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Portugueses defendem que videojogos são importantes para a educação

Ao contrário da preocupação geral com a possibilidade de vício, quando o tema é a relação entre os videojogos e a educação, a maioria dos portugueses ainda tende a concordar: os jogos eletrónicos podem, na verdade, tornar-se excelentes aliados no processo de ensino-aprendizagem — uma opinião partilhada por 7 em cada 10 inquiridos num estudo recente sobre o assunto.

Os dados são da Preply, plataforma de ensino de idiomas que, para compreender a relação das pessoas com o universo dos jogos, pediu a entrevistados de todos os distritos que partilhassem as suas experiências enquanto jogadores, desde as preferências e rotina de jogo até ao contacto com títulos em línguas estrangeiras.

Num contexto em que o interesse pelo sector tem crescido como nunca entre os internautas — no último ano, as pesquisas pelo termo “game” aumentaram mais de mil porcento nos motores de busca em Portugal —, cerca de 70% dos inquiridos admitiram jogar com alguma frequência, sendo, na sua maioria, jogos de estratégia (48,1%) e aventura (47,1%), além de já terem investido dinheiro em jogos de azar (67,5%).

Portugal, um país de gamers

Se há algo que o estudo comprova é que, embora possa parecer distante para muitos, Portugal é, na verdade, um país composto por muitos apaixonados pelo universo dos jogos online — uma paixão que, não por acaso, fez as pesquisas por termos como “epic games” (+50%), “jogos online” (+22%) e “games online” (+19%) crescerem significativamente em 2024.

A popularidade entre a população tem sido tanta que, quando questionados sobre suas experiências enquanto jogadores, apenas 11,6% dos inquiridos na pesquisa enfatizaram nunca ter experimentado tal forma de entretenimento, dos quais, de toda forma, 4,1% admitiram estar abertos a jogar no futuro.

O restante, por outro lado, divide-se entre diferentes perfis de envolvimento com os jogos online: gamers assíduos (38,6%), aqueles que jogam apenas ocasionalmente (35,5%) e, finalmente, pessoas que já jogaram bastante no passado (14,1%), mas que foram diminuindo o ritmo ao longo do tempo. Independentemente da frequência com que jogam, todos partilham uma preferência pelos géneros estratégia (48,1%), o favorito geral, ação e aventura (47,1%) e, ainda, o clássico quebra-cabeças (45,6%).

Mas engana-se quem pensa que a relação dos gamers em questão se limita aos títulos produzidos ou traduzidos para o português. Em meio a tantas produções imperdíveis a cliques de distância, naturalmente, cerca de 76% dos respondentes destacaram ter contacto com games nos mais variados idiomas, sobretudo em inglês (88%) e espanhol (29,8%). Tão natural quanto esse acesso é também conhecer e fazer amigos estrangeiros por meio dos jogos, realidade partilhada por 5 em cada 10 inquiridos pela Preply.

Videojogos na sala de aula?

Ora, se aquilo que começa como simples diversão se transforma também numa oportunidade para conhecer outras culturas e idiomas, seria correto dizer que os jogos online, à primeira vista “vilões” da educação, podem tornar-se aliados no ensino?

A resposta, para a maioria dos inquiridos, é “sim”: contrariando os olhares mais pessimistas em relação ao tema, 70% dos respondentes acreditam que os games têm impactos bastante positivos na aprendizagem, seja tornando o contacto com determinados tópicos mais envolventes, seja complementando o que é visto em sala de aula de maneira prática.

Os benefícios, para eles, são ainda mais eficazes quando falamos sobre a prática de um novo idioma, visto que aventurar-se ao lado de outros jogadores permitiria a um estudante de línguas ampliar o próprio vocabulário e conhecimento de gramática (66,6%), conversar com falantes nativos (64,1%) e transformar a ideia de estudar em algo, por que não, criativo (38,3%).

Nem todos os inquiridos, no entanto, partilham a mesma visão acerca da implementação dos jogos em sala de aula, como sugerido por escolas e educadores mais “modernos”. Apesar da opinião geral ser positiva, 33% dos portugueses que participaram na pesquisa acreditam que a incorporação dos jogos deve ser acompanhada de muita cautela e preparação, para que não prejudique a concentração dos alunos.

Cidades Educadoras: Transformar o Futuro

Entre 8 e 11 de novembro de 2023, em Torres Vedras, acontece o X Congresso Nacional da Rede Territorial Portuguesa das Cidades Educadoras. Com o tema «Cidades educadoras, cidades das crianças, cidades para todos!», nestes dias propõe-se uma reflexão sobre o papel da cidade educadora enquanto território que pretende oferecer não só às crianças, mas a todos os grupos da sociedade, um ambiente ideal para que possam viver de forma plena a sua cidadania e encontrar no espaço urbano um lugar de realização individual e coletiva.

Mas o que são cidades educadoras? São aquelas que adotam uma abordagem holística e inclusiva da educação, reconhecendo que a aprendizagem não se limita apenas ao ambiente escolar, mas ocorre em todos os aspectos da vida de uma pessoa. Em Portugal existem 93 municípios espalhados no continente e nas ilhas, que formam uma rede de Cidades Educadoras com vários projetos. 

Essas cidades procuram criar condições que estimulem o conhecimento, a criatividade, a participação ativa dos cidadãos e o desenvolvimento pessoal dos seus habitantes. As cidades educadoras representam uma abordagem inovadora para a educação, rompendo com a visão tradicional de que a escola é o único lugar onde ocorre a aprendizagem. Ao criar um ambiente propício para a educação ao longo da vida, promovendo a cidadania e o desenvolvimento integral dos indivíduos, essas cidades estão envolvidas no futuro da educação. 

Helena Cardoso de Menezes e Allan Mark Sousa, consultores e formadores no projeto Elos Saudáveis, estarão presentes nesta edição. O trabalho desta parceria está baseado na formação para a comunicação consciente e relações saudáveis. Para eles, é fundamental que mais cidades em todo o mundo adotem essa abordagem, criando uma sociedade mais justa, inclusiva e preparada para enfrentar o desafio de romper com a visão tradicional de que a escola é o único lugar onde ocorre a aprendizagem isolada da comunidade envolvente. 

Helena Menezes afirma que este espaço de inclusão nas cidades vai além das questões de raça e género. Passa também pela criação de espaços públicos intergeracionais que acolhem e integram todos os cidadãos sem exclusão de grupos por vezes marginalizados, como por exemplo adolescentes. É  fundamental  a escuta ativa e efetiva das necessidades das crianças e jovens num saudável convívio com a diferença.

Ressalta ainda que “sem a comunidade participativa e coesa não é possível haver cidades educadoras. É preciso promover em todos o desenvolvimento competências como a inteligência emocional, a comunicação consciente e as relações saudáveis.”

Os professores, as questões e desafios da educação – Parte II

É seguramente indispensável que a educação contemporânea e os professores se inscrevam no espírito e no desenvolvimento do nosso tempo. Não podemos imaginar o futuro de forma útil sem combinar o nosso conhecimento do passado e a percepção das grandes mudanças em curso. Contudo, admitir essa inscrição não significa que ela deixe de ser contrabalançada pelo acesso a uma cultura multimilenar que passa pelas humanidades, pela literatura, pela história e por um tema que parece indispensável — o conhecimento e a compreensão dos outros.

Por isso, numa abordagem de educação integral a opção entre um saber humanista e um saber-fazer utilitarista não faz sentido. Saber conciliar um e outro em todos os níveis de escolaridade é simultaneamente uma questão essencial e um desafio indeclinável, que implica que a escola se adapte não só às necessidades profissionais ou técnicas, mas também às necessidades de uma sociedade e da sua cultura.

Perante a natureza e a relevância destas mudanças alguns investigadores, designadamente Gerhard de Haan(1) sustentam que uma concepção de educação está a chegar ao fim da sua história. Porém, o problema não reside em reconhecer esta realidade ou até mesmo as exigências do novo conhecimento. A dificuldade está em conciliar a pluralidade de visões do mundo numa abordagem humanista das políticas e práticas educacionais e em definir os meios e os métodos próprios para facilitar as aprendizagens (pedagogia) e lhes conferir um sentido, num contexto mutante e inovador.

No plano pedagógico, a transição da sociedade tradicional para a sociedade de conhecimento traduziu-se na ordem escolar pela adopção de um modelo centrado no acto de aprender em substituição do anterior que era dirigido pelo imperativo de transmitir.

Até ao início deste século, o debate situava-se ainda em torno de dois modelos de ensino: a autoridade do professor, a disciplina e o mérito versus o aluno no centro, a sua inteligência, a sua curiosidade natural, o seu desenvolvimento. Mas, bastou uma década para que a centralidade destas questões diminuísse. A comunidade política internacional passou a interessar-se pela eficácia das políticas educativas e pela importância de métricas comuns, centradas na avaliação das competências dos alunos e no controlo dos resultados escolares. O conhecido programa PISA (Program for International Student Assessment) ocupou o centro do debate e das preocupações dos governos e a atenção dos meios académicos, lembrando nas sucessivas edições a quase todos e aos governos em especial, que é possível atingir melhores resultados na educação(2) .

Não obstante os resultados obtidos, o facto é que este espaço simbólico de pressão sobre os sistemas de ensino induziu um sentido de competição contraproducente nas aprendizagens, sem deixar de se considerar ipso facto um desafio. O último desafio resultou da pandemia SARS-COVID 19 e da inopinada ruptura produzida nos percursos escolares. As escolas viram-se subitamente esvaziadas e projectadas para o ensino à distância, sem qualquer preparação prévia. De um dia para o outro, professores, alunos e pais foram confrontados com a perplexidade de uma situação dramática e com a necessidade de adoptar de forma continuada práticas de educação remota. Instalou-se a ideia de que as escolas e os professores poderiam ser substituídos por tecnologias destinadas a transferir conteúdos. E, se por um lado, a tecnologia faz parte do nosso tempo, por outro, a ideia de que tudo vai passar para o digital e de que a inteligência artificial vai mudar as aprendizagens esvazia a relação educativa da sua dimensão humana. Não é possível separar o ser, o sentir e o saber (Damásio, 2020)(3),razão pela qual o digital exige que se cultive a relação humana. Ou seja, o digital não pode substituir os professores.

Em suma, a resposta aos desafios pré e pós-pandemia não se compagina com um regresso ao passado. Historicamente, as pandemias forçaram os humanos a romper com ele e a imaginar um mundo novo. Esta não é diferente. É uma porta de entrada entre um mundo e outro. Perante esta oportunidade a alternativa está em continuar a manter e arrastar as velhas visões e práticas, ou em entrar no caminho aberto, prontos para imaginar outro mundo e conceber outras práticas. De forma necessariamente simplificada, este dilema corresponde à opção entre duas tendências: a, que valoriza as dimensões individuais, quer através do ensino doméstico, quer pela utilização dos dispositivos digitais, quer ainda no modo como os estudos das neurociências procuram personalizar as aprendizagens. A outra que valoriza a escola como espaço público, de encontro e cooperação, de trabalho colaborativo, defendendo a criação de novos ambientes educativos. Sobre esta a UNESCO (4) propõe um novo contrato social para fazer da educação um projecto público e um bem comum, no quadro de um espaço público, aberto, plural e participado.

No fundo, trata-se de transformar a educação numa viagem em demanda de portos inexistentes para corresponder ao cumprimento de um rito que a sociedade reconhece e para o qual oferece as condições necessárias. Mas, se as opções de sociedade implicam opções de educação e pontos de partida, a sociedade deverá evitar impor o lugar de chegada, mesmo que no nosso tempo os mecanismos de mercado tentem oferecer competitivamente esse lugar. E mais, terá de reconhecer a relevância e a autonomia profissional dos professores ao leme da ”viagem” e dos processos de mudança, porque estes são insubstituíveis e fazem toda a diferença na relação pedagógica de uma educação integral e humanista.

(1)“Vivemos o fim da educação da jovem geração pela geração precedente, que existia desde a origem Gerhard de Haan, Die Zeit in der Pädagogik. Vermittlungen zwischen der Füller der Welt und der Kürze des Lebens, Weinheim, Beltz, 1996, p.121.

(2) A avaliação deste programa incide sobre os alunos que em 2000 tinham a idade de 15 anos que corresponde à idade de conclusão do ensino obrigatório em grande número dos países europeus.

(3) António Damásio, Sentir & Saber: A caminho da consciência, Lisboa, Temas e Debates,2020.

(4) Reimagining our futures together: a new social contract for education. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000379707.