Filipe Leonardo: “Nunca foi tão fácil arranjar um primeiro emprego como agora”

Em entrevista com Filipe Leonardo, é debatida a importância da preparação para uma entrevista de emprego, seja ela psicologicamente ou fisicamente. Filipe dá também alguns conselhos para quem vai iniciar o seu trajeto no mercado de trabalho e para aqueles que pretendem mudar de área profissional. 

Para conhecermos um pouco mais sobre si, pergunto-lhe como foi a sua trajetória até chegar a Associate Partner na Deloitte?

Na realidade, faz este ano 15 anos que ingressei na vida profissional. Tirei o curso de engenharia eletrotécnica do Instituto Superior Técnico, com especialização em telecomunicações e sistemas de decisão em controlo, há quinze anos. Desde aí que tenho trabalhado em tecnologia e em consultoria tecnológica. Quando terminei o Técnico quis ingressar em consultoria porque via como sendo uma extensão da faculdade, ou seja, a perspectiva de poder trabalhar em múltiplos clientes, múltiplas geografias e desafios profissionais. Era algo que me atraía bastante e foi por isso que apontei sempre para poder fazer parte de uma grande consultora tecnológica. Na altura estive em dois processos de recrutamento, um na Deloitte, onde me encontro neste momento, e outro numa empresa boutique de consultoria mais focada em telecomunicações na Maksen, que foi um spinoff da Deloitte em 2003. Consegui a vaga na Deloitte e, curiosamente, em 2015 foi feita uma aquisição dessa mesma empresa pela Deloitte. Tenho evoluído muito profissionalmente nos vários “degraus da pirâmide” de consultoria, até onde me encontro hoje como Associate Partner. 

Algo que os jovens nos dias de hoje afirmam sentir e viver bastante é a dificuldade em arranjar emprego, principalmente o primeiro. Considera que é mais difícil, atualmente, arranjar trabalho?

Eu tenho uma visão muito positiva em relação a esse assunto. Acho que nunca foi tão fácil arranjar um primeiro emprego como agora. Claro que eu tenho as “lentes” da tecnologia pois é essa a minha área de especialização e onde trabalho, mas, na prática, existe uma grande mudança no trabalho e na forma como o executamos. Com o impacto que a Covid-19 trouxe à nossa sociedade, é normal que existam trabalhos remotos, portanto, em Portugal, posso estar no interior a trabalhar para grandes empresas internacionais e estar a trabalhar para fora. Desta maneira, tenho uma base de empresas “alvo” muito mais alargada do que tinha há uns anos. Tenho muitos amigos nessas circunstâncias e que estão em empresas internacionais a trabalhar de Portugal para fora que, por acaso, é algo que acontece no meu departamento, em que 80% dos nossos serviços são prestados a clientes fora de Portugal. Depois temos também a atratividade do país, ou seja, nos últimos anos Portugal está muito “na moda” principalmente nas áreas tecnológicas e tem existido um conjunto de empresas internacionais que têm trazido os seus centros de inovação e centros de excelência para Portugal, o que tem alargado as oportunidades nas áreas tecnológicas.

Ao contratar alguém, quais são os critérios que utiliza?

Na prática, classifico em duas componentes: uma de soft skills e outra de hard skills. Pela área que represento, da engenharia de telecomunicações, é basilar a existência de um conjunto de competências tecnológicas. Portanto, essas são as hard skills que têm de estar lá e que são fundamentais. Por outro lado, temos as soft skills que são fundamentais num negócio de consultoria, ou seja, o facto de eu conseguir comunicar de forma efetiva com os meus clientes, conseguir compreender as suas necessidades, os seus pain points, como construir soluções adequadas aos seus desafios e, para isso, preciso de conseguir aferir se os candidatos têm essas soft skills que são fundamentais para a execução das suas atividades. 

Nesse processo de entrevista, existe a necessidade de analisar não só o conhecimento, como também a forma como os candidatos se apresentam?

Sem dúvida. Essa é uma componente das soft skills que é um conjunto de princípios que são basilares, como por exemplo o profissionalismo, a postura, a forma como comunicam, a forma extrovertida como se apresentam por vezes… acabam por ser características de que estamos à procura. O foco não passa pela aparência física. Dos cinco mil funcionários que temos, existem muitos que gostam de adotar uma postura mais descontraída, inclusive na indumentária. Mas damos mais valor à postura da pessoa, aos princípios de profissionalismo e de ética que acabam por não ser negociáveis.

Considera que a primeira impressão importa num contexto de entrevista?

Sim. É algo fundamental e nato à natureza humana. Eu diria que qualquer um de nós, quando conhece alguém, nos primeiros dez segundos acaba por criar logo uma imagem mental dessa mesma pessoa e no mundo profissional é igual. Portanto, essa capacidade de conseguir encher a sala e de conseguir mostrar alguns aspetos das características até mesmo pessoais e da sua personalidade é fundamental.

Ainda são algumas as pessoas que optam por mudar de área a determinada altura da sua vida. No seu ponto de vista, é benéfico mudar?

É e enriquece muito aquilo que é a nossa empresa. Dou-lhe dois exemplos de medidas que implementámos na Deloitte: Um dos programas, inclusive uma marca registada da Deloitte, é o programa Brightstart que, na prática, tem o objetivo de desenvolver cursos profissionais e cursos universitários, em parceria com Institutos Politécnicos. Neste momento, temos mais de cinco programas desta matriz a acontecer em Portugal, com o objetivo de não só conseguir capturar o talento certo, mas também promover o desenvolvimento académico e profissional dos alunos. Um segundo programa que temos é o UPskill, que tem como objetivo recrutar algumas pessoas que decidem “dar uma volta de 180 graus” na sua vida profissional. Temos o exemplo de um membro da nossa equipa que ingressou no ano passado e que era da área da biologia marinha e que tirou uma formação em tecnologias cloud. É o exemplo de alguém que já vinha com uma experiência de dez anos, que trazia experiência numa área muito específica e que deu esta volta na sua carreira e está a ser uma mais valia para a nossa equipa.

Que conselhos daria a um adulto que pretende mudar de área?

Primeiro acho que é fundamental ter um bom equilíbrio entre aquilo que é o objetivo “romântico” do trabalho e aquilo que são as saídas profissionais. Eu posso adorar e saber imenso sobre espécies de caracóis, por exemplo, mas sei que isso não tem qualquer saída profissional. Portanto, é sempre muito importante que exista esta noção de quais são as saídas profissionais dos cursos em que se estão a focar. Depois é preciso que se foquem, que se dediquem, que invistam e que se divirtam ao longo do processo. Nós passamos cerca de dois terços da nossa vida muito focados naquilo que é o nosso trabalho profissional, por isso, que isso seja também uma fonte de prazer. Tenham foco, determinação e resiliência.

Para finalizar e regressando ao tema do primeiro emprego, o que diria se se deparasse com uma pessoa que está à procura do seu primeiro trabalho?

Tenham uma mente aberta! É importante que, no início da carreira profissional, sejam flexíveis e tenham uma mente aberta para os desafios e para aprender. É importante para serem lançados numa área de desconforto, porque é isso que representa o crescimento. É dessa forma que conseguem evoluir e especializar-se. Aproveitem o processo em si. Tem de ser uma altura de novos horizontes e de se poderem encontrar do ponto de vista pessoal e profissional. Não tenham medo do desconhecido, abracem esse desconhecido. 

Latest articles

Related articles

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui