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Jornada Mundial da Juventude já tem app para telemóvel

A app, que está disponível tanto para Android como para iOS, tem como objetivo fornecer toda a informação necessária relativa ao evento e ajudar os participantes em termos de orientação e logística.

Além de estar disponível nos cinco idiomas oficiais da Jornada Mundial da Juventude: português, inglês, francês, espanhol e italiano, a maioria dos conteúdos estará disponível offline, tornando-a uma ferramenta útil para os peregrinos.

Entre as funcionalidades, destaca-se a possibilidade de ativar notificações para lembretes e avisos de última hora, bem como o acesso a contactos úteis e de emergência. A aplicação também disponibiliza a programação dos seis dias de JMJ, incluindo uma agenda para os Eventos Centrais, Festival da Juventude, Cidade da Alegria e Encontros Rise Up.

Todas as funcionalidades da app

Através do mapa interativo da app, os utilizadores podem localizar com facilidade os diferentes eventos, recintos e informações sobre a restauração. Além disso, é possível encontrar os restaurantes aderentes à rede de restauração, bem como a localização de bebedouros, casas de banho na cidade, postos de saúde, postos policiais e outros serviços.

A secção “Up2Pray” é dedicada aos conteúdos espirituais da jornada, incluindo as leituras e cânticos de todos os Eventos Centrais, bem como o Hino e a Oração oficial da JMJ.

Outra funcionalidade interessante é o “Calculador da Pegada de Carbono”, que mede o carbono consumido por cada peregrino. Esta ferramenta identifica o impacto na deslocação até Lisboa e apela ao utilizador para adotar comportamentos mais sustentáveis no dia a dia para mitigar as consequências iniciais.

Após o registo na aplicação, os peregrinos, voluntários, clero ou media terão acesso ao perfil de utilizador e poderão consultar informações como o pacote de alimentação escolhido (incluindo o voucher digital), o setor em que estão alocados no Campo da Graça no Parque Tejo, o local do Encontro Rise Up em que irão participar, o calculador da pegada de carbono, o contacto do líder do grupo (se aplicável) e a credencial digital.

A aplicação “Lisboa 2023” pode ser descarregada na Play Store para Android e na App Store para iPhone.

Lançada petição para tornar capacete obrigatório na condução de trotinetas

Está a circular na Internet uma petição que quer levar à Assembleia da República o debate sobre a importância da utilização de capacete na condução de trotinetas elétricas em Portugal. O objetivo será mudar a legislação em vigor para tornar o capacete obrigatório para todos os utilizadores.

A Associação Novamente – a única no país que apoia doentes com traumatismos cranioencefálicos – está preocupada com o número crescente de acidentes durante a utilização destes equipamentos. Segundo dados do INEM, em 2021 foram registados 946 acidentes. No ano passado, o número disparou para 1.691. Representa uma média diária de 141 acidentes.

“Os traumatismos cranioencefálicos graves fazem com que tudo o que fazemos no dia a dia seja suspenso. No limite, a vítima pode ficar em coma. Pode ser preciso reaprender coisas básicas como ler, falar ou comer. O nosso cérebro faz uma espécie de ‘reset’ mas há sequelas que ficam para toda a vida”, esclarece à TejoMag Vera Bonvalot, diretora executiva da Associação Novamente.

Um a cada quatro acidentes com trotinetas pode resultar em traumatismos cranioencefálicos. A responsável da associação sem fins lucrativos criada por pais, médicos e amigos de traumatizados crânio-encefálicos explica que basta circular a velocidade superior a 20 km/hora para aumentar significativamente o risco de acidente que provoque sequelas graves no utilizador. “Só o capacete protege a cabeça. É urgente meter capacetes nas cabeças das pessoas. Estamos a falar de uma proteção essencial”, remata Vera Bonvalot.

micromobilidade2023+(5) Lançada petição para tornar capacete obrigatório na condução de trotinetas

Por enquanto a lei não prevê a obrigatoriedade de utilização de capacete de proteção.

Carlos Moedas reconhece que existem problemas associados às trotinetas: A quantidade de dispositivos em circulação, a velocidade a que andam e a forma como são estacionados na via pública. Em Paris, um referendo à população vai tornar as trotinetas proibidas.

O ponto mais importante da questão está na lei. De acordo com o Código da Estrada, as trotinetas, bem como os dispositivos de circulação com motor elétrico, quando equipados com motor com potência máxima contínua de 0,25 kW – e atingindo a velocidade máxima em patamar de 25 km/h – são equiparados a velocípedes sem motor. A lei não prevê a obrigatoriedade de utilização de capacete de proteção.

Mas há empresas operadoras deste tipo de dispositivos que já obrigam ao uso de capacete. Colocam-no, aliás, nos contratos celebrados com os utilizadores ou nas próprias trotinetas, visíveis para quem usa.

micromobilidade2023(14) Lançada petição para tornar capacete obrigatório na condução de trotinetas

O objetivo da Associação Novamente será atingir ou superar as 7.500 assinaturas para que a petição siga diretamente para discussão em hemiciclo no Parlamento.

Questionada sobre a presença de trotinetas na cidade, Vera Bonvalot responde: “Não somos contra as trotinetas nem as bicicletas. Pelo contrário, consideramos que são muito bem-vindas para substituir os automóveis nas ruas e estacionamentos das grandes cidades. Mas sem regras, não. Não é nossa missão fazer prevenção rodoviária, mas ajudar as pessoas e evitar que haja mais acidentes. Quem está lá fora não sabe, como nós, o quão grave pode ser uma simples queda”.

Foi por isso que a Associação Novamente lançou uma petição pública em site próprio para levar o tema dos capacetes ao Parlamento. Conta atualmente com cerca de 3.100 assinaturas. Há várias formas de submeter uma petição à Assembleia da República. Tem tudo a ver com o número de assinaturas recolhidas. Segundo o site do Parlamento, se uma petição recolher entre 2.500 e 7.500 assinaturas, o tema proposto será apreciado pela comissão parlamentar competente, em debate a ter lugar logo a seguir à apresentação do respetivo relatório final pelo Deputado ao qual foi distribuído. A partir das 7.500 assinaturas, a petição é apreciada diretamente em plenário da Assembleia, podendo depois ser transformada numa iniciativa legislativa.

O objetivo da Associação Novamente é chegar às 7.500 assinaturas. “Acreditamos que o debate sobre a utilização de capacetes vai trazer, por arrasto, outros temas importantes ao debate como a velocidade das trotinetas e as normas de utilização dos equipamentos na via. Em Espanha e na Austrália, por exemplo, as trotinetas já têm capacete incorporado. Itália também incentiva o uso de capacete.
Não é uma questão cultural”, conclui Vera Bonvalot.

Gentrificação sem mais valia

Dora Correia é administrativa de primeira, mãe de dois filhos e mora na “outra banda”, no concelho de Almada. Veio a Lisboa à manifestação pela habitação “Casa para Viver”.

Existe uma crise de habitação na vossa freguesia do Laranjeiro e Feijó?

Ah sim, existe.

Para todos ou mais para as famílias?

Eu tenho dois filhos na idade escolar. Existe uma crise de habitação também na nossa freguesia.

Mesmo sendo uma grande parte dos imóveis de cariz social público?

Sim, não se espera à primeira vista na nossa zona. Contudo as dificuldades de arrendamento a preços acessíveis são muitas. Uma grande parte são de fato apartamentos com apoios sociais, mas existem igualmente apartamentos de aluguer privado.

Existe um novo fluxo crescente de arrendatários no Laranjeiro?

Sim, existem muitas pessoas que foram para lá morar nos anos passados. Os proprietários viram-se obrigados a aumentar as rendas por terem dificuldades em manter os imóveis.

A Dora foi pressionada a sair do seu apartamento?

Eu morava com os meus filhos num T3 e fui pressionada a sair porque a renda mensal ia ser aumentada para 700 Euros.

doracorreia2023 Gentrificação sem mais valia

Dora Correia e Sandra Ribeiro acudiram juntas à manifestação pelo direito à habitação.

Qual era o valor anterior?

Era de 300 Euros.

Um aumento desses durante a duração de um contrato de aluguer é legal?

O arrendamento passou do pai para o filho e, este, achou que devia aumentar a renda para esse valor de 700 Euros, como tinha já pessoas interessadas em arrendar o T3 por esse valor. Esse valor é comum nas freguesias à volta do Laranjeiro em Almada e, como há falta de casas, fui exposta a esta situação. Quem não pode, que se vá embora…

Como conseguiu resolver a situação?

Tive que procurar ajuda familiar, que me disponibilizou a casa de uma avó. Tinha falecido e estava vazia.

E alugou essa casa?

Sim. Estou a fazer obras e a viver com os meus filhos porque a casa estava em um estado deteriorado. Mas ao menos ainda estou a viver no Laranjeiro.

Então as medidas do pacote “Mais Habitação” do governo fazem sentido para si ?

As medidas para mim vêm bastante atrasadas. Até conseguir resolver a situação tive que me manter um mês a pagar uma renda elevada e pedir ajuda com o meu salário de administrativa na área de construção.

Qual é o valor do seu salário atual ?

É o salário mínimo nacional de 760 Euros.

manifestacaohabitacao2023_66 Gentrificação sem mais valia

Protesto multifacetado por mau investimento público: Em 2022, cidadãos de 78 nacionalidades compraram casa em Lisboa. Custou 895 milhões de Euros. A cidade do Porto e Lisboa juntos, 2016 29 milhões de Euros

Qual é, nesta situação, a sua opinião sobre a medida que visa apoiar as pessoas que tenham uma taxa de esforço com o arrendamento superior a 35% do seu salário até ao valor de 200 Euros por mês ? 

Vai ajudar muito pouco. O governo propôs para famílias monoparentais valores mais baixos. Iria receber 30 Euros mensais.

Sendo assim existe uma certa exclusão dos pais separados

Sim. Tem de se trabalhar na mesma. Os meus filhos já vão e regressam sozinhos da escola. O importante é que almoçam na escola, o que é uma ajuda. Para além do apoio familiar que recebo. Bem, entre todos conseguimos sobreviver, mas passamos por dificuldades.

Qual é a sua opinião sobre o pacote de leis?

A lei para mim não passa de cosmética. Aquilo que nos estão a prometer ajudar não é o suficiente para o que está a fazer falta na realidade às famílias.

Porquê?

Os aumentos. O nosso salário é absorvido pela atual inflação. E o aumento dos combustíveis, o aumento dos produtos alimentares. A baixa do IVA para zero em alimentos essenciais é publicidade enganosa, porque se compararmos os preços da semana anterior, agora, após o anúncio do IVA a zero, alguns estabelecimentos até já aumentaram os preços.

Por que motivo veio à manifestação hoje? Qual é a sua esperança?

A de marcar presença. Eu pessoalmente penso que existe uma tendência para a situação económica ainda piorar. Vai haver muitas pessoas desalojadas, a viver na rua. Quem não tenha apoio familiar pode ter muitas dificuldades. Estamos a voltar ao cenário da crise que vivemos em Portugal em 2003/2004.

Ou seja, uma profunda recessão económica ?

Sim. Ainda mais grave provavelmente. Na altura os salários estavam igualmente demasiado baixos, mas não vivíamos uma situação de inflação como estamos a viver agora. Havia cortes nos subsídios de férias e de natal, mas não existiam aumentos substanciais nos preços.

Os aumentos de salários são poucos ?

Sim, aumentaram-nos o salário 30 Euros, o que não acompanha os aumentos de preços. Em resumo, não temos poder de compra. Eu tenho felizmente uma casa, mas não tenho ordenado para pagar essa inflação que estamos a viver.

Qual é a sua situação de arrendamento de momento?

Nestes seis meses a renda já aumentou 80 Euros, o que é relativo a uma casa comprada a cerca de 20 anos. O que me preocupa é toda essa inflação dos últimos meses.

manifestacaohabitacao2023 Gentrificação sem mais valia

Ao ritmo dos tambores: Preços médios de arrendamento em Lisboa lideram aumentos na Europa com mais 5,4 % face ao último trimestre segundo os da plataforma imobiliaria Casasafari.

O que é que diz aos seus filhos que estão neste momento a tocar tambores na marcha da manifestação?

Temos que economizar onde pudermos. Mesmo no essencial tem de se fazer contas. Já não há espaço para extravagâncias ocasionais, como fazíamos, uma vez por mês. Estou a tentar mentalizar-me de que isto não vai melhorar dentro em breve.  Neste momento o que me ajuda é a alimentação escolar, que não é má e ajuda a poupar nas refeições.

Que idade tem a sua filha?

Tem 14 anos. Ela está a começar a compreender que temos por vezes de recorrer a certas ajudas. Comer em casa fica mais caro do que comer na escola. Temos de aproveitar os benefícios sociais que existem para famílias monoparentais.

Qual foi a origem da pressão no mercado de arrendamento no Laranjeiro?

Não tem a ver com o alojamento local, que existe mas não tem efeito. Vieram morar muitas famílias brasileiras na nossa zona porque ficamos perto das praias. Para eles a situação é mais facilitadora porque conseguem morar em casas sobrelotadas. Existem situações com dez pessoas em um T3. Se dividir 700 Euros por dez pessoas, já dá para pagar a renda.

Conhece situações dessas?

Sim. Chegam a estar pai, mãe e três filhos em um quarto. Eles são mais flexíveis. Para mim, isso não seria situação. Os senhorios aproveitam-se disso e aumentam as rendas.

Ou seja, então a crise da habitação está ligada à migração?

Daqui a quatro ou cinco anos os senhorios vão ter que reparar as casas porque assim sobrelotadas degradam mais. Contudo o ganho vai compensar esses custos.

Os últimos dados do INE apontam para um decréscimo de contratos de arrendamento, qual a razão que pensa estar na origem?

Muitos alugueres são ilegais. Feitos sem contratos. E os migrantes passam também por dificuldades. Em resumo, o projeto de lei é, para mim, publicidade enganosa.

O que diz em relação aos incentivos fiscais do novo programa?

Não me parece que muitos senhorios vão aderir a isso e vender ou arrendar a casa ao estado.

Por exemplo: eu tenho duas casas e vendo uma ao município e não pago então as mais-valias desta venda. Contudo, isso não significa que irei investir esse ganho em outra compra ou construção de um outro imóvel. Existe essa incerteza. Acho que, em geral, muitas das medidas anunciadas [são] pouco esclarecedoras.

Em que sentido?

Para mim parece-me publicidade enganosa de um governo sem grandes soluções de momento. Por isso é que estamos aqui hoje para manifestar o nosso descontentamento. Existe muita burocracia e pouca clarividência como as coisas vão melhorar.

fabiolaxavier2023 Gentrificação sem mais valia

Fabíola com o seu filho Lucas de 9 anos, a sua filha Júlia de 4 e o seu pai Fernando de 67 anos.

Fabíola Xavier tem 43 anos, é enfermeira, está casada e tem dois filhos. Atualmente mora na Amadora.

Teve que sair de Lisboa por causa do aumento dos preços de arrendamento, pode-nos contar o que aconteceu? 

Morávamos em Campo de Ourique. Pagávamos 650,60 Euros  A nossa senhoria era impecável e, continua a ser impecável. Tivemos sempre uma boa relação. Disse-nos na altura que os valores da renda estavam incomportáveis tendo em conta os preços do mercado e, que queria subir a renda. Pelas contas que ela fez, baseadas nos anos que lá estivemos e nas subidas mensais, o valor iria para 1.050 Euros.

Isso foi em que altura?

Foi em 2021.

Morava em que tipo de apartamento e com quem?

Com os meus dois filhos e o meu marido, visto ser casada, num T2.

Foi uma situação complicada, pensou em sair logo? 

Sim. Contudo conseguimos chegar a um acordo com ela. Passámos a pagar 850 Euros e comprometemo-nos a sair da casa no prazo de um ano. Entretanto comprámos uma casa na Amadora. Daí eu ainda me sentir uma privilegiada nesta situação da crise da habitação, visto ter tido uma alternativa de saída e não ter de ir morar para casas de família.

Que tamanho tinha o T2 em Campo de Ourique?

Não chegava a 60 metros quadrados.

Então, antes do aumento para 1.050 Euros, já pagavam o valor médio de 14 Euros por metro quadrado em 2021, que agora foi comunicado como valor médio de novos arrendamentos em Lisboa para o 4º trimestre de 2022 na cidade de Lisboa?

Sim, de certa forma. Contudo, durante sete anos paguei uma renda de 650 Euros mensais.

O aumento para 850 Euros, um aumento a rondar os 30%, ocorreu em 2021?

Sim. Exato. Mas de acordo com o mercado, o aumento estava adequado. Isso passou a ser incomportável para nós.

Sentem-se empurrados para a periferia de Lisboa como família?

Sim. Tivemos que mudar. De certo modo é a nova gentrificação e somos um exemplo disso.

Na vossa opinião o pacote “Mais Habitação” do governo vai resolver essas questões no futuro?

Não vai resolver nada. Mesmo que de alguma forma possa vir a ajudar a uma pequena fatia de famílias com os tais 50 Euros que serão atribuídos.

O valor de apoio a renda pode ir até aos 200 Euros mensais 

Sim. Contudo penso que esse valor irá ser só atribuído a uma fatia mínima de pessoas.  A medida só terá repercussões daqui a dois ou três anos, tendo em conta que a legislação em relação às casas devolutas prevê que têm de estar nesse estado durante dois anos, o governo tem de ir saber quem são os proprietários. Os proprietários terão de ser contactados.

Ou seja, na sua opinião a lei cria burocracia e é lenta em causar um efeito positivo na habitação acessível para famílias?

Sim. Igualmente, a possibilidade de incentivos fiscais ao alojamento local que passe a ser arrendamento de longa duração, vai tardar a ter efeitos. Existem muitas famílias que não têm casa agora.

Quanto tempo é que a sua família morou em Campo de Ourique?

Desde 1996, ou seja, no total, 8 anos.

E teve de ir temporariamente para a casa do seu pai na Amadora?

Não. Eu e o meu marido éramos da Amadora, mas quando nos juntamos, primeiro, fomos morar em Benfica, e depois, fomos para Campo de Ourique.

Que medidas é que ajudariam, na sua opinião, as famílias? Qual é a solução para a habitação?

Honestamente não sei. A situação está complicada para o governo.

Então têm feito sucessivamente o que podem?

Não. Existem, pelo menos em Lisboa, cerca de 6.000 apartamentos usados que são património público. Não sei em que condições estão, mas penso que parte deles podem ir muito bem para o arrendamento.

Os números de construção nova em Lisboa e em Portugal, em geral, têm diminuído na última década – segundo os dados do INE o número de imóveis licenciados em construções novas em Portugal tem diminuído de forma muito acentuada a partir de 2011 e, só começou de novo a recuperar a partir de 2017. De 1995 até 2004 foram licenciados quase um milhão de novos imóveis. Os números dos últimos dez anos apontam para um valor por volta das 150 mil construções novas.  

Sem oferta, os preços sobem automaticamente.  A solução passa por mais construção nova na área metropolitana de Lisboa?

Eu acho que construir mais não é a solução devido a existirem muitos prédios por reconstruir. Acho que, uma política focada na construção nova só ajuda o lóbi das empresas da construção em Portugal.

Então como conseguir rendas acessíveis à situação económica das famílias ?

A solução passa por aumentar a oferta, pondo casas já existentes no mercado do arrendamento.

Isso vai automaticamente baixar o valor das rendas, se todos arrendarem, por exemplo, por um valor de 20 Euros por m2?

Uma solução para combater os aumentos das rendas é por um teto ou um aumento fixo nos valores das rendas. Contudo, não compreendi ainda se isso é possível de acordo com a nossa constituição.

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Sem espaço para manobra: o preço por m2 em Lisboa regista um valor de 23€.

A proposta de Lei prevê um teto ligado aos valores da inflação para aumentos nos novos contratos. A atualização das rendas em 2023, para contratos habitacionais e comerciais indexados à inflação vai ser de 2 %, ou seja, irá ficar abaixo do valor atual da inflação

Sim. Contudo, todo o pacote baseia-se muito numa mudança no alojamento local. Existe muita especulação imobiliária ainda para resolver. Muitos imóveis estão fechados para arrendamento há mais de quatro anos.

Isso não irá mudar?

Não. Muitos fundos imobiliários sabem que as casas irão valorizar na mesma. Em dois anos foram alcançadas valorizações acima dos 30 a 40%. Em algumas zonas de Lisboa a valorização ainda foi mais alta. Isso não irá mudar com a nova lei da habitação.

Você disse no início que era feliz com a solução que encontrou…

Sim. Eu pude comprar um apartamento. O que fazem as pessoas que não podem comprar? Têm de voltar a viver com os filhos na casa dos pais? Ficam desalojadas? Existe muita incerteza.

E os seus filhos? Como foi para eles?

Ficaram um pouco tristes. Tinham amigos com os quais brincavam no parque em Campo de Ourique. Eu era a única que ia de carro para o trabalho. Fazíamos quase tudo a pé no bairro.

Os custos com a mobilidade aumentaram para si?

Sim, claro. Na Amadora é diferente. Para os meus filhos é muito menos apelativo. Tínhamos uma vida boa em Campo de Ourique. O nosso dia-a-dia não é comparável. Não estou falar da situação financeira em si. A qualidade de vida era outra. Dava para fazer quase tudo a pé. Ir ao supermercado, passar pelo parque e encontrar as pessoas que estão a fazer o mesmo, por exemplo. Conviver mais facilmente. Isso mudou para a minha família, mesmo estando agora de novo mais perto dos meus pais com os meus filhos.

Autora: Cristina Costa

Assegurar um Estado Social local em Lisboa

A expressão que dá título a este artigo foi muito oportunamente utilizada pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, quando muito recentemente inauguramos, em conjunto com a DECO, o gabinete e a linha de apoio ‘Finanças Saudáveis’ de apoio às famílias sobre-endividadas no concelho. Ela sintetiza, com efeito, precisamente o espírito que norteia a coligação ‘Novos Tempos’ em torno da necessidade de providenciar uma rede transversal aos diferentes pelouros camarários que assegure, aos munícipes que mais deles necessitem, apoios concretos, eficazes e expeditos.

Essa rede, de forma virtuosa, deve sempre que possível assentar em parcerias com as entidades da sociedade civil com trabalho e resultados reconhecidos no terreno. É o caso mencionado da DECO, mas também da Caritas Diocesana e da Cruz Vermelha de Lisboa, que se associaram à CML para operacionalizar de imediato o programa ‘RECUPERAR+ Famílias’, logo após as cheias ocorridas em dezembro passado. Neste momento em que escrevo, continuamos a receber pedidos de famílias que – de acordo com o agregado – solicitam o apoio a que têm direito no total de uma dotação de dois milhões e duzentos mil euros para compensar as pessoas afetadas pelos efeitos dos temporais que assolaram a cidade.  

Estes são apenas dois entre vários outros exemplos do trabalho coordenado pelo gabinete que dirijo, desde que há pouco mais de quatro meses assumi o cargo de vereadora para os Direitos Humanos e Sociais, Saúde e Educação da Câmara Municipal de Lisboa, não esquecendo naturalmente a implementação e monitorização do Plano Municipal para as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo. Cada uma destas áreas é – no âmbito da construção de um Estado Social local – igualmente crucial e indispensável para a manutenção de um tecido social estruturado na capital. 

Em Lisboa, como no resto do país e no mundo, o ano de 2022 cunhou uma nova palavra; “policrise”. Querendo significar a conjunção de fatores disruptivos numa mesma linha temporal. Neste caso, a invasão da Ucrânia pela Rússia, os efeitos ainda da pandemia da Covid 19, a inflação e o consequente aumento do custo de vida em particular do cabaz alimentar, penalizando os cidadãos socioeconomicamente mais frágeis. Nas minhas visitas pelas freguesias de Lisboa, que iniciei logo após a tomada de posse, foi logo percetível para mim aquilo para o que, muito recentemente, diversos relatórios têm chamado a atenção; aumentam as dificuldades das famílias, os incumprimentos forçados pela falta de meios, o número de desempregados. E mais famílias recorrem a apoios sociais, inclusive para garantir a alimentação do seu agregado.  

Foi com essa consciência, aliás, que lançámos também recentemente o ‘Cabaz Bebé Lisboa’, desta vez em parceria com a Associação Nacional de Farmácias e a Médicos do Mundo, e destinado aos agregados familiares beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) e que tenham filhos até aos 18 meses. Serão mais de 300 famílias abrangidas, com apoios de 300€ anuais em voucher para aquisição de artigos de bebé, medicamentos e mesmo vacinas. 

E, do mesmo modo, com a Santa Casa da Misericórdia, a Universidade de Lisboa e a Faculdade de Medicina como parceiros, alargámos um conjunto de serviços gratuitos aos munícipes com 65 ou mais anos, assegurando-lhes um fundamental acesso direto a médicos dentro do ‘Plano Lisboa Saúde 65+’, 24h por dia, 365 dias por ano. E, para os cerca de cinco mil munícipes que recorrem ao Complemento Solidário para Idosos, consultas também gratuitas de higiene oral e oftalmologia, bem como o acesso a óculos e a próteses dentárias.

No entanto, não seria honesto descrever as componentes deste Estado Social local no concelho de Lisboa esquecendo uma realidade que tem vindo a preocupar-me pela sua dimensão. Refiro-me ao aumento do número de pessoas em situação de sem-abrigo na cidade. Pese embora, mais uma vez, o excelente trabalho desempenhado pelos nossos parceiros da sociedade civil e pelas equipas do Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem Abrigo (NPISA), que incansavelmente trabalham todos os dias, a verdade é que a degradação já referida das condições económicas traz para a capital um número crescente de pessoas sem teto e com diversas proveniências, entre cidadãos nacionais e de muitos outros países.   

Neste âmbito, reforçámos a nossa capacidade de resposta às pessoas em situação de sem abrigo e a refugiados, seja através da concessão de financiamento adicional concedido às instituições da sociedade civil no terreno, seja através do aumento da capacidade de alojamento temporário em diversos centros da rede social dedicados a esse indispensável serviço na cidade. Mas esta é uma situação cuja dimensão pede uma resposta alargada e concertada. 

Por isso mesmo, tive a iniciativa de reunir muito recentemente os vereadores dos direitos sociais de toda a Área Metropolitana de Lisboa, no sentido de delinearmos um plano de ação conjunto, capaz de proporcionar uma resposta verdadeiramente eficaz e articulada no apoio direto a quem se encontra forçado a viver nas ruas. O Estado Social local mencionado pelo presidente Carlos Moedas, e que tanto pretendemos, é fruto de uma dedicação contínua. E um trabalho de todos, nesta missão que junta a CML, as autarquias limítrofes, as entidades da sociedade civil e, obviamente, os cidadãos. Contamos com todos.

Sofia Athayde

Um bengali em Lisboa

Escolheu Lisboa porque o clima lhe faz lembrar o da sua cidade, Dhaka – onde deixou 5 irmãos com os quais fala todos os dias – e porque sabia que aqui existia uma grande comunidade bengali.

A sua integração foi lenta devido à língua, aos costumes e a uma certa desconfiança que a sua nacionalidade bengali faz despertar nos locais. Fazer amigos portugueses não é fácil, mas encontrou, no seu empregador, um. O primeiro emprego é importante para começar a tratar do visto de residência. No caso de Shahidul a sua experiência e o a sua formação garatiram que o processo fosse célere, no entanto, o mesmo não acontece com muitos outros migrantes que não reunem estas duas condições, atrasando, em longos meses, a sua regularização.

Shahidul, estudou em Moscovo onde completou uma licenciatura em Gás e Óleo na Academia Gubkin, na Russian State Universaty of Oil and Gas. Hoje trabalha numa loja portuguesa de reparação de telemóveis, a mesma loja que lhe deu o primeiro emprego quando chegou. O seu objetivo é abrir o seu prórpio negócio.

Já morou nos Restauradores, partilhando um apartamento T1 com oito pessoas, em Entre Campos e, há cerca de um mês, mudou-se para um apartamento em Telheiras que dividide com dois conterrâneos seus uma vez que o valor elevado das rendas não lhe permite viver só.

Casou-se no ano passado e espera trazer a sua mulher para a cidade ainda este ano. Juntos farão planos para o futuro. Um coisa é certa, querem ficar por cá.

Movimento Referendo pela Habitação luta pelo direito a viver em Lisboa

Com o aumento da inflação, veio a subida exacerbada dos valores da habitação na cidade de Lisboa. Os habitantes revelam não haver condições para os portugueses viverem na capital e que estão a tornar Lisboa numa cidade para turistas, sem pensar em quem constrói (ou já construiu) uma vida na cidade.

Este movimento tem o objetivo de realizar um Referendo Local pelo direito a habitar Lisboa. O objetivo é modificar o regulamento municipal de Alojamento Local (AL) e precisam de pelo menos cinco mil assinaturas para o efeito.

A TejoMag foi acompanhar uma tarde de recolha de assinaturas do Movimento no dia 20 de janeiro, na Praça Paiva Couceiro, com o objetivo de juntar os lisboetas a defender o seu direito a conseguir viver na capital. Este é um movimento “com muitas caras, mas sem porta vozes”, como tal, os seus membros preferiram falar em nome de todo o Movimento.

Estes rostos pensam nos portugueses e nas suas condições de vida, mas não se esquecem daqueles que escolheram Lisboa como cidade para viver e criar uma nova vida. O Movimento diz ter consciência de que “a cidade tem muitos imigrantes que vivem, trabalham e que querem construir a sua vida em Lisboa. Para nós, é importante que seja claro que este não é um movimento que exclui pessoas estrangeiras por serem estrangeiras.”

Enquanto recolhiam assinaturas, os membros do movimento revelaram-nos o que mais preocupa o Movimento Referendo pela Habitação (MRH): “Consideramos que há uma desproporção e um desequilíbrio na cidade de Lisboa. Há uma grande concentração de alojamento local (cerca de vinte mil) e isso está relacionado com a crise de habitação. O desequilíbrio é notório comparado com outras cidades europeias.”

Comentam ainda o facto de em Santa Maria Maior 50% da habitação estar no alojamento local, enquanto que “em Madrid não há um único bairro que chegue aos 5%”. Esta comparação que distingue fortemente Lisboa das outras cidades europeias é o que move estes alfacinhas (de nascença ou por local de trabalho) a lutar por uma mudança que consideram ser justa.

“Ao mesmo tempo, só podemos referendar aquilo que pertence à Câmara Municipal e, no que toca à habitação, a Câmara de Lisboa tem competências no Alojamento Local. Sabemos que a crise na habitação não é só por causa do AL, no entanto, há outras leis a nível nacional que não podem ser decididas sozinhas. O que queremos é impedir que o Alojamento Local possa ser feito em prédios de uso habitacional para devolver essas casas ao mercado da habitação.”

Os membros do Movimento organizam-se em diversos grupos de trabalho e, também, em grupos de bairro. Disseram-nos que estes grupos ficam “encarregados de recolher assinaturas por Lisboa” e, neste caso, o grupo que entrevistamos é do bairro da Penha de França, Graça e Anjos.

“A primeira assembleia do grupo foi em meados de junho de 2022” e as assinaturas estão a ser recolhidas desde dezembro do mesmo ano. Para levar este referendo à Câmara Municipal, o Movimento precisa de recolher “um mínimo de cinco mil assinaturas” para que possa ser, posteriormente, aprovado. Esta recolha tem em vista alcançar o objetivo até julho de 2023, para que o referendo comece a ser debatido a partir de setembro.

Nómadas digitais: quem são e que benefícios fiscais podem encontrar em Portugal?

Nómadas digitais são aqueles que escolhem usufruir da tecnologia para trabalhar, independentemente da sua localização geográfica. Jason Waite nasceu em Inglaterra, trabalha com contabilidade e tributação há 12 anos e, de momento, vive em Lisboa. “No início, não tinha intenções de viver em Portugal, mas apaixonei-me rapidamente pela cidade e pelo estilo de vida. É uma cidade bonita e vibrante. Adoro passear ao sol aqui. É bastante multicultural, com muitos expatriados, pelo que é fácil fazer amigos, havendo vários encontros aos quais podemos ir.”

Jason tenciona morar permanentemente em Portugal e diz que existe a possibilidade de um dia vir a comprar uma casa cá. E, quando questionado sobre a importância do papel dos benefícios fiscais na escolha de um país para viver, afirma serem essenciais, “especialmente para nómadas”, e revela que se candidatou ao regime de Residentes Não Habituais (RNH).

jasonwite2 Nómadas digitais: quem são e que benefícios fiscais podem encontrar em Portugal?

Jason Waite tenciona ficar em Portugal permanentemente. /Direitos reservados

Benefícios fiscais e os seus direitos

Para entendermos melhor quem pode solicitar este tipo de benefícios fiscais e que variedade de benefícios existe, questionámos o advogado Leonardo Scolari sobre o tema: “É preciso distinguir aqui dois planos. Um, que diz respeito ao regime jurídico de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território nacional ou, se preferirmos, a aspetos relacionados com imigração, e outro, que se prende com benefícios fiscais aplicáveis a indivíduos que sejam residentes, para efeitos fiscais, em território nacional, independentemente da nacionalidade.”

Scolari exerce funções na RRP Advogados e especializou-se em processos administrativos, judiciais e arbitrais relacionados com diversos domínios de tributação. 

“A Lei n.º 18/2022, de 25 de agosto, veio estabelecer a possibilidade de ser concedido um visto de estada temporária (que permite a entrada e a estada em território nacional por período inferior a 1 ano) e um visto de residência aos trabalhadores subordinados ou independentes que exerçam atividade profissional, de forma remota, a entidades domiciliadas fora do território nacional, os chamados ‘nómadas digitais’. A legislação portuguesa contempla incentivos fiscais a quem se torne, pela primeira vez, residente ou volte a ter residência em Portugal. Neste contexto, dois regimes merecem destaque: o regime dos Residentes Não Habituais (RNH) e o regime dos ex-residentes, também conhecido como ‘Programa Regressar’. Qualquer um destes regimes fiscais é potencialmente aplicável aos ‘nómadas digitais’. Contudo, é importante referir que nenhum destes dois regimes foi concebido para ser aplicado em exclusivo a cidadãos estrangeiros ou a ‘nómadas digitais’. A prática ao longo dos últimos anos tem revelado que muitos cidadãos portugueses, sobretudo aqueles que emigraram em tempos de crise, têm regressado ao País e podido beneficiar de um dos dois regimes fiscais em questão.”

“Quase 700 mil estrangeiros a residir em Portugal legalmente em 2021”

A quantidade de estrangeiros em Portugal tem vindo a aumentar ao longo dos últimos anos. Segundo os dados do PORDATA, em 2008 existiam quase 490 mil estrangeiros a residir legalmente em Portugal. Já em 2021 foram contabilizados quase 700 mil estrangeiros a morar legalmente no nosso país. Scolari considera que o regime dos RNH contribuiu para colocar Portugal na rota do investimento internacional. Contudo, a níveis fiscais, o advogado salienta o facto de a lei classificar os benefícios como despesa, por representar uma renúncia do Estado à receita tributária.

“Numa análise de finais de 2022, o Conselho de Finanças Públicas estimou o crescimento da despesa fiscal em IRS entre 2020 e 2023 em € 1.062 milhões (68,6%), em grande parte devido ao regime dos RHN que, em 2020, já representava 56,25% do total da despesa fiscal deste imposto. No entanto, por um lado, é preciso ter em conta que abdicar de receita em IRS é uma opção deliberada do Estado em nome de interesses públicos considerados superiores, como atrair capital humano capaz de estimular a economia nacional e torná-la mais competitiva. Por outro lado, o que se deixa de arrecadar em IRS nestes casos é de alguma forma compensado ou até superado pelo aumento da receita nos impostos sobre o consumo (por exemplo, IVA) e sobre o património (IMT e IMI).”

leonardoscolari Nómadas digitais: quem são e que benefícios fiscais podem encontrar em Portugal?

Leonoardo Scolari, advogado especializado em contencioso tributário na RRP Advogados. /RRP ADVOGADOS

Diferenças entre os jovens estrangeiros e os portugueses

Existem, contudo, questões que diferenciam os direitos dos jovens estrangeiros que optem por viver noutro país que não o de origem, dos jovens que habitam no país onde nasceram: “Mesmo estando enquadrados como RNH, isso não quer dizer que estes jovens estrangeiros sejam efetivamente tributados em IRS a taxas mais baixas que os restantes contribuintes, uma vez que a aplicação da taxa reduzida de 20% está reservada para rendimentos provenientes de atividades de elevado valor acrescentado definidas numa portaria do Governo e não para todo e qualquer rendimento do trabalho. Nenhum dos dois regimes fiscais (RNH e ‘Programa Regressar’) foi concebido com o propósito de beneficiar jovens estrangeiros, mas sim com o objetivo mais amplo de atrair, para o país, recursos humanos qualificados com vista ao desenvolvimento económico e incremento da despesa interna”, refere o advogado. 

Scolari deixa ficar claro, também, que não existe um discurso de desigualdade fiscal. No entanto, não exclui o facto de existir precariedade e baixas remunerações que afetam os jovens portugueses em relação aos jovens estrangeiros.

“O chamado ‘IRS Jovem’ prevê uma isenção parcial de IRS para os rendimentos do trabalho dependente e os rendimentos empresariais e profissionais obtidos por contribuintes residentes em Portugal com idades entre os 18 e os 26 anos (ou 30 anos para doutorados). Este regime, que em 2021 terá abrangido mais de 37 mil jovens, estabelece uma isenção de IRS entre 20% e 50% para os rendimentos do trabalho obtidos por contribuintes naquela faixa etária nos 5 primeiros anos após a conclusão do ensino secundário obtido por percursos de dupla certificação ou ensino secundário vocacionado para prosseguimento de estudos de nível superior acrescido de estágio profissional com a duração mínima de 6 meses.”

“Aprender um novo idioma ao ponto de poder trabalhar num país estrangeiro exigiria muito tempo e esforço”

Laura Nickel tem 34 anos e veio da Alemanha (o seu país natal) para Portugal. É psicóloga e trabalha no sector da saúde mental há sete anos. Vive atualmente na Ericeira e deixou-se conquistar pelo mar e pela prática de surf nas praias portuguesas. “Portugal é um país bastante seguro dentro da União Europeia. Vindo da Alemanha, é fácil entrar em Portugal. O clima no inverno é ameno e há muitos estrangeiros com o mesmo estilo de vida a viver cá. Existem também muitas opções de atividades para preencher o tempo livre: yoga, aulas de meditação, concertos e museus.”

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Laura Nickel enquanto trabalha remotamente desde a casa que alugou em Ribamar. /MARTA ALMEIDA

A psicóloga tenciona ficar em Portugal por três meses, como tal, não tenciona comprar casa e afirma que “no processo de decisão sobre em que país morar, os benefícios fiscais assumem um peso igual juntamente com outros fatores.”

Quando questionada sobre os motivos de se tornar uma nómada digital, Laura diz que o grande fator foi o de querer viver perto do oceano (algo que não consegue na Alemanha) e querer trabalhar em psicologia, da mesma forma. “Ser psicóloga e psicoterapeuta significa que preciso de falar a língua dos meus clientes. Aprender bem um novo idioma ao ponto de poder trabalhar num país estrangeiro exigiria muito tempo e esforço, portanto, oferecer o meu aconselhamento online para clientes que falam alemão e inglês é muito mais fácil. E, assim, também tenho mais flexibilidade de me mudar para países com clima mais quente e melhores ondas no inverno.”

Ser nómada digital é, por muitos, considerado como um estilo e uma escolha de vida. É uma forma de aproveitar “o melhor dos dois mundos”, ter a experiência de viver em países diferentes sem a necessidade de mudar de emprego.

“Tem os seus prós e contras! Quando estou num lugar com muitos nómadas e viajantes, pode ser verdadeiramente inspirador conhecer pessoas de todo o mundo”, reflete Laura. “Prefiro ficar pelo menos 3 meses no mesmo lugar, assim tenho tempo para me acomodar e conhecer a nova cultura. Pode custar muita energia mudar de lugar com frequência. Tens de te adaptar a novos colegas de quarto e situações de vida, tens de reencontrar a tua rotina e ir sempre fazendo novos contatos sociais. Depois, temos as situações desafiantes, como ficar doente ou o carro avariar, que são ainda mais desafiantes quando se está num país estrangeiro. Ainda estou a aprender a encontrar o meu equilíbrio e a aceitar que não posso descobrir novos lugares todos os dias como nas férias. Mas tenho dias normais de trabalho, cozinho e descanso e, por vezes, faço uma caminhada ou vou fazer surf ao fim de semana.”