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Habitação: Bordalo II monta tendas em Lisboa na ‘Rua da Angústia’

Após a provocação anterior que muito deu que falar, que envolveu a colocação de um tapete coberto de notas falsas no altar-palco da Jornada Mundial da Juventude em preparação para a visita do Papa, o artista Bordalo II voltou a criar uma obra de protesto, desta vez focando-se nos preços dos imóveis.

A mais recente intervenção, intitulada “Desalojamento Local“, critica a proliferação de alojamentos locais em Portugal e, consequentemente, a falta de casas disponíveis e acessíveis para os portugueses.

“O problema é a ganância do privado Vs. a incompetência do Estado. Não critico turistas, estrangeiros e muito menos imigrantes, mas sim a falta de medidas que consigam equilibrar a balança e parar de expulsar as pessoas que realmente vivem nas cidades, transformando-as em gigantes parques de diversão sem alma”, começou por escrever nas redes sociais.

“Em Portugal, em 2023 há pessoas que se levantam todos os dias para trabalhar 8 ou mais horas e chegam ao final do mês sem sequer conseguir pagar uma casa onde viver”, alerta.

Como forma de protesto, o artista criou a “Rua das Angústias” e instalou quatro tendas que representam casas no Miradouro de São Pedro de Alcântara, em Lisboa. Nas placas de sinalização, apenas se lê referências a hotéis, hostels e postos de turismo, com a frase “Exceto turistas, nómadas digitais e vistos gold”.

Sábado é dia de manifestação

Além disso, o artista também renomeou praças e ruas, como a Praça do Príncipe Real, agora chamada de “Place du Prince Royal”, e a Rua de Campo de Ourique, que passou a ser conhecida como “Rue Champ de D’Ouris”. 

Em jeito de conclusão, apela à participação na manifestação “Casa para viver, Planeta para habitar”, que terá lugar neste sábado, 30 de setembro, em 24 cidades portuguesas. Em Lisboa, a concentração terá lugar na Alameda, enquanto no Porto, o ponto de encontro será na Praça da Batalha.

 

Mosquito que transmite zika e dengue identificado em Lisboa

A espécie de mosquitos Aedes albopictus, conhecida por transmitir os vírus do chikungunya, dengue e zika, foi identificada pela primeira vez em Lisboa.

Originalmente proveniente do Sudeste Asiático, esta espécie é conhecida pela sua capacidade de adaptação a climas temperados e características invasivas. Nos últimos 30 anos, expandiu significativamente a dua distribuição geográfica, estendendo-se agora por todos os continentes.

Na Europa, especialmente em nações do Mediterrâneo que oferecem condições propícias à sua sobrevivência, o Aedes albopictus foi inicialmente identificado na Albânia em 1979 e, posteriormente, em Itália, em 1990. Atualmente, está presente em 26 países europeus.

Mosquito já foi em Portugal detetado em 2017

A descoberta resultou do trabalho da Rede de Vigilância de Vetores (REVIVE), cujas operações foram implementadas em todo o país. A informação foi avançada em comunicado pela Direção-Geral de Saúde.

A verdade é que este tipo de mosquito não é uma novidade em Portugal, pois já tinha sido detetado no norte do país em 2017 e, um ano depois, nas regiões do Algarve e Alentejo. Nos últimos anos, esta espécie espalhou-se pelo sul da Europa, afetando países como Itália, França e Espanha.

Até o momento, em Portugal, não foram identificados agentes de doenças que possam ser transmitidas entre humanos, e não há qualquer registo de pessoas infetadas.

Ainda assim, as autoridades de saúde intensificaram a vigilância entomológica e epidemiológica e estão a implementar medidas para controlar a população de mosquitos.

Já abriram as candidaturas ao Subsídio de Arrendamento para Lisboa

As candidaturas para o novo Subsídio Municipal ao Arrendamento Acessível da Câmara de Lisboa iniciaram nesta segunda-feira, 25 de setembro, e estarão abertas até 16 de outubro. Este programa visa apoiar mais 200 famílias, ampliando o número de beneficiários que atualmente se situa em 800. O município tem a intenção de chegar a um total de mil famílias apoiadas.

Com um orçamento de 1,6 milhões de euros, o novo subsídio destina-se àqueles que estão a gastar mais de 30% dos seus rendimentos com o pagamento da renda. Além disso, foi concebido para fornecer uma solução habitacional para profissionais deslocados, como polícias, enfermeiros e professores.

O programa inclui duas novidades: a possibilidade de candidatura para pessoas que não possuam um contrato em vigor, mas que planeiam iniciar um; e a elegibilidade de proprietários de imóveis fora da Área Metropolitana de Lisboa. Os interessados podem registar-se e submeter as candidaturas na plataforma Habitar Lisboa.

Condições de acesso

– Cidadão nacional ou estrangeiro com título válido (cartão de cidadão/titulo de residência) e maior de 18 anos;
– Ser titular de contrato de arrendamento ou de contrato promessa de arrendamento, devidamente registado na Autoridade Tributária;
– Ter residência permanente na habitação em Lisboa e estar em situação de cumprimento do contrato de arrendamento;
– Ter uma taxa de esforço suportada pelo agregado habitacional com o pagamento da renda mensal, superior a 30% do Rendimento Mensal Disponível;
– Cada elemento do agregado habitacional tem de possuir uma declaração de IRS relativa ao ano fiscal de 2022, concorrendo com o somatório dos valores do rendimento global constante das respetivas notas de liquidação. Em caso de dispensa da entrega do IRS, poderão concorrer com a certidão de dispensa emitida pela Autoridade Tributária onde conste o montante dos rendimentos auferidos, nos termos do artigo 58 nº 5 do Código do IRS;
– Ter um rendimento global ilíquido compreendido entre os limites mínimo e máximo indicados no Anexo IV do Regulamento Municipal do Direito à Habitação;
– O valor da renda mensal não pode ser superior ao valor máximo da renda elegível de acordo com a Portaria nº 176/2019
– Não acumular o SMAA com quaisquer outras formas de apoio público à habitação, com exceção do apoio extraordinário â renda previsto no Decreto-Lei nº 20-B/2023.

Cidades Educadoras: Transformar o Futuro

Entre 8 e 11 de novembro de 2023, em Torres Vedras, acontece o X Congresso Nacional da Rede Territorial Portuguesa das Cidades Educadoras. Com o tema «Cidades educadoras, cidades das crianças, cidades para todos!», nestes dias propõe-se uma reflexão sobre o papel da cidade educadora enquanto território que pretende oferecer não só às crianças, mas a todos os grupos da sociedade, um ambiente ideal para que possam viver de forma plena a sua cidadania e encontrar no espaço urbano um lugar de realização individual e coletiva.

Mas o que são cidades educadoras? São aquelas que adotam uma abordagem holística e inclusiva da educação, reconhecendo que a aprendizagem não se limita apenas ao ambiente escolar, mas ocorre em todos os aspectos da vida de uma pessoa. Em Portugal existem 93 municípios espalhados no continente e nas ilhas, que formam uma rede de Cidades Educadoras com vários projetos. 

Essas cidades procuram criar condições que estimulem o conhecimento, a criatividade, a participação ativa dos cidadãos e o desenvolvimento pessoal dos seus habitantes. As cidades educadoras representam uma abordagem inovadora para a educação, rompendo com a visão tradicional de que a escola é o único lugar onde ocorre a aprendizagem. Ao criar um ambiente propício para a educação ao longo da vida, promovendo a cidadania e o desenvolvimento integral dos indivíduos, essas cidades estão envolvidas no futuro da educação. 

Helena Cardoso de Menezes e Allan Mark Sousa, consultores e formadores no projeto Elos Saudáveis, estarão presentes nesta edição. O trabalho desta parceria está baseado na formação para a comunicação consciente e relações saudáveis. Para eles, é fundamental que mais cidades em todo o mundo adotem essa abordagem, criando uma sociedade mais justa, inclusiva e preparada para enfrentar o desafio de romper com a visão tradicional de que a escola é o único lugar onde ocorre a aprendizagem isolada da comunidade envolvente. 

Helena Menezes afirma que este espaço de inclusão nas cidades vai além das questões de raça e género. Passa também pela criação de espaços públicos intergeracionais que acolhem e integram todos os cidadãos sem exclusão de grupos por vezes marginalizados, como por exemplo adolescentes. É  fundamental  a escuta ativa e efetiva das necessidades das crianças e jovens num saudável convívio com a diferença.

Ressalta ainda que “sem a comunidade participativa e coesa não é possível haver cidades educadoras. É preciso promover em todos o desenvolvimento competências como a inteligência emocional, a comunicação consciente e as relações saudáveis.”

Afinal, passes gratuitos sub-23 não são para todos os jovens

Anteriormente, foi anunciado que os jovens até aos 23 anos teriam direito a passes gratuitos para oos transportes públicos. No entanto, o ministro do Ambiente esclareceu – em entrevista ao Expresso – que afinal, apenas os estudantes terão este benefício. 

O anúncio inicial da criação do passe gratuito para menores de 23 anos feito pelo primeiro-ministro António Costa gerou dúvidas. Porém, Duarte Cordeiro, responsável pela mobilidade, esclarece que a nova medida prevê que que os passes para jovens entre os 4 e os 18 anos e os passes sub-23 sejam fundidos num único passe gratuito.

Que documentos são necessários?

Este passe ficará disponível para todos os estudantes, incluindo os de Medicina e Arquitetura, que terão direito a passes gratuitos até aos 24 anos, uma vez que os seus cursos são mais longos.

Os critérios de atribuição do passe gratuito serão os mesmos que os atualmente em vigor para os passes para jovens entre os 4 e os 18 anos e os passes sub-23. Para obter o passe, os estudantes terão de apresentar um comprovativo de matrícula numa escola ou estabelecimento de Ensino Superior.

Assim, a medida deixa de fora os jovens que não sigam para a universidade depois de terminarem a escolaridade obrigatória, tal como já acontece com os descontos que estão atualmente em vigor.

Rendas vão aumentar (e muito) já em janeiro

O Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmou nesta terça-feira, 12 de setembro, que, sem uma intervenção do Governo, as rendas atualmente em vigor poderão sofrer um aumento de 6,9% no próximo ano. Essa confirmação ratifica a estimativa inicial divulgada no final do mês passado.

No entanto, o Governo ainda não esclareceu se pretende implementar alguma medida para limitar esse aumento, semelhante ao que fez no ano anterior.

Esta situação decorre das normas do Novo Regime do Arrendamento Urbano (NRAU) e do Novo Regime do Arrendamento Rural, que permitem que os senhorios atualizem o valor das rendas nos contratos de arrendamento em vigor anualmente, com base na variação média dos últimos 12 meses do índice de preços no consumidor, excluindo a habitação, registado em agosto do ano anterior à atualização, de acordo com os dados apurados pelo INE.

De acordo com os valores agora confirmados pelo INE, esse indicador ficou em 6,94% em agosto deste ano, o que significa que o coeficiente de atualização de rendas no próximo ano será de 1,0694. É necessário retroceder até 1993 (quando esse indicador atingiu 8%) para encontrar um aumento anual mais alto.

O que significa este aumento na prática?

Isso implica que, para cada 100 euros de renda, os senhorios poderão solicitar mais 6,94 euros por mês no próximo ano, se assim o desejarem. Portanto, por exemplo, uma renda atual de 700 euros poderá ser atualizada para 748,58 euros já em janeiro de 2024.

Essa situação permanecerá inalterada se o Governo não intervier. Devido aos níveis elevados de inflação observados desde o ano passado, o Governo decidiu impor um limite à atualização de rendas neste ano, impedindo que fosse feita de acordo com a inflação e determinando uma taxa de atualização mais baixa.

Especificamente, definiu que as rendas só poderiam ser atualizadas até um máximo de 2%, muito abaixo da atualização de 5,43% que os senhorios poderiam ter implementado com base na inflação do ano anterior.

Como compensação aos senhorios afetados, o Governo decidiu conceder um apoio para cobrir as perdas dos proprietários, uma compensação concedida por meio de benefícios fiscais.

Anadia inundada por dois milhões de litros vinho tinto [vídeo]

Anadia acordou neste domingo, 10 de setembro, literalmente inundada de vinho tinto. De acordo com o Diário de Coimbra, várias ruas ficaram submersas após o rebentamento de dois depósitos com mais de dois milhões de litros da Destilaria Levira.

Os Bombeiros Voluntários de Anadia agiram rapidamente para conter o vinho e dragá-lo para uma estação de tratamento de águas residuais, evitando assim qualquer desastre ambiental no rio Cértima.

Empresa assume responsabilidade

As causas do rebantamanto ainda estão por apurar. No entanto, a empresa já se comprometeu a assumir os custos pelos danos causados.

Num comunicado publicado no Facebook, a empresa manifestou a “sincera preocupação pelos danos causados” nas residências dos moradores. 

“As causas do incidente estão a ser apuradas pelas entidades competentes. Assumimos total responsabilidade pelos custos associados à limpeza e reparação dos danos, tendo equipas disponíveis para o fazer de imediato. Estamos empenhados em resolver esta situação o mais rapidamente possível”, pode ler-se.

Verdadeiro rio de vinho em Anadia.
Calamidade! pic.twitter.com/LejLz17XuK

— _o_cabra_da_peste (@nuno_mar) September 11, 2023

O assustador momento em que queda de ecrã gigante em Lisboa faz 15 feridos [vídeo]

Na passada segunda-feira, 28 de agosto, durante a cerimónia de abertura do Campeonato Europeu Universitário de râguebi de 7, que decocorreu no Estádio Universitário de Lisboa, a Estudantina Académica do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa estava encarregada da performance musical.

Mal deram início ao momento musical, imediatamente começaram a sentir-se enormes rajadas de vento. Até que, uma delas provocou o colapso da estrutura do palco. Uma vez que estavam de costas, nenhum elemento da tuna se apercebeu, tendo quase todos sido atingidos pela queda.

Um dos elementos foi atingido pelos ferros

Apenas quatro membros, que se encontravam nas pontas do palco, não sofereram ferimentos. No vídeo (em baixo) é possível ver um dos músicos a ser atingido diretamente pelos ferros da estrutura.

Surpreendentemente, apesar da gravidade do incidente e do peso da estrutura, “apenas” 15 pessoas sofreram ferimentos leves, de acordo com informações do NiT.

A maioria dos feridos teve apenas escoriações. Um deles sofreu lesões um pouco mais graves, mas recebeu alta médica no dia seguinte [terça-feira].

“Saímos ilesos desta experiência assustadora! Agradecemos todas as mensagens de apoio e desejos de recuperação para nossos membros. Estamos prontos para seguir em frente”, escreveu a Tuna.

🚨 | ACIDENTE: Ecrã gigante cai em cima de uma tuna que se preparava para atuar em palco pic.twitter.com/loSu8y33Ok

— tafixe (@tafixe) August 29, 2023

“Se ele fosse o líder poderia ser um grande ditador”: russos unidos contra Putin em Lisboa num protesto apoiado por Navalny

Sem grandes aparatos, à torrente do sol e ao final da tarde do último domingo, três dezenas de pessoas reuniram-se na Praça dos Restauradores para manifestarem-se contra Putin. Timofey Bugaevsky, um dos organizadores do protesto, alinhado com a sombra do obelisco, de frente para o Rossio, proferia aos ouvintes os argumentos já conhecidos, que culminaram no nome da manifestação: “Putin é um assassino”.

O megafone na mão de Timofey pouco amplificava as suas palavras, que eram difíceis de ouvir até para os que estavam mais próximos. As tradicionais férias de verão do mês de agosto trocaram as voltas ao organizador, que esperava a presença pelo menos 200 pessoas no protesto. Além de Lisboa e Porto, outras cidades do mundo também se juntaram à campanha internacional contra Putin. Em Portugal, quem encabeçou os eventos foi a Associação de Russos Livres, ligada à comunidade Free Russians Global e à organização Comité Anti Guerra da Rússia.

Tal como Timofey Bugaevsky, a maioria dos presentes eram russos a residir em Portugal. Estes traziam pequenas bandeiras azuis e brancas, livres do vermelho bolchevique, símbolo adotado pela oposição à invasão da russa à Ucrânia. Mais afastados do local onde foram proferidos os discursos, viam-se dissidentes iranianos com bandeiras em honra da antiga monarquia. Apesar do principal alvo ser o presidente russo, outras figuras estavam em xeque, como é o caso do Líder Supremo do Irão, Ali Khameini. “Os regimes ditatoriais estão a aumentar esforços e a ajudar-se uns aos outros. Nós devemos também juntarmo-nos para lutar contra eles. Quando um deles cair, os outros cairão de seguida. As pessoas nesses países estão à espera de uma história com final feliz”, disse Timofey à TejoMag.

2023_08_Aug_1462 “Se ele fosse o líder poderia ser um grande ditador”: russos unidos contra Putin em Lisboa num protesto apoiado por Navalny

Cerca de 30 manifestantes reuniram-se este domingo na Praça dos Restauradores para condenar a guerra / DR 

Enquanto em contexto de guerra os dois países se unem para fomentar o conflito através do fornecimento de armas por Teerão a Moscovo, a Ocidente os dois povos unem-se em prol da paz. Para os iranianos, Mahsa Amini é um símbolo de esperança, para os russos, a mudança reside em Alexei Navalny, o único opositor político a Putin. Foi a Fundação Anticorrupção (FBK), uma organização sem fins lucrativos que investiga e expõe casos de corrupção na Rússia, criada por Navalny em 2011, que iniciou o evento internacional a que se juntou Portugal, pela ligação à Associação de Russos Livres. Mas nem todas as atividades da Associação de Russos Livres são promovidas pela FBK. Timofey estabelece a diferença: “eles são políticos e nós somos ativistas”.

O dia da manifestação, 20 de agosto, foi escolhido exatamente por se tratar do terceiro aniversário do envenenamento de Navalny. Como referem os organizadores do evento na rede social Facebook, o objetivo foi “lembrar a existência dos detidos – Alexei Navalny e todos os prisioneiros políticos na Rússia”. No início do mês, o opositor russo que se encontrava a cumprir uma pena de 11 anos e meio de prisão, foi condenado a mais 19 anos de prisão pela justiça russa.

Tim Chernov, de 47 anos, saiu da Rússia cinco dias depois do começo da guerra. Teve de abandonar o seu país por apoiar a oposição. O manifestante conta que um dos seus melhores amigos foi preso apenas por ter partilhado uma publicação no Facebook sobre o que o exército russo fez em Bucha. “Mas eu não posso continuar calado se sou russo. Não posso dizer que não há guerra. Há guerra e Putin está a fazer coisas maléficas. Aqui posso falar e dizer Putin: tu és um ditador”. A descrição da cidade e da hospitalidade dos portugueses na obra Uma Noite em Lisboa, de Erich Maria Remarque fê-lo tomar a decisão de estabelecer-se cá.

Estar no protesto é uma das formas de ter voz. Se voltar para a Rússia pode ser preso ou obrigado a ir para a linha da frente. Ter abandonado o seu país não foi uma escolha fácil, diz Tim que continua a ver a família a cada três ou quatro meses, “quando têm dinheiro suficiente para os bilhetes”. Vir para Portugal foi uma escolha sem alternativa, da mesma maneira que apoiar Navalny também o é.

Na Rússia, Tim Chernov foi sempre a todos os protestos e até doava dinheiro à oposição. Mas admite que “se houvesse mais alguém para além de Navalny, talvez apoiasse outra pessoa”, prossegue. “Ele é o único líder da única oposição e tem as suas próprias ideias e imperfeições”. Para o russo, a falta de alternativas leva-o a questionar o rumo do país. “Se ele fosse o líder poderia ser um grande ditador; não sei… Ele tem muitos mais pontos positivos do que Putin. Agora é um tipo super simpático, mas se chegar ao poder ninguém sabe como será.”

Navalny quer “tornar a Rússia livre e por causa disso está na prisão. Está a abrir o regime através das suas fraquezas, com os seus programas, vídeos e pesquisas.”, reconhece Tim Chernov, justificando os motivos que o levam a defendê-lo. Segundo ele, haverá uma revolução. “Lenin era um homem muito zangado e motivado. Era um assassino em massa. Matou milhões e milhões de pessoas. Não acho que Navalny faria isso, mas é um revolucionário e isso é muito bom. É um magnata da revolução. Pode iniciar a revolução”. Porém, “não há nenhuma possibilidade que se faça como no 25 de abril. Não haverá flores. Tem de ser algo muito forte contra Putin, porque ele é muito poderoso”.

2023_08_Aug_1787 “Se ele fosse o líder poderia ser um grande ditador”: russos unidos contra Putin em Lisboa num protesto apoiado por Navalny

Manifestantes russos e iranianos uniram-se contra regimes ditatoriais / DR

Aos iranianos e russos, pelo menos quatro portugueses juntaram-se ao protesto. Todos com mais de 60 anos, como é o caso de Irene Guerreiro, de 78 anos e Christine, de 74, uma cidadã francesa a residir em Portugal há 50 décadas. Quando a pequena multidão estava a desmobilizar, as duas senhoras foram trocar dois dedos de conversa com os organizadores. Após ver as imagens do ataque de Moscovo a Cherniv na televisão e a informação de que um protesto ocorreria na Praça dos Restauradores, Irene nem pensou duas vezes. “Vim de propósito”, exclama. Descontente com o reduzido número de pessoas ali presentes, desabafa com os protestantes russos que os primeiros protestos tiveram muito mais impacto e amplitude. Relembra as iniciativas em frente a Embaixada da Federação da Rússia e da juventude a gritar “abaixo a guerra”. “Agora não há tanta pressão, mas devia de haver, porque a guerra está a intensificar-se”.

Christine, veterana em manifestações contra guerra, inclusive contra a Guerra do Vietname, reforça a necessidade de se chegar a mais pessoas:“faz-me confusão ver tão pouca gente. A divulgação é muito importante junto dos sindicatos, nas escolas, no metro, na rua”. Terminada a conversa, Irene Guerreiro não deixa de comentar: “Vou triste. Gostava de ver mais entusiasmo contra Putin”.

Identitários e conservadores portugueses abraçam nacionalismo galego

A história de Portugal e da Galiza está intrinsecamente ligada. Após a separação entre o Condado Portucalence e o Reino da Galiza, os dois países seguiram caminhos diferentes. No entanto, os laços identitários e culturais estão tão presentes como dantes. Primeiro com Primo de Rivera, depois com Francisco Franco, a extrema-direita espanhola nunca soube lidar com o nacionalismo galego, rejeitando-o por completo. Ao longo do regime do caudilho Franco, o galeguismo, um movimento político e cultural que promove a identidade galega, foi refreado e desencorajado. Passados 87 anos, a extrema-direita na Galiza não colhe a simpatia dos locais. Há dois meses, nas eleições regionais, o Vox de Santiago Abascal só conseguiu 1,4% do total de votos, sendo o único parlamento em Espanha sem presença dos populistas. Contudo, isso não significa que a Galiza seja imune a fenómenos mais radicais.

A capital dos neonazis

Em 2001, Xosé Carlos Ríos Camacho, um professor de ensino secundário, fundou o Movimento Resistência Ariana (M.R.A). Um ano depois, foi acusado por alguns dos seus alunos após “elogiar Hitler”. Na altura, os estudantes disseram ao jornal La Voz de Galicia que as suas ideias eram disruptivas e que “não aprendiam com ele”. O M.R.A era um grupo assumidamente nazi, que repudiava o franquismo e defendia a “dissolução dos Estados actuais” em prol de uma “Europa de nações soberanas, unidas por laços de sangue e cultura”. Numa publicação intitulada “Portugal é Gallaecia“, Camacho rejeita por completo a ideia de Portugal como uma nação separada e defende que a verdadeira identidade do país baseia-se numa extensão territorial que engloba o norte de Portugal, as Astúrias e Leão. O M.R.A pretendia, acima de tudo, voltar à divisão geográfica que os romanos desenharam, onde se incluía o convento bracarense. A capital dessa entidade administrativa era Bracara Augusta, actualmente conhecida como Braga.

58 Identitários e conservadores portugueses abraçam nacionalismo galegoAniversário de Hitler  (Fonte: Blogue M.R.A)

De acordo com a VICE Espanha, “o M.R.A foi associado ao Identidade Galega”, um partido que se assume como identitário e antiliberal. Segundo a mesma fonte, alguns membros migraram para o Movimento Social Republicano (M.S.R), um partido de ultra direita espanhola com ligações ao Partido Nacional Renovador (PNR), actual Ergue-te. Quanto aos activistas do M.R.A, apostaram na presença online em fóruns como o Stormfront, de cariz nacionalista, mas sem sucesso. Um dos seus seguidores era… um português. Carlos Carrasco foi do CDS, presidente da Assembleia do Movimento de Oposição Nacional, nº4 da lista do PNR à Câmara Municipal do Barreiro em 2017 e antigo Vice-Presidente da Distrital de Setúbal pelo Chega. Segundo foi possível apurar, a lista de seguidores do M.R.A era composta por mais cinco portugueses. Ele e mais duas pessoas seguiam um blogue chamado Acção Social Portuguesa, um movimento que juntava democratas cristãos, monárquicos e nacionalistas. A 3 de Maio de 2010, o grupo publicou o seu manifesto, identificando-se como a “tendência da direita nacionalista no CDS-PP”. Apesar de tudo, o grupo negava qualquer inclinação racista. “Ao contrário de outros movimentos nacionalistas, nós optamos por não apoiar a violência entre diferentes raças”, escreveram. A TejoMag contactou o CDS, mas até à hora de fecho desta edição, não obteve qualquer resposta.

Finisterra a Vladivostok

Actualmente, os nacionalistas galegos mantêm viva a memória da organização juvenil Ultreia, fundada na década de 1930 por Álvaro Casas. Com quase 300 membros, esta iniciativa tinha tudo: a estética fascista, a iconografia celta e o fervor patriótico. Os uniformes brancos com o trisquel vermelho (símbolo celta), os calções pretos, as meias altas e o sapato bicudo, moldaram o imaginário de uma geração presa a um passado que não viveu. Um dos seus sucessores adoptou o nome e o ideário. O movimento Nova Ultreia nasceu em Novembro de 2020 e está na linha da frente na luta contra o Estado central espanhol, contra a “miscigenação” e contra a “globalização.

De acordo com a sua página oficial, os identitários galegos são contra a chamada “Nova Ordem Mundial”. Adoptado pelos negacionistas, este termo pressupõe a existência de uma elite governativa que pretende implementar um governo totalitário mundial. Segundo a TejoMag apurou, o Nova Ultreia sonha com um “imperium” que se estende da Finisterra a Vladivostock. Este ano, Dmitry Medvedev, o antigo presidente da Rússia, expressou uma visão semelhante: “o objectivo é a paz das futuras gerações dos próprios ucranianos e a oportunidade de finalmente construir uma Eurásia aberta de Lisboa a Vladivostock“. Em ambos os casos, a conquista do Velho Continente começa na Galiza e em Portugal respectivamente. A TejoMag quis saber se, tal como o M.R.A, o Nova Ultreia rejeita a ideia de nação portuguesa, mas não obteve qualquer resposta.

15 Identitários e conservadores portugueses abraçam nacionalismo galegoGrafitti do movimento Nova Ultreia. (Fonte: Telegram)

Entre 22 de Março de 2022 e 21 de Julho de 2023, a palavra Portugal aparece em 146 publicações. Dessas, 52 são retiradas de canais de Telegram portugueses, como o Invictus Portucale, Ciência Racial, Propaganda Anti-Branco, Perspectiva Identitária, Vanguarda, Bom Europeu e Bitaites Fascistas. A maioria expressa ódio em relação às comunidades africana, brasileira, LGBTI+ e judaica. À semelhança de outras organizações, como o Escudo Identitário – que a Europol reconheceu ser próximo de grupos neonazis – o movimento Nova Ultreia pronuncia-se a favor da “unificação europeia” e teme que a comunidade autóctone seja substituída por imigrantes.

Segundo um estudo publicado pela Comissão Europeia, a pedido do Comité LIBE, encarregado de proteger as liberdades civis e direitos humanos, o fenómeno da extrema-direita “não está a diminuir, mas sim a aumentar a sua importância, quer pelo aumento do número de pessoas e grupos considerados extremistas de direita, quer pelo impacto crescente que têm na sociedade”. Como já aqui foi referido, a maioria da população galega e portuguesa rejeita o extremismo e valoriza a diversidade, a coexistência pacífica e o respeito pelos direitos humanos. A questão que se impõe é: até quando?