A 23 de fevereiro de 2022, milhões de ucrianianos adormeceram em paz e acordaram, na manhã seguinte, com a sua nação destruída pela guerra. Os pedidos de ajuda multiplicaram-se e o que outrora pareceu um futuro de céu azul, rapidamente se transformou num pesadelo. Para muitas famílias, fugir foi a solução. Os jovens, que, como se costuma dizer, são o futuro, viram-se obrigados a repensar o que seria do dia seguinte. Muitos deles chegaram, por meio de auxílio, a Portugal, para tentar recomeçar a vida que deixaram, na Ucrânia, em standby.
No ano passado, foram cerca de 14 mil os jovens ucranianos que cá chegaram – quase todos menores de idade. Deixaram tudo para trás em busca de um país onde não se ouvisse o som de explosões. Em declarações à TejoMag, Pavlo Sadokha, presidente da Associação Dos Ucranianos em Portugal (AUP), esclarece que só 4 mil foram matriculados no ano letivo de 2022/2023. A análise feita pelo Alto Comissariado para as Migrações mostra que “os restantes estão em situação desconhecida”.
Para eles, o cenário é de indecisão, explica-nos Pavlo. Se, por um lado, querem acreditar que ainda existe a possibilidade de regressar à Ucrânia, por outro, a situação de guerra não lhes permite. “Estão numa situação vulnerável em que não sabem qual será o seu futuro”, sublinha.
A barreira linguística é o maior obstáculo à sua integração. Em Portugal, quando chegam à escola, têm aulas adicionais de língua portuguesa para estrangeiros, mas, como o objetivo é voltar ao país que os viu nascer, e não cá ficar, “colocam, imediatamente, um entrave à aprendizagem”. No caso daqueles que ingressam no ensino superior, o panorama é ligeiramente diferente, visto que a maior parte dos jovens ucranianos domina o inglês, justifica o presidente da AUP.
“A reconstrução da Ucrânia vai demorar anos, por isso não esperamos que estes jovens consigam regressar. Eles cada vez mais começam a perceber isso e a mudar a sua visão em relação ao futuro”.
Um ano depois de se ter instalado a guerra, Pavlo acredita que estes jovens começam agora a encontrar amigos, vizinhos e ambientes que os ajudam na inclusão, “motivando-os para aprender o português, com a finalidade de se integrarem”.
Salienta, mais uma vez, a importância de aulas de língua portuguesa – “isto é o básico para a adaptação”. Outro ponto de relevo, reforça, é o ambiente criado pelos professores e colegas, e a sua atitude perante os imigrantes ucranianos.
“Portugal tem uma sociedade solidária, é um bom exemplo de como acolher refugiados”, destaca.
O país vive um momento de crise – consequência, em grande parte, da guerra na Ucrânia, “mas os portugueses reconhecem que isto não é um problema causado pelos ucranianos, mas sim pelo lado de quem é agressor”. À comunidade, pede, sobretudo, paciência e que continuem a ajudar, porque “a guerra não irá terminar daqui a um ano, nem os efeitos causados por ela serão brevemente resolvidos”.
Ao Governo, às instituições e à sociedade civil, recomenda que incluam, neste processo de integração, os ucranianos que chegaram a Portugal por volta do ano 2000, já que “estão ambientados, conhecem o país e a língua, e podem ser muito úteis para a adaptação destes refugiados que fogem ao perigo”.
Recorde-se que houve, no início do século XXI, uma outra vaga de imigração ucraniana em Portugal, pautada por questões financeiras. Espalharam-se pela Europa e vieram para Portugal à procura de trabalho. “A diferença é que os jovens que cá chegaram, na altura, com os seus pais, tinham o objetivo de ficar e construir aqui o seu futuro”, distingue Pavlo.