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IRS e agora as portagens: o que se passa no Parlamento?

E já vão duas. Em apenas um mês em exercício, o Governo já soma derrotas na Assembleia da República. Primeiro com as propostas para redução do IRS e, depois, com a abolição das portagens nas ex-SCUT (Vias sem custos para o utilizador).

Os debates tensos não escondem a divisão que há no hemiciclo. Do primeiro grande teste a Luís Montenegro saiu uma nota negativa. O Parlamento aprovou, na generalidade, as propostas do PS, Bloco de Esquerda e PCP que introduzem alterações ao Imposto sobre Rendimentos Singulares, mas diferentes das que o Governo sugere implementar.

A proposta do executivo, que desceu à especialidade sem aprovação, prevê uma redução adicional entre 0,25 e 3 pontos percentuais nas taxas que incidem do 1.º ao 8.º escalões de rendimento. A maior descida incide assim sobre os rendimentos mais altos

Já a proposta do PS, aprovada com o sim de toda a esquerda e a abstenção do Chega e da Iniciativa Liberal, é construída em moldes distintos. Defende reduções mais acentuadas das taxas do IRS sobre os escalões de rendimento mais baixos, nomeadamente entre os 1.000 e 2.500 euros brutos.

A aprovação aconteceu dado que os os 80 votos do PSD e CDS foram insuficientes contra os 92 da esquerda, já que Chega e Iniciativa Liberal (IL) se abstiveram. A aproximação das propostas do Chega e do PS levaram o partido de André Ventura a abrir caminho à passagem da proposta socialista. O PSD acusa o partido de furar acordos.

Adeus portagens. Há hipocrisia e incoerência?

A segunda derrota do Governo resume-se numa sigla: SCUTS (ou ex-SCUTS). O fim da cobrança de portagens nas antigas autoestradas sem custos para os utilizadores foi também aprovada contra a vontade do executivo. Mas desta vez, o Chega votou ao lado de toda a esquerda e fez aprovar a proposta do PS (Aliás, foi uma das bandeiras de Pedro Nuno Santos durante a campanha eleitoral). 

O PSD e o CDS propunham um desagravamento gradual do valor a cobrar aos automobilistas. Ainda tentaram baixar a proposta à especialidade mas sem sucesso. Foi rejeitada com os votos do PS, Chega e PCP. A IL esteve ao lado do Governo e a restante esquerda absteve-se.

Os partidos das governação acusam PS e Chega de hipocrisia e incoerência, ao levar ao Parlamento uma coligação negativa, com a discussão propostas que o anterior Governo considerava impossíveis. PS e chega recusam as acusações.

Por isso, se o projeto avançar como previsto, a partir de 1 de janeiro de 2025, deixará de haver portagens na A4, A13 e A13-1, A22, A23, A24, A25 e A28. O custo da medida socialista está projetado em 157 milhões de euros. As concessionárias já pediram explicações. Falam já na criação de medidas de compensação.

As duas primeiras derrotas do Governo terão, naturalmente, custos que o executivo não planeou para a legislatura que agora começa. Mas certo é: prometiam-se quatro anos de Governação tensos. Luís Montenegro diz que o Governo está firme e que vai cumprir o programa, só não esperava, talvez, que houvesse um travão tão forte à governabilidade. Resta saber: Não há duas sem três?

Imagem: parlamento.pt

Afinal, quanto será a redução do IRS para este ano?

1.300 + 200 ou 1.300 + 1.500? Afinal, que redução vai acontecer no IRS? Os partidos dão voltas à cabeça com as contas e acusam o Governo de ambiguidade na proposta de alívio fiscal para este ano. Porém, o executivo diz que não há espaço para equívocos.

Na origem está a declaração de Luís Montenegro no debate do Programa do Governo: “Aprovaremos uma proposta (…) introduzindo uma descida das taxas de IRS sobre todos os rendimentos até ao oitavo escalão. Vai perfazer uma diminuição global de cerca de 1.500 milhões de euros nos impostos sobre o rendimento de trabalho face ao ano passado”, explicou.

Com ou sem intenção, as palavras do primeiro-ministro induziram a oposição (e até alguns jornais) em erro. Chegou a admitir-se que, em 2024, o Governo PSD/CDS teria intenção de mais que duplicar a descida já em vigor aplicada pelo anterior executivo. Recorde-se que o Orçamento do Estado (OE) para 2024 introduziu uma redução de cerca de 1.300 milhões de euros em sede de IRS. Na prática, quase todos os contribuintes passaram a descontar menos na folha de vencimentos a partir de janeiro.

Choque fiscal ou retoque fiscal no IRS?

No mesmo debate, a Iniciativa Liberal teve dúvidas. “Eu ouvi o senhor primeiro-ministro dizer que, face ao ano passado, há uma descida de 1.500 milhões de euros do IRS. Mas, olhando para o OE deste ano também já se previa que houvesse uma descida do IRS de 1.327 milhões. Estou a ver mal ou esta grande descida de IRS que o Governo vai fazer são apenas 173 milhões, em relação ao que o PS já ia fazer?”, questionou o deputado Bernardo Blanco.

Só depois, em entrevista à RTP, é que o ministro das Finanças confirmou que, afinal, a descida anunciada será de aproximadamente 200 milhões de euros. Até mais que isso, garantiu, Ou seja, o alívio fiscal de 1.500 milhões de euros no IRS já inclui o que foi aplicado no início do ano.

“O mérito é deste Governo que vai baixar ainda mais e vai baixar para todos os escalões de rendimento, com exceção do último, e portanto abrange muito mais contribuintes”, afirmou Joaquim Miranda Sarmento.

Oposição ataca: Perceberam todos mal?

Partidos e comentadores são unânimes: O Governo foi ambíguo. 

“Estamos perante um embuste”, disse ao Expresso Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS. “A grande medida anunciada durante a discussão do programa de governo é afinal uma fraude. O choque fiscal prometido pela AD em campanha não durou um dia”.

A coordenadora do Bloco de Esquerda acusa o executivo de ter brincado com os deputados e até com os jornalistas. A Iniciativa Liberal diz que o “Estado de Graça” do Governo acabou e o Chega quer chamar o ministro das Finanças ao Parlamento. André Ventura fala em quebra de confiança.

Na SIC, o comentador Luís Marques Mendes diz que foi o primeiro “caso e casinho” deste Governo. Fala em “amadorismo” mas diz que a oposição também tem culpa na polémica. Já a socialista Ana Gomes acusa o executivo de enganar os portugueses com recurso a “manipulação eleitoral”.

Em comunicado, o Governo explica que “está a cumprir rigorosamente a proposta com que se comprometeu perante os Portugueses ao longo de 8 meses e, repetidamente, em campanha eleitoral”. A afirmação do Primeiro-Ministro Luís Montenegro corresponde cabalmente ao que consta do Programa do Governo: Redução do IRS para os contribuintes até ao 8º escalão, através da redução de taxas marginais entre 0,5 e 3 pontos percentuais face a 2023“.

No fundo, o mais importante a reter é isto: Seja muito ou pouco, o desagravamento adicional em sede de IRS vai refletir-se de imediato nas tabelas de retenção na fonte. O 5º e o 6ª escalão (rendimentos anuais entre os 21.000€ e 39.000€) serão os mais beneficiados.

Imagem: Pixabay