, o programa foi treinada com um vocabulário maior com 125 mil palavras e outro mais reduzido com 50 palavras. A tecnologia foi capaz de gerar 62 palavras por minuto com uma taxa de erro de 9,1% para o vocabulário menor e 23,8% para o maior. No entanto, este método envolveu implantes de silicone mais invasivos em comparação com os usados com Ann.
Ambos os estudos apresentaram tecnologias mais rápidas e precisas do que as já existentes. O neurocientista Francis Willett, coautor do artigo de Stanford, comentou que já é possível vislumbrar um futuro em que as conversas com pessoas com paralisia se tornem mais fluídas, precisas e compreensíveis. Por outro lado, o neurocientista computacional da Universidade de Maastricht, na Holanda, Christian Herff, acredita que esses dispositivos poderão tornar-se produtos reais nos próximos anos.