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Author Archive by Tomás Cascão

WhatsApp | Descobre o significado do código wa.me/13143331111

Há alguns links que, quando enviados por WhatsApp, deixam a plataforma de mensagens com falhas. Um desses exemplos aconteceu há bem pouco tempo com o “wa.me/settings” nos grupos da plataforma da Meta.

Não era necessário sequer carregar na hiperligação – que é oficial da app e que o reencaminharia para as definições – para correr o risco de ficar sem acesso à aplicação de mensagens.  No entanto, neste caso, trata-se de algo muito diferente e que não tem qualquer consequência negativa. 

O que significa “wa.me/1314333111111″ no WhatsApp?

Trata-se de uma nova Inteligência Artificial que está cada vez mais na moda. Tal como o LuzIA, este chat permite-lhe conversar com ‘alguém’ rapidamente, como se estivesse a falar com um ser humano.

É possível colocar qualquer pergunta e as respostas são simples e, por vezes, até divertidas. Chama-se Pi e foi desenvolvido pela empresa Hey Pi. 

Projeto português promete redução de 15% na fatura da luz

O projeto TradeRES está a revolucionar os modelos de mercado de eletricidade, apresentando uma abordagem inovadora e quase 100% renovável. Diferente dos modelos tradicionais que têm sido utilizados há décadas, tem como objetivo eliminar o desperdício de energia proveniente de fontes renováveis ao criar um sistema mais eficiente, reduzindo assim o valor da sua fatura da luz.

No mercado tradicional de energia elétrica, as ofertas de compra e venda de energia são feitas com antecedência, o que nem sempre reflete de forma realista a produção disponível no dia seguinte. Isto resulta numa significativa perda de energia renovável.

Porém, isso poderá estar prestes a mudar graças a um grupo de investigadores do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) que está a desenvolver um modelo inovador que promete alterar esta realidade.

Projeto assente em três fases

TradeRES incentiva operações e investimentos eficientes, assegurando um fornecimento estável de eletricidade ao mesmo tempo que mantém os custos baixos e distribui os riscos de forma justa.

Como explica o ZAP, o projeto é composto por três fases: modelar e simular novos agentes, procedimentos e mecanismos de mercado; desenvolver ferramentas de acesso aberto e analisar mercados de eletricidade com quase 100% de energia renovável; e, ainda, envolver as principais partes interessadas no desenvolvimento, melhoria e uso das novas ferramentas de simulação de mercado.

As sugestões apresentadas pelo grupo do ISEP incluem o encurtamento do horizonte das ofertas em mercado, reduzindo o período de negociação para apenas alguns minutos e incorporando modelos que lidem com a incerteza e variabilidade da produção de energia.

Os resultados preliminares indicam que uma família convencional poderá reduzir até 15% dos custos da conta de energia se as propostas do TradeRES forem implementadas. Além das vantagens financeiras, o projeto tem como objetivo promover a preservação do ambiente, contribuindo para uma sociedade mais sustentável e amiga do planeta.

Os 3 códigos secretos do telemóvel que tem mesmo de conhecer

Nos últimos anos, existem cada vez mais marcas e aplicações à disposição do utilizador. Os telemóveis já não servem apenas para fazer chamadas ou enviar mensagens. Mantêm-nos ligados ao mundo, proporcionam informação em tempo real, permitem enviar e-mails com enorme facilidade, fazer pagamentos, entre muitas outras.

Com a crescente dependência da tecnologia, os fabricantes têm trabalhado para oferecer telemóveis cada vez mais avançados e funcionais. Porém, o que muitos utilizadores não sabem é que estes aparelhos escondem vários segredos!

Os códigos que revelam informações ocultas

*#06#: Assim que digitar este código, vai aparecer o número IMEI, que é o Identificador Internacional de Equipamento Móvel. Caso esteja a pensar comprar um telemóvel em segunda mão, esta é uma informação especialmente útil. Isto porque permite verificar se o aparelho é autêntico ou se foi dado como roubado;

*#0228#: Permite ter informações detalhadas sobre o estado da bateria do dispositivo. Ao introduzir este código, ser-lhe-á  apresentado um menu com dados precisos sobre a bateria, nomeadamente a capacidade atual, a tensão e o nível de carga. Isto vai fazer com que esteja a par do desempenho e, consequentemente, poderá tomar medidas para prolongar a vida da bateria;

*#9900#: Talvez o mais importante! Esta combinação vai enviá-lo para um menu especial que lhe permite libertar espaço de armazenamento… sem ter de eliminar aplicações. Depois, só tem de selecionar a opção “Eliminar dados de diagnóstico”.

Apesar de extremamente útil, alertamos que, usados incorretamente, podem afetar o normal funcionamento do smartphone. Além disso, estes três códigos podem não ser compatíveis com todos os aparelhos, pelo que recomendamos que, antes de os usar, confirme essa possibilidade.

Português preso e torturado na Turquia por “parecer gay”

Miguel Álvaro tem 34 anos, é português e vive no Brasil. No final de junho foi de férias para a Turquia e acabou por ficar preso durante 19 dias por “aparentar ser gay“.

O pesadelo, relatado ao P3, começa no dia 25 de junho, dois dias depois de ter aterrado na capital turca. A parada gay em Istambul, considerada ilegal pelas autoridades turcas, foi palco de vários confrontos entre polícia e manifestantes e Miguel, que apesar de ser homossexual nem tinha conhecimento desta manifestação, foi apanhado na curva e detido quando apenas estava a pedir indicações para visitar um ponto turístico.

“Sítio errado à hora errada”

Acabou cercado e agarrado por vários polícias. Sem perceber o que estava a acontecer, tentou libertar-se e acabou agredido e  empurrado contra uma carrinha da polícia, tendo ficado detido durante cinco horas. Um dos agentes explicou-lhe que a detenção aconteceu por causa da aparência. “Pensaram que participaria numa marcha LGBTQIAP+ não autorizada que ia acontecer ali perto, por parecer gay. Estava no sítio errado à hora errada”.

Miguel Álvaro foi mantido dentro de uma carrinha da polícia durante 13 horas antes de ser levado para uma esquadra da cidade, onde não teve autorização para fazer qualquer chamada. Depois, foi transferido para o centro de detenção de imigrantes de Tuzla, também em Istambul, conhecido por problemas de sobrelotação, violência e condições sanitárias precárias. Mas o pesadelo não termina aqui.

O horror da prisão na Turquia

Horas depois, foi levado para a prisão de Sanliurfa, localizada a poucos quilómetros da fronteira com a Síria, onde permaneceu até 12 de julho. “Chegámos a Sanliurfa ​ao final do dia de terça-feira [dia 27 de junho]. Ainda não tinha dormido, feito uma refeição ou tido acesso ao meu telemóvel desde a detenção. Ninguém sabia onde eu estava”, destaca.

“Ficámos nessa prisão com outros reclusos a ameaçar-nos de morte. Todas as noites um de nós ficava acordado para garantir que ninguém entrava na nossa cela para nos magoar”, acrescenta. Só na semana seguinte conseguiu fazer uma chamada. Foi ao pai quem ligou e explanou a situação em que se tinha visto envolvido. “Só me lembro de decorar o nome do sítio onde estava: ‘Fui detido, estou aqui, preciso de ajuda'”.

Embaixada portuguesa nada fez

Apesar dos contatos da família com a Embaixada de Portugal na Turquia, nenhum representante português o visitou ou ofereceu qualquer tipo de ajuda. A 12 de julho, após 19 dias de detenção, Miguel Álvaro saiu finalmente em liberdade. Foi escoltado pela polícia até à porta de embarque e regressou a Portugal no dia seguinte. “Neste momento, estou num estado psicológico horrível, tenho muito medo das sequelas no futuro. Não consigo acreditar que isto me aconteceu. Rezo para que se faça justiça. Não vou descansar. Espero levar o meu caso ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos”, conclui.

App de fotografia mais potente do mercado está agora gratuita

Lux Optics Incorporated, a criadora da famosa aplicação Halide, anunciou que a Specter Camera está agora de graça na App Store.

Esta é uma app de câmara para iOS que recorre a Inteligência Artificial para criar fotografias e vídeos de longa exposição. A Specter Camera usa todo o potencial do processador Neural Engine iPhone. Assim, a aplicação permite captar imagens de longa exposição com o iPhone na mão sem necessidade de utilizar um estabilizador ou tripé.

As novidades da Specter Camera

Se já gastou dinheiro na app, ficará satisfeito por saber que a atualização inclui agora opções de longa exposição de 15 e 30 segundos. Por outro lado, esta última versão para iPhone também foi otimizada para funcionar corretamente nos últimos modelos.

“Se já pagou pelo Spectre, as novas funcionalidades da versão Pro estão desbloqueadas, a atualização para a versão Pro desbloqueia algumas funcionalidades como forma de agradecimento por apoiar o desenvolvimento contínuo do Spectre”, explica a marca.

Esta é uma oportunidade rara de descarregar, sem qualquer custo, uma das melhores aplicações de fotografia da App Store.

Turismo Lento, uma nova forma de viajar

Numa altura em que o turismo em Portugal supera os números registados antes da pandemia, com o ano de 2022 a chegar aos 37,8 mil milhões de euros e com Lisboa a registar no verão passado mais de 3,5 milhões de dormidas, o Slow Tourism tem ganho cada vez mais adeptos. Por oposição aos destinos turísticos de massas, esta abordagem surge como uma lufada de ar fresco no setor.

Ao contrário das viagens convencionais, em que o foco está em visitar o maior número possível de atrações num curto espaço de tempo, este tipo de turismo incentiva os viajantes a desacelerar, apreciarem cada momento e mergulhar na experiência local de forma mais profunda e significativa.

O conceito de Slow surgiu inicialmente com o movimento Slow Food, na década de 1980, em Itália. Carlo Petrini foi um dos principais rostos de um protesto contra a abertura de um McDonald’s em Roma.

A filosofia Slow

Valorizar a qualidade sobre a quantidade, promover a sustentabilidade e a preservação cultural e permitir uma ligação mais autêntica com as pessoas e os lugares visitados, são as bases deste movimento. 

Deve também existir “equilíbrio entre o rápido e o devagar” e apela a que sejam os “humanos que estejam no centro de intervenção”, começa por explicar Sofia Pereira, presidente da Slow Movement Portugal, uma associação que nasceu em 2009 e que tem como objetivo dar a conhecer esta forma de estar, e não apenas numa vertente. Começando pela nossa vida, passando pelo trabalho e também no turismo.

Apesar de uma das principais características do Slow Tourism ser a desaceleração do ritmo de viagem, “não pressupõe que tenhamos de viver tudo a passo de caracol ou de ir viver para a montanha”, acrescenta.  

“Queremos colocar as pessoas a pôr a mão na massa”

Esta é precisamente a proposta da Farm Experiences, uma plataforma de reservas e promoção de atividades de lazer, ligadas ao setor do turismo agrícola e gastronómico em Portugal. O fundador, Estêvão Anacleto, explica que tudo começou quando se apercebeu de uma “grande lacuna em termos de mercado”. 

Destaca que “muitos turistas queriam fazer coisas diferenciadoras e ligadas à natureza, à agricultura, fora daquele agroturismo a que estamos habituados. Nós queremos colocar as pessoas a meter a mão na massa”. Também Estêvão arregaçou as mangas e, juntamente com quatro agricultores, criou uma plataforma.

Para além das várias experiências à disposição, o intuito deste projeto é também o de “promover aquilo que é feito em Portugal a nível de sustentabilidade das quintas, em termos ambientais, mas também em termos sociais e económicos”. A título de exemplo, bem perto de Lisboa, é possível encontrar experiências com abelhas, passeios a cavalo numa vinha e até farm-to-table.

Por norma, cada uma tem a duração de três a quatro horas. “Queremos sempre que o produtor seja o anfitrião e que conduza a experiência. Além de um tour pela quinta, mostra como se faz, como se produz. Depois há uma experiência de colheita e, caso haja condições para tal, termina com uma degustação ou um almoço”.

A pandemia como ponto de partida

Foi em plena pandemia que nasceu a Slow Portugal. “Eu e a minha mulher vivíamos e trabalhávamos em Lisboa e essa foi uma altura de reflexão; fez-nos pensar no que queríamos para a nossa vida”, começa por recordar Luís Duarte, um dos fundadores. Esse sentimento ganhou ainda mais força quando foram pais. “Fez-nos repensar ainda mais as nossas prioridades”.

A carreira em hotelaria da companheira foi uma preciosa ajuda para a dupla perceber o que não queria para o seu negócio: “o turismo rápido, o hotel de cidade”, salienta. O objetivo era, sim, trazer as pessoas para a calma, para “algo que possam desfrutar na sua plenitude”. Mas o intuito principal passa por algo que parece ser tão simples… mas por vezes tão difícil: parar. “Queremos que pare, que fuja da cidade, da rotina”. O desejo é que este período longe da azáfama do dia a dia sirva para assentar ideias e limpar a mente.

Foi no Alentejo, para onde se mudaram, que estabeleceram os primeiros contactos em termos de parcerias. Confessos apaixonados por viajar, por vinhos e pela gastronomia, decidiram então criar três experiências distintas com base nestes pressupostos. A plataforma só foi lançada oficialmente quando atingiram o número mínimo de experiências que tinham delineado: 80. Atualmente são 92.

À Mesa com vagar” tratar-se de “sentar e desfrutar de um menu regional ou de degustação”. Inclui-se neste leque o que chama de “processo de A a Z”. Ou seja, acordar de manhã e ir apanhar aquilo que depois irá confecionar na cozinha e, posteriormente, degustar. Em Sintra poderá desfrutar de uma destas experiências premium.

Dormir com tempo” é uma alusão ao lento. “São todos alojamentos fora dos grandes centros, bem isolados”. A aldeia da Pedralva, no Algarve, que Luís destaca como “um dos produtos mais interessantes” do leque, foi construída e recuperada neste sentido do slow village.

Beber com calma” tem um duplo sentido que se traduz também em beber com moderação. “Maioritariamente, este tipo de experiência trata-se de provas de vinhos”. Para aqueles que não dispensam mais emoção, existe a possibilidade de “estar na vinha e pisar o vinho” ou então “fazer um passeio a cavalo numa vinha”. Na região de Lisboa e Vale do Tejo, é possível fazer um passeio rural num carro clássico que termina precisamente com uma visita a uma adega e respetiva degustação.

O cliente

Ainda que no horizonte da empresa – criada há cerca de seis anos – estivesse um projeto virado para os portugueses, rapidamente ficou evidente que os clientes nacionais seriam muito poucos. Na Farm Experiences, “95% dos clientes são estrangeiros”. Estêvão aponta como principal razão o facto de os portugueses terem “algum tipo de contacto com o campo” e, como tal, “não estão dispostos a pagar para trabalhar numa quinta”.

Em sentido inverso, a Slow Portugal opta – por agora – por ter apenas clientes portugueses. Apesar de perceber que é “mais acessível a bolsas estrangeiras”, Luís assume que querem primeiro estabelecer-se a nível nacional.

Com um repertório com mais de 100 experiências, Estêvão aponta que “as mais vendidas são aquelas com os temas mais sexy da agricultura”. Estamos, portanto, a falar de tudo o que envolve “vinhos, azeite e cortiça”. No entanto, sublinha que há muito mais por descobrir. Exemplo disso mesmo é a crescente procura de experiências com “pastores e queijo”, exemplifica.

O sucesso tem sido tal que já está a ser pensada “uma expansão Internacional”, com Espanha, Itália, França como países eleitos para uma “farm experience a nível europeu e, quem sabe, global”, assinala.

No caso da Slow Portugal, é nas épocas festivas, como o Natal ou no Dia da Mãe, que se verifica maior procura. “Oferecem-se muitas provas de vinho, porque é uma prenda fácil, diferente e que abrange um público vasto”. 

O preço da Fé: os milhões gastos na Jornada Mundial da Juventude

 A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) teve início em 1984, durante o pontificado do Papa João Paulo II. A ideia surgiu como uma resposta ao desejo do Sumo Pontífice de estabelecer um encontro regular com os jovens, onde se pudessem reunir num ambiente de oração, reflexão e partilha da fé. Desde então, a JMJ tornou-se num dos maiores eventos religiosos do mundo, contando com a participação de milhões de jovens de vários países. Acontece a cada dois ou três anos e realiza-se num país à escolha do Papa, sendo que, este ano, terá lugar em Lisboa entre 1 e 6 de agosto. 

Com a expectativa de contar com mais de um milhão de pessoas, naquele que é descrito como um dos maiores eventos alguma vez realizados em Portugal, a organização de uma JMJ envolve despesas consideráveis.

Custos

Estão a ser feitos investimentos significativos na construção, reabilitação, adaptação ou melhoria de infraestruturas, nomeadamente de palcos, e áreas de culto. No que toca à logística, o investimento é feito no plano de mobilidade, na segurança, nos serviços de emergência, na comunicação, na acomodação e na alimentação. Já os recursos humanos pressupõem a contratação de uma grande equipa de profissionais necessários para garantir o bom funcionamento do evento, como polícias, meios de socorro, entre outros. Finalmente, somam-se os custos associados à promoção e divulgação de um evento desta magnitude. Destacam-se as despesas com marketing, publicidade e divulgação para atrair participantes quer a nível nacional, como internacional.

O custo total está previsto rondar os 160 milhões euros, metade dos quais dizem respeito a dinheiros públicos. Se este valor já era conhecido, a verdade é que com o aproximar do evento, começam a ser descortinados, com mais ou menos pormenor, a alocação destes milhões.

Lisboa

A Câmara Municipal de Lisboa orçamentou em 35 milhões o valor que tem previsto gastar no evento, tendo detalhado que 21,5 milhões foram destinados para a área do parque urbano do Tejo-Trancão e os restantes 13,5 milhões serão investidos noutros locais da cidade, como o Parque Eduardo VII e o Terreiro do Paço.

É precisamente a cargo da autarquia liderada por Carlos Moedas que está a obra mais cara: a reabilitação do antigo Aterro Sanitário de Beirolas que será o recinto principal da Jornada Mundial da Juventude. Custou 7 milhões e foi adjudicada à empresa Oliveiras, S.A – Engenharia e Construção em concurso público. 

Segue-se o polémico altar-palco, agora com um custo de 2,98 milhões. Porém, este valor foi significativamente revisto em baixa (4,2 milhões) após muitas críticas, inclusive de Marcelo Rebelo de Sousa. A obra foi adjudicada pela SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana à Mota-Engil, a empresa que o autarca de Lisboa garante que “fazia mais barato”.

Além disso, o município gastou 6,6 milhões para reforçar os recursos do Regimento de Sapadores Bombeiros, da Proteção Civil e da Polícia Municipal. Exemplo disso mesmo são os dois contratos de ajuste direto celebrados com a CERTOMA e que ascendem a 1,57 milhões. O primeiro, de 1,15 milhões, prende-se com a “aquisição de seis viaturas do tipo varredoura da marca RAVO Iseries”, qualquer coisa como 191 mil euros por viatura. O segundo, de 427 mil euros, diz respeito a uma “viatura de saneamento modelo TGS 18.4304X2 BL CH Euro 6”.

Soma-se, ainda, um contrato de 1,5 milhões com a MEO para a instalação de pontos multimédia e aluguer de equipamentos técnicos no Parque Eduardo VII. É ainda possível constatar um contrato de 39 mil euros com a Naipe D’Agosto para a “aquisição de serviços de soluções de comunicação e promoção – outdoors – para informação alusiva à Jornada Mundial da Juventude”.

Carlos Moedas reitera que “até 25 milhões de euros ficarão na nossa cidade”, explicando que muitas das infraestruturas terão uso para além deste evento. Feitas as contas, assinala um “investimento líquido no evento de 10 milhões de euros”.

 

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O polémico altar-palco foi adjudicado por ajuste direto à Mota-Engil, no valor de 2,98 milhões de euros. / MARTA RAÑA

 

Chorudo contrato de assessoria com treinador de futebol

O antigo jornalista da TVI, João Maia Abreu, foi contratado em dezembro de 2022 para coordenar as atividades de comunicação e relação com a imprensa. O contrato, de nove meses, ascende aos 37,5 mil euros, o que se traduz num salário mensal superior a quatro mil euros. Também Tiago Abreu, ex-assessor do CDS-PP na Câmara Municipal de Lisboa, assinou um contratoio na mesma altura e com a mesma duração. Neste caso, assumiu funções como membro da Unidade de Missão do Município de Lisboa. O salário fixa-se nos 2,7 mil euros mensais, totalizando 24,7 mil euros. 

O maior contrato de assessoria foi celebrado com um treinador de futebol. Francisco Guimarães foi designado em agosto de 2021 como assessor da vereadora Laurinda Alves. Menos de um ano depois, em julho de 2022, renunciou ao cargo. Auferia 3,8 mil euros por mês. Se cumprisse os dois anos, teria amealhado mais de 91 mil euros.

Loures

A Câmara Municipal de Loures, sob a liderança de Ricardo Leão, prevê desembolsar dez milhões. O encargo mais significativo, no valor de 4,2 milhões de euros, destina-se aos trabalhos de preparação dos terrenos na zona ribeirinha da Bobadela e foi atribuído à empresa Alves Ribeiro

A autarquia celebrou também um contrato de quase 29 mil euros com a Vista Alegre para a aquisição de 94 peças de cerâmica da escultura “Visitação”, do autor José Pedro. Contas feitas, cada peça, que se crê ser para oferta, representa um custo superior a 308 euros.

Governo

Já o Executivo, após uma previsão que apontava para os 36,5 milhões de euros, decidiu rever em baixa e fixar o orçamento nos 30 milhões. 

Uma vez que a Equipa de Projeto para a JMJ não tem número de identificação fiscal próprio, as compras são feitas através da Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros. Assim, no espaço de quatro meses, foram celebrados 15 contratos no total de 8,93 milhões de euros. 

O mais avultado diz respeito aos 5,9 milhões pagos à Pixel Light para “serviços de fornecimento, montagem e operacionalização de sistemas de áudio e vídeo, iluminação ambiente e respetivo abastecimento de energia” para o Parque Tejo-Trancão.

Em relação às instalações sanitárias, o custo final supera aquele que havia sido anunciado em março: 1,15 milhões. A verdade é que o governo adjudicou um contrato com a Avistacidade de 1,15 milhões de euros para a instalação de “141 blocos modulares” de casas de banho, para o Parque Tejo-Trancão, valor que tinha sido anunciado em concurso público um mês antes. 

Porém, dois dias antes, também em concurso público, foi assinado um contrato com a Vendap para a “aquisição de serviços de fornecimento de equipamentos sanitários autónomos e respetivas manutenções/limpezas” do Parque Tejo-Trancão no valor de 1,28 milhões. No total, são 2,43 milhões de euros investidos em instalações sanitárias.

Mais recentemente, em 29 de junho, foi adjudicado um contrato por ajuste direto para a “aquisição de serviços de gestão de plantas halófitas na margem do rio Trancão” no valor de 111,8 mil euros. Uma rápida pesquisa permite perceber que se trata de plantas cujas raízes estão em contacto com água salgada ou que vivem em solos com grandes quantidades de sal. 

Já nesta segunda-feira, 3 de julho, foi celebrado um contrato por ajuste direto de 22,4 mil euros com a empresa FCiências.ID  para “serviços de monitorização da ação de restauro da vegetação de sapal na frente ribeirinha”. 

 

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No parque Edurado VII encontra-se em construção um outro altar-palco, orçamentado em 450 mil euros, que irá ser suportado pela Diocese de Lisboa. /  MARTA RAÑA

 

Plano de Mobilidade 

A menos de um mês do arranque, ainda não é conhecido o plano de mobilidade e transportes, o que tem originado preocupação e críticas de várias fações políticas. A ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, assegurou que será conhecido nos próximos dias e anunciou um reforço de 11%. O que já é certo é que a elaboração deste plano custou 89 mil euros. O contrato, celebrado no final de 2022 e por ajuste direto com a VTM, prevê várias soluções consoante o número de peregrinos que, por agora, é ainda incerto. 

Diocese de Lisboa

Finalmente, a Igreja estima desembolsar um valor em torno dos 80 milhões, conforme avançou o bispo auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar. Desses, 30 milhões estão destinados para os milhões de refeições que serão servidas aos peregrinos. Além disso, também o altar-palco – da autoria do arquiteto João Matos, que terá 40 metros de largura e 24 metros de altura, que já começou a ser instalado no Parque Eduardo VII – que tem um custo de 450 mil euros, ficou a cargo desta entidade. 

 

Qual é o retorno? 

No entanto, apesar dos custos envolvidos, a JMJ também traz um alargado leque de benefícios. Desde logo, promove o turismo religioso e cultural, gerando receitas para o setor de hotelaria, restauração e comércio local. Para além dos impactos financeiros, nomeadamente com o milhão de peregrinos que são esperados, um evento desta magnitude tem tudo para catapultar ainda mais a visibilidade do país, estimulando o turismo a longo prazo e promovendo a imagem de Portugal como um destino acolhedor.

Em Novembro, o coordenador nomeado pelo Governo para a JMJ, José Sá Fernandes, assumiu que o retorno deveria rondar os 350 milhões de euros, tendo como exemplo o caso de Madrid.

Um estudo da PwC, com o apoio técnico do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) estima que cada peregrino vai gastar, em média, por dia, entre 30 a 36 euros. Já no caso dos peregrinos não inscritos, o valor deverá ficar entre 67 a 81 euros. No final, são apontados ganhos entre 411 a 564 milhões, com um impacto na economia que poderá superar os mil milhões.

Para Carlos Moedas, prognósticos só no fim do jogo. No entanto, o autarca sublinha que se cada um destes peregrinos gastar 40 euros por dia em Portugal, ao longo de sete dias, “estamos a falar de 300 milhões de euros. Estamos a falar não de dezenas, mas sim de centenas de milhões”.     

Da resistência à revolução: a evolução do movimento LGBTQIAP+

28 de junho de 1969, Stonewall Inn, Estados Unidos. Este é o ponto de viragem na história da comunidade LGBTQIAP+. Durante a madrugada, gays, lésbicas, pessoas transgénero, travestis e drag queens entram em confronto com a polícia e dão início a uma rebelião que viria a estabelecer os alicerces do movimento pelos direitos LGBTQIAP+ nos Estados Unidos e em todo o mundo. O episódio, que ficou conhecido como Rebelião de Stonewall ou Stonewall Riot, e que é considerado o marco zero do movimento, durou seis dias e surgiu como resposta à violência gratuita e rotineira infligida pela polícia nos bares gay de Nova Iorque. 

Desde então, o Dia Internacional do Orgulho LGBT, celebrado anualmente a 28 de junho, é o símbolo da coragem e resistência daqueles que participaram na manifestação, mas é também altura para (re)lembrar que ainda existe um longo caminho a percorrer na luta contra a discriminação, a violência e a desigualdade.

Há 33 anos, a 17 de maio de 1990, a Organização Mundial de Saúde retirava a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças. Ser homossexual deixou de ser considerado transtorno mental. Desde 2005 que, neste mesmo dia, passou a comemorar-se o Dia Internacional Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia.

A realidade portuguesa

Em Portugal, a homossexualidade e a diversidade de género foram frequentemente reprimidas e marginalizadas. Durante o Estado Novo, regime ditatorial que vigorou de 1933 a 1974, a homossexualidade era ilegal e considerada uma ofensa à moral pública. Essa repressão criou um ambiente hostil para a comunidade LGBTQIAP+, resultando em discriminação, ostracismo e violência.

“Ao longo de uma história de ativismo já com várias décadas, muito dificilmente se poderia falar de um momento único, mas antes de um conjunto de marcos socioculturais, jurídicos e políticos que foram dando forma ao movimento, permitindo-lhe dar resposta a novos desafios. Neste sentido, a transição para a Democracia após a mais longa ditadura da Europa Ocidental foi o evento político de maior relevo para qualquer movimento social em Portugal e que permitiu que outros marcos fundamentais tivessem lugar no campo específico da ação coletiva LGBTQIAP+”, começa por explicar Ana Cristina Santos, investigadora principal em Estudos de Género no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

Mesmo com a queda deste regime, só em 1982 se dá a descriminalização da homossexualidade no nosso país. Assim, de acordo com o Código Penal, a homossexualidade “entre adultos, livremente exercida e em recato”, deixou de ser punível por lei. No entanto, só 13 anos depois, em 1995, é que se verifica uma real mudança. Este foi o ano em que que se celebrou a Rebelião de Stonewall pela primeira vez em Portugal, uma iniciativa levada a cabo pelo Grupo de Trabalho Homossexual, um coletivo associado ao Partido Socialista Revolucionário. Além disso, é também em 1995 que nasceu a ILGA-Portugal, a “maior e mais antiga associação que luta pela igualdade e contra a discriminação”, que se tornou uma voz ativa na defesa dos direitos desta comunidade.

No ano seguinte, é criado o primeiro site para a comunidade LGBTQIAP+ em Portugal, o portugalgay.pt. A socióloga destaca ainda o “primeiro Arraial Pride organizado em espaço aberto, a primeira edição do então Festival de Cinema Gay e Lésbico, a primeira Marcha do Orgulho e, já nos anos 2000, o Fórum Social Português que agregou muitos coletivos e permitiu criar pontes e sinergias como jamais sucedera até então”.

A morte de Gisberta

É já na segunda metade da década de 2000, mais precisamente em 22 de fevereiro de 2006, que acontece o assassinato de Gisberta, mulher trans e sem-abrigo. Foi torturada até à morte por um grupo de menores que acabou por ser condenado a penas entre os 11 e 13 meses por “maus-tratos”. Este é um momento que atua como catalisador do ativismo trans. Não era apenas uma mulher trans, mas também “alguém que tinha tudo contra si. Pessoa totalmente vulnerável, em situação de sem-abrigo, de nacionalidade brasileira, trabalhadora sexual”, aponta Sara Malcato, psicóloga da ILGA. 

Ana Cristina Santos destaca que este episódio “constituiu a maior tragédia que, de uma forma pública e muito mediática, afetou a comunidade LGBTQIAP+, com particular relevo para as pessoas trans (incluindo aqui as pessoas que se identificam como transsexuais e/ou transgénero)”.

saramalcato Da resistência à revolução: a evolução do movimento LGBTQIAP+

A morte de Gisberta não foi em vão. Gerou-se uma onda de indignação e revolta tanto a nível nacional como a nível internacional. “Trouxe para o centro da reflexão a vulnerabilidade das vivências trans, com elevado grau de precariedade laboral, pobreza e transfobia”, sublinha a investigadora. “Revoltou as pessoas, nomeadamente as pessoas LGBTQIAP+, que se reviram naquilo e perceberam que ‘a próxima posso ser eu e não vou ter proteção social ou legal’”, enfatiza a psicóloga.

Além disso, “teve consequências sociais e jurídicas de relevo, como o aparecimento de coletivos e associações trans, a realização da Primeira Marcha do Orgulho do Porto e o agravamento das penas de crimes por ódio sexual”, destaca Ana Cristina Santos que, porém, lamenta não se ter ido mais além. “Esse momento de consternação acabou por se diluir, sem se ter traduzido noutras medidas a médio e longo prazo que permitissem maior qualidade de vida às pessoas trans”.

Os avanços históricos em Portugal

Em 2010, Portugal fez história ao tornar-se um dos primeiros países do mundo a aprovar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Três anos depois, em 2013, outro importante marco: a lei da coadoção, que permitiu que casais homossexuais coadotassem filhos adotivos ou biológicos dos parceiros.

Já em 2015, foi aprovada a adoção por casais homossexuais, que garantiu que casais LGBTQIAP+ tivessem os mesmos direitos e oportunidades de formar famílias que casais heterossexuais. Finalmente, a mais recente vitória aconteceu em 2021: a eliminação da discriminação na doação de sangue, medida que colocou um ponto final a uma política discriminatória que impedia que homens gays e bissexuais fizessem doações de sangue.

O papel da Escola

Apesar dos inegáveis avanços, continuam a existir desafios no caminho da igualdade LGBTQIAP+ em Portugal. Prova disso mesmo é a saída do país do top-10 no ranking da ILGA Europa sobre os direitos desta comunidade, que tem em conta parâmetros como as leis do país e a segurança. “Revela que estamos estagnados. Não é que estejamos a criar leis punitivas, só que há países que, de facto, têm leis mais inovadoras e que já têm conseguido alcançar metas que Portugal ainda não alcançou, nomeadamente no que toca à saúde das pessoas LGBTQIAP+, principalmente as pessoas trans”, explica Sara Malcato.

A discriminação, a violência e o estigma ainda se fazem (e muito) sentir. O ativismo e a mobilização são fundamentais para enfrentar esses desafios, garantindo que os direitos desta comunidade são protegidos em todas as esferas da sociedade. E a Escola tem um papel fundamental para que as pessoas LGBTQIAP+ sejam verdadeiramente incluídas na sociedade. 

“Sem a Escola nunca vai existir verdadeira inclusão”, aponta. No entanto, apesar de existir uma lei da educação para sexualidade desde 2009, a verdade é “que o que há – quando é – é falar de prevenção de gravidezes não desejadas e DST’s”, lamenta. 

“O problema não são as crianças, são os adultos”, considera. “Há um medo muito grande de alguns adultos – que não tiveram educação sexual nas escolas – de acharem que se falam sobre sexo, os adolescentes vão começar a fazer sexo desenfreado. Aquilo que a investigação nos tem demonstrado é exatamente o oposto. Quanto mais informação temos, melhores escolhas fazemos”, esclarece. Nesse sentido, realça a importância de continuar a “adotar legislação que criminalize práticas como a homofobia, a transfobia, biofobia”, foca. “Não temos uma lei clara que criminaliza a homofobia, só temos contra o discurso de ódio”, assinala.

O fim das ‘terapias’ de conversão

Ana Cristina Santos começa por destacar o caráter de urgência no que toca à “proibição definitiva das chamadas ‘terapias’ de conversão”, uma reivindicação que deverá ser “finalmente obtida a breve trecho”, espera.

Acrescenta que “falta ainda garantir um conjunto de medidas de caráter interseccional, ou seja, medidas dirigidas a pessoas LGBTQIAP+ racializadas, migrantes, presidiárias, com deficiência ou doença crónica e/ou no envelhecimento. Não podemos continuar a projetar um modelo de tipo one size fits all: é preciso reconhecer e acolher as especificidades, procurando ajustar e enquadrar numa lógica de respeito pela dignidade e promoção dos direitos humanos”.

Ana+Cristina+Santos Da resistência à revolução: a evolução do movimento LGBTQIAP+

Além disso, defende que para além das mudanças na legislação, é necessário criar ou reforçar mecanismos que assegurem a aplicação das mesmas. “Há um forte défice de medidas de acompanhamento e monitorização que garantam a efetiva aplicação de leis aprovadas”, enfatiza.

Sara Malcato recorda ainda que individualmente  há também um papel a desempenhar. “Cada um de nós é parte da sociedade”, explica. “Quando ouvirmos uma piada que tem o intuito de humilhar um grupo de pessoas não nos rirmos ou quando virmos um comportamento que não é o mais adequado, devemos intervir”, frisa.

Uma nova ameaça

Após um período marcado por importantes conquistas tanto a nível social, como a nível jurídico na proteção das pessoas LGBTQIAP+ contra discriminação, desigualdade e violência, a verdade é que os “movimentos populistas anti-género e de extrema-direita que procuram desacreditar e reverter os avanços obtidos, fazendo incidir a sua crítica mais feroz no trabalho de proteção a crianças e jovens LGBTQIAP+ e/ou de género diverso” têm ganho força um pouco por toda a Europa e Portugal não é exceção, sublinha Ana Cristina Santos.

“Disso mesmo damos conta no projeto Infância Arco-Íris que desenvolvemos no Centro de Estudos Sociais (CES-UC) com financiamento da Comissão Europeia e em parceria com outras universidades e entidades a nível europeu”, adianta.

No entanto, não são só estas faixas etárias mais jovens que são afetadas. “Também nos projetos REMEMBER e TRACE – ambos sobre envelhecimento e diversidade sexual e de género – percebemos junto das pessoas entrevistadas que o crescimento da extrema-direita constitui o maior medo que pessoas LGBTQIAP+ acima dos 60 anos enfrentam quando pensam no seu futuro. Este é um dado particularmente triste quando percebemos que estas são as mesmas pessoas que, durante a sua infância e juventude, viveram no armário justamente como consequência de uma ditadura que perseguia e punia a homossexualidade com penas até dois anos de prisão. Assistir ao ressurgimento deste medo na reta final das suas vidas é perturbador”, conclui a investigadora.

Drogas sintéticas: a nova face de um problema antigo

Com o objetivo de promover avanços na ciência, mais concretamente na área da saúde, especialistas conceituados iniciaram testes que consistiam na modificação da estrutura molecular de certas substâncias. Destes resultaram compostos com propriedades distintas, nascendo assim o conceito de drogas sintéticas.

A TejoMag esteve à conversa com a médica psiquiatra Maria Moreno, que começa por explicar que se trata de  “substâncias químicas produzidas em laboratórios clandestinos e em países onde não existe controlo regulatório adequado”. Têm “efeitos psicoativos, ou seja, afetam a função do sistema nervoso central, alterando a perceção, o humor, a consciência e o comportamento das pessoas que as consomem” e, por norma, “são projetadas para imitar ou potencializar os efeitos das substâncias controladas, como anfetaminas, opiáceos ou canabinóides, ou para criar novos efeitos”.

Alerta que, apesar de serem vendidas como alternativas legais às drogas mais comuns, a verdade é que, em muitos casos, “são mais potentes e mais perigosas do que as drogas originais”. A falta de regulamentação a nível de segurança e controlo de qualidade, que fica evidente com o uso de “uma ampla variedade de produtos químicos para produzir essas drogas muitas vezes sem considerar a segurança ou a pureza dos produtos químicos”, pode ter efeitos adversos trágicos, podendo mesmo levar à morte.

Fáceis de esconder e de transportar, quer pelas pequenas quantidades que facilmente geram centenas ou mesmo milhares de doses, quer pelo surgimento de novas maneiras de consumo, nomeadamente em forma de spray nasal, como também em líquido para cigarros eletrónicos, estes estupefacientes são uma ameaça cada vez mais real à saúde pública. 

De acordo com o Relatório Europeu sobre Drogas 2022, todas as semanas surge uma nova NSP na Europa, situação que inspira cada vez maior preocupação. Em 2021, foram identificadas 52 novas drogas, aumentando para 880 o número total de NSP monitorizadas pelo Sistema de Alerta Rápido da União Europeia. 

O consumo em Portugal

Em Portugal, o consumo disparou nos últimos anos a partir do momento em que passou a ser possível comprar pela Internet. Os internamentos em psiquiatria por uso destas drogas duplicaram na Madeira e a situação tem vindo a escalar nos Açores. 

Assim, Sara Madruga da Costa, deputada do PSD, deu entrada, no passado mês de maio, na Assembleia da República, com um projeto de lei que pretende equiparar as drogas sintéticas às clássicas e assim permitir a posse de pequenas quantidades para consumo. O objetivo, de acordo com o jornal PÚBLICO, é proteger aqueles que precisam de tratamento.

Um inquérito online levado a cabo pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) revela que os estupefacientes mais consumidos no nosso país, em 2021, eram da família das anfetaminas, como a metanfetamina, a LSD e a MDMA (comumente conhecida como ecstasy ou molly). Porém, esta lista é extensa e está em constante evolução, fruto de todos os dias surgirem novas substâncias, destaca Maria Moreno.

Os dados dão ainda conta de que a maioria dos consumidores em Portugal são jovens do sexo masculino entre os 18 e os 24 anos, que frequentam ou já concluíram o ensino superior e que consomem em contexto de diversão e quase sempre acompanhados. 

“Parece que estás dentro do teu próprio filme”

Foi precisamente neste contexto que José [nome fictício], de 23 anos, teve o primeiro contacto com uma destas substâncias. “Estava numa festa, havia um amigo com isso e quis experimentar”, recorda. A droga escolhida foi ketamina, também conhecida como K ou Special K. Foi criada em 1965 para fins anestésicos, nomeadamente veterinários. 

“Deixa-te super relaxado, sentes o corpo mais leve que o habitual, tudo de mal que se está a passar na tua vida passa enquanto estás sob efeito. Parece que estás numa pequena bolha; tens noção do que está à tua volta, mas parece que estás dentro do teu próprio filme. O efeito prolongou-se durante alguns dias, mas revela que “passado um tempo, há sempre um momento menos bom”, que descreve como ”uma pequena depressão”. “Não entras num buraco negro de tristeza, nem te queres matar, ficas só um bocadinho em baixo”. Também experimentou speed, que o deixou “mais ativo”. 

Relato semelhante faz-nos António [nome fictício], um ano mais velho. “Começou num grupo de amigos que quiseram experimentar e usufruir da experiência de MDMA”, assume. Também conhecida por ecstasy, foi descoberta em 1914 pela farmacêutica Merck, como medicamento para diminuir o apetite, mas nunca chegou a ser comercializada. “Não era algo regular, só esporádico”, prossegue, acrescentando que cada toma equivalia a um comprimido que “custava 10 euros”. No caso de “MDMA 0.5/1 grama” já passava para o dobro: 20 euros. 

As (nefastas) consequências

Para além de poder resultar em dependência, com consequências nefastas em vários quadrantes da vida pessoal e profissional, “os danos psicológicos e físicos podem variar dependendo de vários fatores como o tipo de droga (o seu modo de ação no cérebro, os seus efeitos físicos e psicológicos, o potencial de dependência e a legalidade), a quantidade consumida, a frequência de uso e suscetibilidade de quem a consome (os fatores genéticos e os fatores de stress ambiental têm um papel central)”, frisa a psiquiatra.

“No geral, podem causar alterações significativas no sistema nervoso central e estão associadas a sintomas psiquiátricos graves, incluindo a euforia, aumento de energia, insónia, delírios e alucinações. Além disso, pode resultar em danos no fígado, coração e pulmões”, ressalva, alertando ainda para substâncias extremamente potentes como o fentanil que “podem causar depressão respiratória e morte, mesmo em doses muito pequenas”.

Embora tenha conseguido travar o consumo sem recorrer a qualquer tratamento, a verdade é que António não deixou de sofrer as consequências. “Senti ressaca com MD. Depois de ter chegado à cama comecei a ter suores frios, o corpo super quente, muito nervoso e ansioso com algo que não existia, no fundo. Muito agitado, muitas voltas na cama”, recorda, garantindo que nunca mais voltou a usar, nem tenciona fazê-lo.

José não sentiu ressaca, apenas ficou como quando bebe “um bocado”. Nunca sentiu dependência. Explica que “provavelmente teria de usar mais vezes para ter”. Tal como António, não pretende continuar a usar: “não quero porque é droga”.

No entanto, nem todos podem dizer o mesmo. Quando existe adição, é necessária uma abordagem multidisciplinar. O primeiro passo diz respeito “à avaliação por um médico psiquiatra para perceber se existe abuso ou dependência, se o consumo é primário (de modo recreativo com os amigos, por exemplo) ou secundário (se surge para colmatar um sintoma psiquiátrico não tratado, uma insónia por exemplo), perceber que fatores de risco existem (há familiares com dependência desta ou outras substâncias? A pessoa vive isolada ou tem apoio?), entre outros que vão determinar a melhor abordagem”, destaca Maria Moreno.

Geração Alpha: um guia para compreender estas crianças

Mark Prensky explica que os nativos digitais são crianças que nascem e crescem num ambiente dominado pelas novas tecnologias e, como tal, dispõem de uma facilidade inata no seu uso. Assim sendo, é-lhes impossível fugir a esta tendência; o uso de assistentes digitais e acessórios inteligentes faz parte da sua rotina do dia-a-dia, é quase tão natural como respirar. Destacam-se pela maior independência e facilidade em esclarecer dúvidas sem necessitarem de recorrer a terceiros. O Google é, normalmente, o eleito para tal função.

Os Millennials, que nasceram entre 1980 e 2000, são agora responsáveis por duas novas gerações, a Geração Z, nascida entre 1995 e 2009, e a Geração Alpha, nascida após 2010. Esta última caracteriza-se por possuir uma só identidade, não estabelecendo qualquer distinção entre o online e o offline, a identidade virtual da real. Para estes jovens, o mundo virtual funciona quase como uma extensão do mundo real e isso acontece porque grande parte das suas vidas são passadas no ciberespaço, seja através de interações nas redes sociais ou em videojogos. É nestes espaços virtuais que socializam e onde partilham informação e conhecimento.

Quem é a Geração Alpha?

Como explica Sofia Verdasca, mestre em Ciências da Educação, esta é “a primeira geração que nasce totalmente ligada às tecnologias. Já nascem com o TikTok, com os vídeos curtos, com toda uma interatividade que as gerações anteriores não têm e isso altera a forma como interagem uns com os outros no dia-a-dia”. Esta familiaridade e extrema dependência do mundo digital tem aspetos positivos e negativos. Se por um lado capacita estes jovens para desenvolverem um conjunto de competências que lhes permite serem mais autónomos e livres, por outro, resulta em défices de concentração, atenção, criatividade e imaginação. 

“Estão habituados a ter uma resposta imediata a tudo o que querem. Agarram no telefone, no tablet, pesquisam qualquer coisa. Aquilo que notamos é que são muito mais impacientes, têm muita dificuldade em esperar pela sua vez, em pôr o dedo no ar e esperar pelo professor”. Ana Verdasca, licenciada em Psicologia e pós-graduada em Necessidades Educativas Especiais, revela que é notória a facilidade com que “se fartam e se desligam seja do que for”.  É também aqui que a Academia Geração Alpha, um espaço lúdico-pedagógico, ajuda as crianças a trabalhar estas lacunas através de um conjunto de atividades.

“Todas as semanas trabalhamos as competências cognitivas, emocionais e sociais. Notamos que quando são atividades em que estamos a falar com elas e queremos que falem connosco a atividade não corre assim tão bem. Mas se a atividade consistir em mostrar-lhes um vídeo no YouTube é completamente diferente”, aponta Sofia Verdasca.

Os impactos da pandemia

A pandemia da covid-19 veio agravar este isolamento social. “Tiveram mais contato com os computadores e estiveram mais isolados. Temos crianças que começaram a escola já em pandemia e aquilo que conhecem da escola foi através destes dispositivos. Os amigos que fizeram foi através dos telemóveis. Há cada vez mais miúdos a isolarem-se”, alerta. Muitas vezes os pais não sabem como lidar com várias situações e procuram cada vez mais “apoio psicológico” para perceberem as suas limitações e como lidar da melhor forma com as dificuldades dos filhos.

“Outra coisa que é transversal a praticamente todas as crianças é a dificuldade em comunicar, em expressar aquilo que querem, aquilo que sentem. A maioria isola-se porque não sabe lidar com as emoções. Temos crianças que com os pares, pessoalmente, não conseguem manter uma conversa, não se conseguem expressar. Mas se calhar esta mesma criança numa rede social é extremamente sociável e comunica super bem”, assinala. “As competências sociais e emocionais estão comprometidas”, considera. Tudo isto levou a um inevitável aumento de casos de crianças com ataques de ansiedade e depressões. “Está tudo interligado”, adverte.

Também conhecida como Geração Floco de Neve no meio académico, estes jovens, especialmente após a pandemia, mostram maior vulnerabilidade, maior fragilidade e maior propensão a terem dificuldades de aprendizagem. São jovens que não sabem lidar com frustrações e problemas. 

Ensino obsoleto

Este fosso geracional entre nativos digitais e imigrantes digitais – termo usado por Mark Prensky para descrever todos aqueles que não estão familiarizados com o uso de ferramentas digitais – é o grande desafio da educação. Entende que cabe aos professores alterar as suas estratégias com o objetivo de cativar a atenção e o interesse dos alunos. 

Sofia Verdasca defende que a “escola tem um papel que começa a ser urgente e diz respeito à alteração das metodologias de ensino. Já não é produtivo ter crianças sentadas durante 1h30 a ouvir o professor. Passado 30 minutos já não ‘estão’ lá”. Sublinha ainda que o “papel dos educadores também é transformar a tarefa escolar mais apetecível, utilizando mais as tecnologias, ensinando de outra forma com mais estímulos”. 

Defendem ser mais proveitoso para as crianças passarem curtos períodos de tempo “realmente concentrados naquela tarefa e de seguida poderem fazer outras coisas” do que as longas aulas que continuam a ser lecionadas. Além disso, destacam a questão dos trabalhos de casa que “são feitos por fazer”.geracaoalpha2 Geração Alpha: um guia para compreender estas crianças

Como lidar com esta geração?

A melhor maneira de lidar com esta realidade é perceber que o contacto com a tecnologia veio para ficar. Ao invés de proibir, deve-se sim fomentar o seu uso de forma segura e equilibrada, impondo limites. As educadoras não têm dúvidas de que é fundamental haver regras de utilização das tecnologias. “À medida que vão crescendo, vai aumentado o tempo de permanência”.

  • Até aos dois anos:  o uso de qualquer aparelho digital não é aconselhado e deve ser evitado,
  • Entre os dois e os cinco anos: limitado a uma hora por dia acompanhado de um adulto;
  • Dos seis aos 10 anos: no máximo duas horas por dia com supervisão de um adulto.

Além disso, os pais devem incentivar e ser parte ativa nas brincadeiras e jogos fora de casa, ao ar livre. No entanto, muitas vezes, não há espaço para tal, seja por falta de tempo ou por falta de paciência. “Chega-se a casa cansado do trabalho, com o jantar para fazer, com roupa para tratar… É muito apetecível ter o miúdo quieto à frente do tablet ou da televisão”, explica Sofia Verdasca.

Os pais têm um “papel um bocadinho ingrato”, aponta. “Por um lado, dão-lhes o telemóvel e dão-lhes a tecnologia porque ela existe e porque também querem poder telefonar a qualquer momento e saber como é que o filho está. Mas, por outro lado, tem o senão de não lhes conseguirem tirar o telemóvel”, confessa.

Para ajudar os pais a lidar com esta dependência da tecnologia, Ana e Sofia Verdasca enviam as atividades que foram feitas durante o dia na Academia e explicam como correu e qual o objetivo. “São ideias que podem adotar em casa”. É importante utilizar a tecnologia de uma forma positiva, nomeadamente ao envolver os filhos nas atividades “e não os deixar isolados nos quartos”, aponta Ana Verdasca.

“É importante que os pais demonstrem que estão presentes. Envolvê-los nas conversas de casa, perguntar como é que correu o dia”, sublinha Sofia Verdasca. Para tal, podem ser feitos alguns jogos para tornar o momento mais lúdico. Um exemplo prático consiste em perguntar-lhe quais as três melhores e as três piores coisas que aconteceram hoje no dia. Isto vai levar as crianças a pensar sobre o que fizeram no dia e também vão perceber que os pais estão interessados, que se interessam por eles, que não estão sozinhos e que os problemas podem ser partilhados”, acrescenta. 

Principais preocupações 

Esta é também uma geração mais atenta e preocupada com o que o futuro lhes reserva. Como tal, à semelhança do que aconteceu com os Millenials, vão priorizar a carreira ao invés de constituir família. Não só por questões de ordem financeira, mas também por questões ambientais. Isto porque estão bem cientes das consequências das alterações climáticas. 

A preocupação em preservar o planeta surge bem cedo. “Temos crianças com seis anos que já sabem o que é a reciclagem, sabem o que é que têm que pôr naquele sítio. Sabem também que a água tem que ser reaproveitada e quando deixamos a luz da sala acesa dizem-nos ‘não te esqueças de apagar a luz’. Já são eles que ralham”, explicam as educadoras.

No entanto, as redes sociais também promovem padrões de beleza irreais. O relatório do Projeto Dove pela Autoestima dá conta de que 9 em 10 crianças são expostas a conteúdos de beleza tóxicos nestas plataformas. Metade refere que tal teve impacto na sua saúde mental. “Temos aqui crianças de seis e sete anos que dizem que estão gordas”, alertam as profissionais da Academia Geração Alpha.